Do lilás à púrpura – A arte de escrever fácil

(*) Paulo Caldas

Durante a leitura de “A flor lilás e outros contos” (Cepe Editora), de Ricardo Braga, com projeto gráfico de Luiz Arraes, livro vencedor do terceiro prêmio Cepe Nacional de Literatura – contos, o leitor, sem qualquer cerimônia, senta à mesa com o autor, pede um chope e escuta de Ricardo Braga, entre uma e outra tulipa, o conteúdo de cada conto em clima de conversa amena, tal a elogiável simplicidade da narrativa, virtude que por certo contribuiu para este livro conquistar um prêmio tão concorrido.

O narrador, ora na terceira ora na primeira pessoa, tempera os textos nem sempre atento à síntese ou detalhes exigidos pela severidade dos críticos apegados à rigidez estética. Contudo, o livro carrega o matiz das flores: suavidade cor-de-rosa, sisudez púrpura, encanto amarelo, passividade branca e a paixão vermelha. Ao olfato exala perfume quando rege sentimentos, emoções e se faz acre quando carregado de angústias, conflitos e pecados que estigmatizam personagens.

Marcado pelo impulso, Ricardo Braga tece metáforas precisas, alegorias sutis, símiles originais. Os dramas do ser humano, o medo e a coragem, o belo e o horrendo, a certeza e a dúvida transpassam as tramas engendradas e se mostram inteiros nos contos “Presença no mundo”, “O pai que não conheço” e “Palmares”. A linguagem coloquial, no sotaque próprio de “pernambuquês”, na voz dos personagens, é bem colocada quando o diálogo requer tal artifício.

O retrato do emocional do protagonista em “O pai que não conheço”, por exemplo, é comovente sem pieguice, absolutamente natural. A construção dos cenários, discreta em vários momentos, ganha força em “A flor lilás” e na cena destacada pelo gestual dos personagens, traz um toque de lirismo, instante em que o texto se faz sensual, abraça a ansiedade do leitor e o autor sente o afago correspondido.

(*) Escritor

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