Marília Parente mistura rock, cultura nordestina e psicodelia. Vale a pena ouvir!

Por Yuri Euzébio

Você precisa ouvir Marília Parente. Poderia encerrar esse texto aqui, mas tenho espaço para te convencer disso. Expoente da nova cena musical independente pernambucana, a cantora mistura regionalismo, cultura popular, rock’n’roll, psicodelia e até mesmo ritmos orientais em seu som. Apesar de jovem, carrega desde já um discurso contundente em sua fala e a consciência do espaço que ocupa. A coluna teve o privilégio de conversar com a cantora sobre o show de lançamento do seu primeiro CD solo, “Meu céu, meu ar, meu chão e seus cacos de vidro”.

Na noite desta quinta-feira, a artista pisará no palco do Teatro Arraial com o desejo de surpreender quem estiver na plateia. “Minha expectativa é a melhor possível, produzimos um espetáculo bem interessante e estimulante não só em termos musicais, mas em visuais também”, assegurou a compositora. “Eu acho que além de um show, é um espetáculo mesmo que nós preparamos”, defendeu.

Artista independente, Marília Parente enfrenta grandes obstáculos desde que começou a carreira, mas nada que tenha diminuído sua vontade de produzir ou seu amor pela música. “Hoje em dia, fazer música é um processo muito caro, imagino que as outras artes também possam ser, mas no caso da música dependemos de equipamentos custosos, de estúdio, de outros profissionais”, explicou. “O tipo de música que eu faço também é muito coletivo, então tem também uma banda. Precisamos também financiar alguns processos multimídia.”, continuou. “O momento pra cultura também tá bem ruim, então fazer música independente e autoral hoje no Brasil é uma forma de resistência”, concluiu a cantora.

A musicista carrega no seu som, a soma de suas vivências e as influências de sua trajetória. “A música regional sempre foi muito forte pra mim, porque embora eu tenha nascido em Recife, toda a minha família é de Exu, do sertão e eu fui morar muito nova lá com os meus avós. As minhas primeiras lembranças são de lá, do interior”, elucidou a jovem artista. “Minha família cuida do Museu do Gonzagão lá em Exu, meu avô trabalhou com Luiz Gonzaga durante muito tempo e eu, desde nova criada nessa ambiente, conheci Dominguinhos pequena ainda, então eu acho que essa coisa da música nordestina sempre esteve muito presente em mim, nas minhas vivências”, refletiu.

A naturalidade com que Marília mistura ritmos em sua música chega a impressionar, talvez seja porque ela demonstra ter um entendimento mais amplo dos ritmos, entrelaçando regional e universal com a mesma simplicidade com que conversou com a coluna. “Na história da música, a origem do Nordeste tem uma conexão muito grande com o Oriente, muitas das escalas nordestinas tem uma origem oriental. Por exemplo, os aboios dos vaqueiros são muito similares ao que se canta em países árabes”, esclareceu. “Por outro lado, a  cidade, a vida urbana traz outra série de influências pro nosso trabalho, por exemplo, eu sou fã do Clube da Esquina e dos Beatles”, valorizou.

Em tempos de popularização do spotify, crise fonográfica e álbuns digitais, a cantora pernambucana vem na contramão de tudo e promove o lançamento de um CD em mídia física. “Eu senti a necessidade porque hoje em dia a minha geração – eu tenho 25 anos de idade – é muito ansiosa e isso tem a ver com um interesse de mercado, com uma grande demanda criada pra nós competirmos com máquinas”, esclareceu. “Tudo hoje em dia está numa dimensão etérea, nessa tal nuvem e nós não temos mais nada armazenado pra gente, não armazenamos nem mais a nossa memória, não temos mais nossas fotografias, nossos discos. É uma relação muito mais descartável com tudo”, continuou. “Você não tem mais a concentração de parar pra ouvir um disco, você parar ali para ver o encarte, ouvir o álbum inteiro, é outra experiência com o produto cultural. Então as pessoas que adquirirem esse disco vão poder construir até uma relação afetiva com ele, porque eu acho que a presença, você ter o disco ali na estante, essa coisa eu acho que é o que pesa”, concluiu.

Espécie de Janis Joplin do Sertão, Marília Parente caminha com passos firmes para se estabelecer como uma das vozes mais potentes da nova geração da música pernambucana. Dê uma chance, basta isso.

Serviço// Show Lançamento de “Meu céu, meu ar, meu chão e seus cacos de vidro”

Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista, Recife)
Quando: 05/09, 20h
Ingressos: R$ 20, disponíveis na bilheteria do teatro a partir das 18 horas

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