Espetáculo recifense faz um convite à inclusão

O Resta 1 Coletivo de Teatro leva o espetáculo Alguém pra fugir comigo ao palco do Teatro Marco Camarotti, nos dias 29 e 30 de setembro. A peça, com direção de Quiercles Santana e Analice Croccia, mescla acontecimentos históricos e atuais a partir de três eixos: desigualdade, resistência e laços afetivos, para falar da injustiça cotidiana presente em vários grupos sociais no Brasil. E entre a imensa parcela da população brasileira que trava uma batalha diária por condições dignas, está o cidadão com deficiência. E como setembro é o mês que marca a luta desta população por direitos e cidadania, o grupo traz ao palco tradutores de Libras (Língua Brasileira de Sinais). “Se o acesso à cultura está cada dia mais difícil à população, imagine para quem é cadeirante, surdo, ou cego. Esta é a nossa contribuição no que se refere ao direito que esses cidadãos têm de usufruir da rica produção de seu país”, explica Ana Paula Sá, produtora da obra. A peça tem classificação etária de 14 anos, com ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Membros de sindicatos e movimentos sociais têm gratuidade, mediante agendamento prévio, com vagas limitadas. Estudantes, professores, artistas e idosos têm direito à meia-entrada.

“Alguém pra fugir comigo” trata do bruto e o injusto que existe no nosso cotidiano, desde as coisas mais simples. Sendo assim, não poderia deixar de contemplar um público que geralmente não encontra uma estrutura adequada que o permita usufruir de seus direitos como qualquer outro cidadão. A premissa parte dos direitos culturais, instrumentos legais proclamados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada em 1948 pela ONU, e reconhecidos em 2001 como parte indissociável dos direitos humanos, imprescindíveis para o fortalecimento democrático. “Portanto, quando falamos no rico potencial de nossas expressões culturais, precisamos levar em consideração que ele deve ser usufruído e cuidado por todos, sem exceção. É preciso promover condições para receber pessoas com deficiência, seja motora, auditiva ou visual nas mostras, nos teatros, no cinema… Dentro dos recursos que o artista possui, prezar pelo mínimo de acessibilidade possível é algo que todos deveriam fazer, e oferecer a possibilidade de uma tradução em tempo real para a língua de sinais é o mínimo que podemos fazer”, afirma Ana Paula.

Espetáculo que propõe reflexão

A obra não apresenta uma narrativa com começo, meio e fim, mas se mostra como um mosaico de vários fragmentos, separados pelo tempo, e unidos pelo mesmo contexto de corrupção, discriminação, ignorância e solidão. “É um espetáculo sobre não ter lugar certo, sobre o massacre sofrido a cada novo dia, as injustiças, a democracia de fachada, a liberdade ferida, os séculos de escravidão perpétua. É sobre fugas e sonhos desejados. Sobre o poder de subversão do corpo, da voz, da vida que se nega a ceder aos ditames das oligarquias. Isso tudo com humor e coragem. Sem panfletos”, revela o diretor Quiercles Santana.

E justamente pelo teatro ser uma força de reflexão e questionamento num país onde nem todos têm acesso à cultura, o Resta 1 toma para si a responsabilidade de ampliar as chances do público conferir o espetáculo. Estudantes, professores, artistas e idosos têm direito à meia-entrada. Membros de sindicatos e movimentos sociais podem adquirir convites gratuitos sob um número limitado de vagas, mediante agendamento prévio com o coletivo. “Estamos encenando esta temporada num momento bastante oportuno em nossa história, no auge de um processo político bastante turbulento, às portas de uma eleição. Portanto, nada mais urgente do que olhar para o nosso próprio histórico de mazelas, a fim de reacender nossa empatia e tomada de consciência sobre o respeito e a dignidade que todos merecemos, sem exceção. Por isso, estamos fazendo a nossa parte enquanto artistas, enquanto agentes da subjetividade que toca nossos anseios, dúvidas e sonhos mais íntimos. É importante e muito necessário dar chance a todos que quiserem assistir a peça”, completa Quiercles.

Histórico

O espetáculo estreou no 23° Janeiro de Grandes Espetáculos, onde levou 5 prêmios APACEPE, e reforçou o seu caráter de amplificador da reflexão promovida pela arte, ao adaptar o texto nos mais diversos locais, como teatro em casa e apresentação para comunidades quilombolas no agreste pernambucano. De janeiro de 2017 até agora já foram quatro temporadas, com participação em dois festivais internacionais, além do Trema! Festival de 2018.
Na primeira metade de 2018, o Resta 1 dedicou-se aos intercâmbios criativos com outros grupos, com vistas à pesquisa continuada e montagem de outros trabalhos, sempre em processo colaborativo. O primeiro deles, com o grupo português Gambuzinos com 1 pé de fora, resultou na montagem do segundo espetáculo do jovem coletivo recifense, intitulado A Mula, inspirado no Auto da Mula de Padre, texto de Hermilo Borba Filho, e também no convite para apresentar o Alguém pra fugir comigo em Portugal, no encerramento do Ao Teatro! 2018, com solicitação de sessão extra, tamanho interesse despertado. Em seu retorno à capital pernambucana, o Resta 1 teve a oportunidade de interagir com o grupo mineiro Quatroloscinco Teatro do Comum, a convite do Festival Palco Giratório, cujo diálogo foi instigante e inspirador.

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