Cine PE 2018 começa com manifestações políticas

*Houldine Nascimento, especial para a Algomais

A 22ª edição do Cine PE teve início nessa quinta-feira (31), no Cinema São Luiz, na Boa Vista, centro do Recife. Mais curto em razão da crise de abastecimento que parou o Brasil, o festival foi adiado por dois dias e passou a ter entrada gratuita. A abertura refletiu as tensões que acometem o país. A política se fez presente na plateia e nos discursos de cineastas.

Do público, foi possível ouvir diversos gritos de “fora Temer”, protestos contra o prefeito do Recife, Geraldo Julio, e vaias à Rede Globo, uma das instituições que apoiam o evento. Espirituosa, a jornalista Graça Araújo, que apresenta o Cine PE desde a primeira edição, conseguiu contornar com leveza e bom humor o clima pesado. “Daqui a pouco, eu vou pensar que essas vaias são para mim”, disse, arrancando risos e aplausos dos espectadores.

Ao subir ao palco, o diretor e pesquisador Marcos Buccini, que compete na mostra de curtas pernambucanos com a animação “O consertador de coisas miúdas”, fez críticas ao Governo Federal e se solidarizou com o cineasta Kleber Mendonça Filho, notificado pelo Ministério da Cultura para devolver R$ 2,2 milhões referentes a recursos captados para a realização de “O som ao redor” (2013). “A gente precisa prestar atenção ao sucateamento da cultura e educação que está acontecendo no país. Queria também deixar meu apoio a Kleber Mendonça Filho, vítima de perseguição simplesmente porque expôs esse governo golpista que está aí”, declarou.

Buccini também lançou o livro “História do cinema de animação em Pernambuco”. A obra é fruto de uma tese e faz um apanhado da produção de animação no estado. Cada exemplar está sendo vendido por R$ 20. “Meu trabalho não foi só catalogar, mas também discutir questões de mercado”, explicou.

Ainda pela mostra local, houve a exibição do curta “Dia um”, de Natália Lima. Na competição de curtas nacionais, “Marias” (RJ) documenta a dura trajetória de cinco mulheres vítimas de violência de seus ex-companheiros. Uma das personagens retratadas é Cristiane, mãe da diretora Yasmim Dias, morta pelo marido. “Eu transformei a minha dor em luta. Hoje, sigo em frente”, falou Yasmim, emocionada. O filme foi ovacionado.

“Sob o delírio de agosto” (PE), de Carlos Kamara e Karla Ferreira, tem a cidade de Orobó como cenário e aborda como pano de fundo a esquizofrenia, retratada na figura de Severo (Bruno Goya). Já “Abismo” (RJ), de Ivan de Angelis, narra de forma cômica a situação de um porteiro (Jurandir de Oliveira) às voltas com o elevador do edifício em que trabalha. Tanto Kamara quanto De Angelis protestaram contra o presidente Michel Temer.

Fora de competição, o curta de animação libanês “Desculpe, me afoguei”, de Hussein Nakhal e David Hachby, foi produzido pela ONG Médicos sem Fronteiras e retrata a fuga dos refugiados sírios para sobreviver. Comovente, a obra partiu de uma carta encontrada junto ao corpo de um refugiado que naufragou no Mar Mediterrâneo. O último filme da noite foi o longa “Mulheres alteradas”, de Luís Pinheiro, estrelado por Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi e Maria Casadevall.

HOMENAGEM – A diretora pernambucana Katia Mesel foi homenageada pelos 50 anos de carreira. Coube ao secretário de Cultura de Pernambuco, Marcelino Granja, entregar a Calunga de Ouro à cineasta. “Quero dedicar uma parcela dessa homenagem às mulheres porque, nesses 50 anos, eu vi o foco mudar. Antes, as mulheres no audiovisual eram basicamente atrizes. Hoje em dia, elas desempenham todas as funções dentro do mercado cinematográfico. Cinema não se restringe mais a um só gênero”, pontuou.

O Cine PE segue nesta sexta-feira (1º) com homenagem à atriz Cássia Kis e exibição dos curtas “Uma balada para Rock Lane” (PE), “Teodora quer dançar” (RJ), “Balanceia” (RO), “Banco Brecht” (PE) e dos longas “Christabel” (RJ) e “Os príncipes” (RJ). O festival vai até 5 de junho.

*Houldine Nascimento é jornalista

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