Quilombo sem estereótipos

A identidade e o cotidiano da comunidade quilombola Barro Branco é a inspiração do artista Carlos Mélo para a produção do média metragem Barro Oco. A obra já foi exibida na cidade de Belo Jardim, onde o filme foi rodado, e começa a circular em eventos e exposições, incluindo o Recife. A obra é um dos frutos do trabalho de residência artística promovida pelo Instituto Conceição Moura, que anualmente tem levado uma experiência de arte contemporânea para o município do Agreste pernambucano.

O ponto de partida da relação entre o artista e a comunidade começou há cinco anos, quando Mélo esteve em Belo Jardim participando de uma mostra artística. “Aquele povo que vive ali” era a maneira como a população se referia aos quilombolas. Dessa informação dispersa e quase de desconhecimento da identidade dos moradores do Barro Branco, ele iniciou uma pesquisa que resulta numa intervenção artística na cidade e no filme.

Quem imagina uma comunidade quilombola, com fogueira, cabanas e roupas típicas não é isso que vai encontrar na leitura de Carlos Mélo. “Uma das minhas preocupações foi de não trazer estereótipos. Embora seja um povo tradicional, os seus adolescentes estão com celular na mão e conectados”, exemplifica.

A instalação de uma cerca construída com mais de quatro mil ossos de animais, que atravessava a área da comunidade e parte de uma propriedade privada na região, foi uma das peças que compõem o projeto artístico. Para essa obra, Mélo contou com a participação das pessoas da comunidade na coleta dos ossos. A cerca, que media quatro metros de altura por 20 metros de extensão, entre a vegetação e o sol intenso da região, representa no imaginário do artista a resistência e o sentimento de pertencimento ao território.

Outra obra erguida na comunidade no período da residência artística foi uma tenda, que representa o lugar de reuniões comunitárias. No esforço de reconstituição da história do quilombo, o artista se deparou com o fato dessa tenda ter sido destruída duas vezes, por motivos não explicados. Na pesquisa sobre a origem da comunidade, Mélo ressalta que pouco se sabe sobre os ancestrais que chegaram no território que fica distante 10 km do centro de Belo Jardim.

O filme caminha entre o documentário, para narrar a história da comunidade, e uma experiência de vídeoarte, que é uma das facetas do artista nascido em Riacho das Almas. Carlos Mélo tem trabalhos que vão do desenho, fotografia à filmografia, além das performances e instalações. Uma obra que passeia entre a arte e a filosofia. Premiado em diversos salões artísticos, ele desenvolve sua atividade de forma permanente, com exposições tanto no Brasil como no exterior. Você pode conferir o trailler de Barro Oco no link: https://vimeo.com/278804617.

O trabalho de Mélo foi a segunda edição da Residência Belojardim, idealizada por Mariana Moura, presidente do Instituto Conceição Moura, e conta com a curadoria de Cristiana Tejo e Kiki Mazzucchelli. O objetivo do projeto é expandir as ações culturais do instituto para o campo das artes visuais, contemplando um artista a cada ano para desenvolver projetos especialmente comissionados que dialogam com as diferentes dinâmicas culturais, econômicas, políticas e sociais da região do Agreste de Pernambuco.

A edição 2018 da residência contou ainda com uma exposição individual de Carlos Mélo no Sesc-Belo Jardim. A mostra apresentou ao público um pequeno recorte da produção de Mélo, permitindo à população local um maior diálogo com o trabalho do artista que passou três meses na cidade.

O Instituto Conceição Moura, mantido pelo Grupo Moura, é ainda o responsável por outras iniciativas culturais na cidade, como o Cine Jardim. O festival anual exibe uma grande variedade de longas e curtas metragens, além de promover oficinas gratuitas para crianças e jovens sobre produção cinematográfica. Festivais, como o Virtuosi Belo Jardim, e a oferta de cursos de música também integram a programação anual da organização.

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