Cinema e conversa

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Wanderley Andrade

Virada Cultural reúne artistas pela reabertura do Teatro do Parque

Há exatos 102 anos, no dia 24 de agosto de 1915, era inaugurado no Recife um espaço que se mostraria de grande importância para a arte em suas diversas expressões: o Teatro do Parque. Mas o tempo passou, e com ele o período áureo do lugar, fruto do abandono e descaso do poder público. Fechado desde 2010 para reformas, seu retorno ainda é uma incógnita. Na terça (22), a prefeitura do Recife lançou no Diário Oficial uma licitação para a contratação de uma empresa que dará continuidade à obra. Todo o processo licitatório terá um prazo de 60 dias.

Indignados com a atual situação desse importante equipamento cultural, artistas promoverão no sábado (26) uma Virada Cultural em prol da reabertura do espaço. A manifestação conta com o apoio de nomes como Tony Ramos, Ary Fontoura, Antônio Pitanga e Bruno Garcia. E para falar sobre o encontro, conversei com um dos organizadores da virada, o ator e diretor de teatro Diogenes Lima.

 

Como surgiu a ideia da Virada Cultural?

A ideia da virada surgiu da minha indignação pela reabertura do Armazém 14 como casa de shows (privada). O Armazém 14 era um teatro nosso que fechou para reforma, não podia ter sido vendido ou doado ao setor privado. Quem a prefeitura consultou para fazer isso?! A partir desse fato, propus aos colegas da classe produzir uma virada cultural em prol da reabertura do Parque com o mote de não deixar que aconteça o mesmo com esse patrimônio nosso.

Como será o evento?

O evento acontecerá no sábado (26), das 10h às 22h, e será repleto de atrações e atividades artísticas das mais variadas linguagens (música, teatro, dança, literatura, cinema, poesia, tudo que o teatro do parque acolhia, estará nesse ato). Teremos quatro polos que chamamos de “parques”: PARQUE HENRIQUE CELIBI, onde será o palco principal, na frente do teatro. PARQUE MUSICAL SOM DA RURAL, que estará situado a frente das casas Bahia. PARQUE CLARICE LISPECTOR, destinado à poesia e literatura, que será na praça Maciel Pinheiro e O PARQUE FIRMO NETO, na esquina da imperatriz com rua do hospício, onde a partir das 18h, serão exibidos filmes. Nomes da nossa cena cultural passarão por lá: DJ Dolores, Cannibal, Os Caetanos, o ator José Pimentel, entre outros.

O que representa para a cultura local a reativação de um equipamento cultural do porte do Teatro do Parque?

O Teatro do parque representa a manutenção de nossa cultura e arte. Somente num teatro pode-se ver música, dança, literatura e artes cênicas, por exemplo, às vezes tudo junto num só espetáculo. Um teatro como o do Parque, que tem como principal característica o acesso a camadas mais populares, estando fechado, é um desserviço, um atentado à sociedade. Onde está a juventude que lotava o teatro do parque para assistir a filmes por 1 real ou espetáculos de raça na época do Todos com a Nota??? Respondo: está na criminalidade ou na ociosidade intelectual.

Como você descreveria sua relação com o Teatro do Parque?

Faço teatro desde os 15 anos, já tenho 34 e o Teatro do Parque sempre foi minha área de trabalho, de encontros e lazer. Sempre que se marcava reuniões e encontros era no jardim do teatro ou em seu salão espelhado. Toda segunda, quando conseguia comprar ingressos, assistia a filmes. Quando não estava me apresentando, ia ver à peças e shows de música. Tudo barato, acessível e de muita qualidade, com artistas renomados. Vendo o Recife hoje, parece que vivi em outra cidade na minha adolescência e juventude. Hoje só se vê cinema e shows se se tiver muita grana. Até o carnaval estão pasteurizando. Atualmente ou se tem dinheiro, ou não se tem acesso a entretenimento nessa nossa cidade. Uma lástima! Mas vamos mudar isso com ações como a virada.

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*Por Wanderley Andrade, jornalista e crítico de cinema

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