Poeta nascido poeta (Por Paulo Caldas*)

Vencedor de concursos literários, em especial no gênero prosa, Rômulo César Melo também se garante quando envereda pelos labirintos da poesia. Consciente, seguro, ousado, não precisou do novelo de Ariadne,  que nem Teseu, para assegurar o caminho da volta, pois, claro, não terá volta.

O poeta nasce poeta, sugere em O aviso, poema de abertura do seu livro Bad Trip  – Cartonera Aberta (edição de Wellington Melo, programação visual de Patrícia Cruz Lima, tiragem de 150 exemplares numerados), e nascido poeta não precisaria, mesmo sendo esta a sua primeira visita, de anúncio ou sequer bater à porta do olimpo da poesia pernambucana, habitada por Orfeus, Horácios, Homeros, Safos  e  outros poetas nascidos poetas.

 

Quem concebe versos maduros, “ser poeta/ antes de tudo/ é sofrer de palavras/ parir poesia”, ou quando manda recado aos seus pares, “Vive teus poemas/ e quando sentir o hálito da morte sombrear o pescoço no derradeiro esforço/ o teu último poema faria”. Trechos lidos no poema O aviso, sem dúvida, encontra abrigo sob o pálio da poesia daqui e alhures.

No poema Incômodo, enfoca o sentimento de animais e gentes ante os maus tratos à natureza “morrem cedo/voltam logo/ ao infinito do mistério/ porque não suportam o aqui”.  É interessante observar a capacidade criativa aliada à visão do cotidiano, quando escreve: “cuspir caroços das culpas/ passar para sempre o passado num ferro queimado/absolver o mundo do deslize/beijar todos que me odeiam”, versos presentes no poema Transgredir e assume ares apocalípticos  com a convicção de que seu futuro de poeta é agora. “Para quando chegar a hora da partida possa dizer: vou porque vivi”. O poeta doa emoções ao inanimado em Espantalho, um dos destaques de sua verve, nas estrofes: “Nem o espantalho/homem oco empalhado/ é completamente só”. E mais adiante arremata: “Boneco de sentimento/ fala de voz ausente/ às vezes mais humano do que as mãos que o costuraram”. Noutro instante, deflagra o sofrimento humano no texto Anjinhos, “Centenas de anjinhos embalados para viagem/ caixões branquinhos/ delivery de tempestades tsunamis de lágrimas materna”. Vale a pena conferir.

*Paulo Caldas é escritor

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