Paraíba masculina, cabra macho, sim senhor! (por Marcelo Alcoforado)

O que você faria se visse uma maleta em um canto qualquer de um local público, muito movimentado? O guarda civil Sebastião Thomaz de Aquino fez o que lhe cabia: apanhou a maleta e tentou conduzi-la à seção de achados e perdidos existente no local. Não chegou ao seu destino. Deu alguns passos e a valise simplesmente explodiu. Em volta, o caos. Gritos, sangue, feridos e mortos. Naquela manhã de 25 de julho de 1966, a tragédia não se limitava somente à desclassificação na Copa da Inglaterra, ocorrida uma semana antes. Estava bem mais perto, no Aeroporto dos Guararapes.

A maleta continha nada menos do que uma bomba destinada ao general Costa e Silva, então candidato a presidente da República, que viria ao Recife, mas, pelos caprichos da sorte ou por zelo de sua segurança, o avião em que viajava aterrissara em João Pessoa.

O saguão do aeroporto parecia filme de terror. A morte levara o poeta e jornalista Edson Régis e o almirante Nelson Gomes Fernandes; e cerca de 15 pessoas estavam feridas, caso do guarda civil que encontrara a maleta. Teve uma perna amputada.
O que os zagueiros adversários não conseguiram fazer ao longo da carreira daquele guarda, tirar com pontapés aquele jogador de campo, a luta armada conseguira. Para sempre ele estaria fora de combate.

Paraíba foi um centroavante impetuoso, desses que não temem as deslealdades das defesas adversárias. Fez sucesso no Santa Cruz, no São Paulo e no futebol português, isso em um tempo em que as transações de jogadores, especialmente as internacionais, não eram corriqueiras como nos dias de hoje. Não foi um craque, é verdade, mas sempre esteve confortavelmente distante de ser um jogador qualquer.

Para começar, tinha uma bomba nos pés, mas uma bomba que só fazia mal às redes adversárias e não às pessoas. Era um chute tão forte que a crônica esportiva o cognominou de O Canhão do Arruda, aludindo ao bairro da sede social e do estádio santa-cruzense. Vestindo a camisa tricolor ele fez nada menos que 105 gols em cinco temporadas, o que não é pouco, e ficou eternizado como um dos maiores nomes da história do time coral.

No entardecer do dia 31 de julho, cinco dias após o aniversário da trágica explosão, o guarda civil Sebastião Thomaz de Aquino, 86 anos, foi sepultado. Já o atacante Paraíba, dedicado jogador e torcedor do Tricolor, continua vivo na lembrança dos que o viram jogar e desferir petardos que faziam a torcida explodir, mas só de alegria.

Paraíba: cabra macho, sim senhor! 3×1 em cima do Timbu e 3×2 contra o Leão, sagrando-se o primeiro supercampeão do Estado, feito que se repetiu em 1976 e 1983. Na época, os três times da capital investiram forte em reforços e montaram verdadeiras seleções, tanto que, no dia 5/5/1957, o Diario de Pernambuco estampava nas suas folhas uma crônica de Fausto Neto que citava “a corrida louca e desenfreada dos clubes grandes desnorteou financeira e tecnicamente o futebol local”. Além das estrelas da equipe coral, como o treinador argentino Alfredo Gonzalez e os atletas Lanzoninho, Rudimar, Faustino, Mituca, Aldemar, Sidney e Aníbal, outros jogadores também foram importantes na conquista tricolor. O atacante Paraíba, que marcou nove tentos durante a competição, foi um deles.

Sebastião Tomaz de Aquino nasceu em Ingá (PB) em 1931. Chegou ao Arruda aos 18 anos de idade e passou cinco temporadas vestindo a camisa tricolor. Logo depois se transferiu para o São Paulo, teve uma passagem pelo Salgueiro (Portugal), e voltou para o Santa, em 1957, quando conquistou seu primeiro título no clube que aprendeu a amar desde criança.

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