“Me chame pelo seu nome” e um inusitado primeiro amor

*Houldine Nascimento

Afastado do cinema desde 2009, James Ivory planejava retornar com uma adaptação de “Me chame pelo seu nome”, romance de estreia do autor egípcio-americano André Aciman. Ele viu potencial nesta história que mostra, entre outros pontos, o desabrochar da sexualidade de um jovem de 17 anos durante o verão italiano de 1983.

O que se esperava era que Ivory – responsável pelo roteiro – também estivesse na direção, mas ele acabou desistindo e, assim, o projeto foi parar nas mãos de Luca Guadagnino (“Um sonho de amor”). Ambientada no norte da Itália, a trama do filme homônimo Me chame pelo seu nome (Call me by your name, 2017), em cartaz nos cinemas do Brasil a partir desta quinta-feira (18), se concentra no inesperado relacionamento de Elio (Timothée Chalamet), filho único da família americana Perlman, com um homem mais velho, o que representa seu primeiro amor.

Membro de uma família intelectualizada, e de ascendência ítalo-francesa, Elio passa o verão fazendo transcrições de música clássica e se divertindo com garotas de sua idade. É nesse período que seu pai (Michael Stuhlbarg), um especialista em cultura greco-romana, costuma receber acadêmicos para auxiliá-lo em pesquisas. Desta vez, quem chega é um rapaz americano de 24 anos, Oliver (Armie Hammer). Uma visita a princípio insignificante, o hóspede vai despertando aos poucos a curiosidade do protagonista.

Não há muito que fazer na pacata vila e a convivência vai ficando cada vez mais forte, especialmente pela afinidade existente entre os dois, de passeios de bicicleta à ligação afetiva por serem judeus e longas conversas. Antes de a relação se concretizar, eles se envolvem em namoricos com algumas moças.

A velocidade dos acontecimentos segue o estilo europeu, por vezes lento e disforme. O relacionamento dos protagonistas é visto com delicadeza e opta pela sensualidade ao invés da nudez explícita, apesar da malícia presente em determinadas cenas. Há pouco espaço para os personagens secundários, como o casal Perlman, feito por Michael Stuhlbarg e Amira Casar, mas eles passam segurança na pequena participação que fazem.

Já a atuação de Timothée Chalamet surpreende ao sair de uma aparente displicência para uma entrega completa. Pelo desempenho, ele tem sido reconhecido com indicações aos principais prêmios da temporada, como Globo de Ouro, Bafta e SAG. A expectativa agora é de que também seja nomeado ao Oscar.

Uma curiosidade é que um dos produtores envolvidos é o brasileiro Rodrigo Teixeira (“A bruxa”), que tem apostado com muita ousadia e inteligência em boas produções independentes dentro e fora do país. Foi justamente a partir da entrada dele que o projeto, que esteve perto de não acontecer, saiu do papel.

De uma carreira inicialmente tímida em festivais no começo de 2017, Me chame pelo seu nome foi ganhando força e é uma das produções cotadas para disputar o Oscar de Melhor Filme este ano. Quem se dispor a ver o filme sem amarras tende a se envolver com esta sutil e incomum história de amor.

*Houldine Nascimento é jornalista

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