Carneiro ganha espaço no campo

Quando pensamos em pecuária, os bovinos e caprinos provavelmente podem ser as primeiras imagens que nos vêm à cabeça. Porém, outro rebanho crescente e com alto valor agregado é o de ovinos. Segundo o último levantamento da Adagro (Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária), a quantidade de carneiros e ovelhas em Pernambuco é maior que a de cabras e bodes. Mesmo nos sete anos de intensa estiagem em Pernambuco, a ovinocultura cresceu 20% no Estado, segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE. A comercialização de cortes nobres dessa carne e a possibilidade de venda das suas peles para a indústria de calçados são nichos já trilhados pelos pernambucanos.

“As pessoas gostam muito das carnes de cordeiro e carneiro. São mais saudáveis e com grande potencial de crescimento com a onda fitness de consumo dos pernambucanos, que têm optado por uma alimentação menos calórica”, justifica Rossana Webster, consultora do Sebrae e responsável pelo programa Super Berro, que oferece assistência técnica a pequenos produtores do Sertão.

Mesmo com a queda da economia, a demanda o segmento não chegou a cair. É o que constatou o presidente da Associação Pernambucana de Criadores de Caprinos e Ovinos, João Carlos Paes Mendonça Tavares de Melo, que trabalha com animais selecionados para melhoramento genético. “A procura por animais com o foco na genética permaneceu estável durante a crise econômica do País”, afirma.

Os 28 integrantes da Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos de Granito (cidade do Sertão Pernambucano) também comemoram o aumento da procura pela carne ovina nos últimos anos. Mas o presidente da entidade Elidberg Sales ressalta que o setor enfrenta um gargalo no abate. A ausência de um abatedouro certificado em cidades como Granito faz com que boa parte dos animais seja comercializada ainda via atravessadores.

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Alexandre Valença aponta que o leite das ovelhas e seus derivados também garantem oportunidades de negócios para os criadores.

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“Tínhamos um conhecimento mais cultural da criação, que adquirimos com os nossos pais e avós. Agora começamos a evoluir tecnicamente e achar novos mercados. Faltam ainda as certificações. Temos muitos animais de bom porte, mas ainda precisamos comercializar por atravessadores ou terceiros”, admite Sales.

O problema também é ressaltado por Tavares de Melo. “Existe um crescimento da procura por esses animais. Nos restaurantes, os pratos de cordeiro em geral são muito valorizados. Mas a maioria dos criadores utilizam abatedouros informais da própria cidade. Não há grandes empresas nesse segmento”.

Atualmente os criadores de Granito conseguem, por meio do Abatedouro de Parnamirim, distante 60 km, realizar o abate dos animais e, em consequência, vender para a merenda escolar. Enquanto o animal nas feiras é comercializado por R$ 150 (o que resultaria numa média de R$ 13 a R$ 14 por quilo de carne), ele é vendido por R$ 18,50 o quilo para os programas públicos. “Temos ainda gente capacitada para fazer os cortes especiais e vender para os restaurantes por R$ 30 o quilo. Mas sem o selo não há como comercializar, devido à falta de informação sobre a origem do produto”, lamenta Sales. O rebanho dos integrantes da associação soma 16 mil animais.

Rossana lembra que outra limitação do segmento é o fato de muitos criadores oferecerem animais para o abate e venda apenas durante um semestre e não todo o ano. Diante disso, o Sebrae passou a dar apoio técnico para garantir alimento à criação, que é uma das dificuldades enfrentadas pelos produtores. “Começamos a cuidar do rebanho de forma a fazer a melhoria genética e a produzir o alimento natural. Ensinamos o criador a tomar os cuidados de profilaxia com o ambiente, para que o animal não adquira doenças e a carne fique contaminada. Orientamos também sobre a gestão da propriedade. Com essa organização é possível preparar o rebanho para ter todos os meses ovelhas parindo e, futuramente, ter animais prontos para o mercado em todos os meses do ano”, afirma a consultora.

LEITE E CURTUME
O ex-secretário de desenvolvimento econômico de Pernambuco, Alexandre Valença, afirma que além da carne, o leite das ovelhas e seus derivados garantem novas oportunidades. São produtos pouco explorados no Estado, mas com grandes valores nutricionais. Ele defende ainda que para os pequenos produtores, a criação de ovinos e caprinos é uma alternativa mais viável. “A criação desses animais de pequeno porte tem muita sintonia com as características da produção familiar. O queijo, produzido de forma artesanal a partir dos leites de cabra e ovelha, tem um alto valor agregado”, afirma.

Valença aponta ainda outras vantagens, como o barateamento das instalações, quando comparadas com as usadas para criação de vacas, e a redução da concorrência, já que os grandes produtores não estão nesse segmento. “É preciso ter um direcionamento para essa mudança, muitas famílias preferem ter uma vaca a ter 10 cabras ou ovelhas, por exemplo. É uma questão cultural”, explica Valença. “Ainda há pequenos produtores com pouco conhecimento desse mercado. Eles seguem competindo com grandes fazendas por um perfil de clientes muito semelhante”.

Além da carne, do leite e do queijo, os animais de menor porte possuem um outro produto que pode ser promissor: as peles. De acordo com o empresário Rafael Coelho, diretor da empresa Curtume Moderno, Pernambuco produz peles para a fabricação de calçados ou bolsas, mas esse processo de industrialização não acontece aqui. “Pernambuco é grande produtor de caprinos e ovinos e tem uma oferta razoável de peles. É um mercado muito capilarizado e atinge uma faixa de pequenos produtores, que atuam como atividade de subsistência. Grande parte dessas peles seguem para o mercado calçadista de Franca, em São Paulo, ou no Rio Grande do Sul”, informa o diretor da Curtume Moderno, que possui 300 funcionários e processa por dia útil 4 mil peças na sua sede, em Petrolina.

Coelho afirma que um metro de pele comercializado pelos pequenos produtores sai por R$ 3 (caprino) e até R$ 6 (ovinos). Ao ser beneficiada, essa matéria-prima é vendida por valores que variam entre R$ 45 e R$ 60. “Com um metro dessas peles é possível fabricar até três calçados mais sofisticados, que chegam a valores médios de R$ 150 ao consumidor”.
No passado houve a tentativa de trazer indústrias calçadistas para Pernambuco. “Mas essa ação não se consolidou”, diz Coelho, acrescentando que a atividade perdeu fôlego nos últimos anos com a queda de preços do mercado internacional. Os motivos seriam a produção de couros sintéticos e a concorrência dos produtos chineses no mercado brasileiro.

Criação bovina
Já em relação à pecuária bovina, o problema é a crise dos longos anos de seca e a queda dos preços do leite de vaca. O caminho para superar as dificuldades da Bacia Leiteira (abordadas na edição de fevereiro da Algomais), é a profissionalização dos players do setor, segundo Alexandre Valença. Ele afirma que já estão surgindo fazendas-empresas no Estado, com uma atuação bastante competitiva.

“As fazendas produtoras, no estilo de empresas, utilizam alta tecnologia. Além de realizarem melhoramentos genéticos nos seus rebanhos, passaram a concentrar a produção de alimento do gado em áreas irrigadas, mesmo que distantes do local onde criam os animais”, explica Valença. “Alguns criadores do Agreste ou da Zona da Mata plantam ou compram, nas margens do Rio São Francisco, os grãos e os volumosos (como forrageiras e fenos) usados na ração. Outros, em Ibimirim, onde há águas de subsolos”, exemplifica. Uma solução que demanda logística profissional, mas que supera as barreiras naturais, como a seca. O especialista ressalta que nem sempre um bom local para a criação do animal é o melhor para o plantio.

Uma dessas empresas é a Rancho Alegre. Dirigida pelo empresário Francisco Hermano Cavalcanti, possui uma fazenda para produção dos volumosos em Inajá, no Sertão, enquanto a criação está em Pesqueira, no Agreste. Além da produção diária de 13.500 litros de leite, a empresa produz queijos coalhos, rações para animais (pets, equinos e ruminantes) e presta assistência técnica a outros produtores. A Rancho Alegre conta ainda com oito lojas, no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em Pernambuco.

“O criador precisa se profissionalizar, partir para o uso de tecnologias, melhoramento genético, inseminação artificial. Temos que aumentar a produção de leite com menos vacas”, alerta o empresário, que é veterinário e atua há 30 anos no setor. Ele salienta que a pecuária emprega mais mão de obra que a construção civil e sugere que haja uma política pública de incentivo e proteção ao setor. Também adverte que os criadores sofrem, nos últimos anos, com o baixo preço do leite e a entrada do produto em pó na cadeia da produção industrial de laticínios.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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