Loja Irmãos Haluli supera a crise e a invasão chinesa no comércio do Recife

“Se não tiver nos Irmãos Haluli, não tem em lugar nenhum”. Esse slogan informal de uma das lojas mais tradicionais da Rua Santa Rita está na boca dos comerciantes e consumidores do Bairro de São José. A diversidade de produtos da empresa, que conta com 28 mil itens distintos, foi uma das forças que contribuiu para que superasse as crises econômicas nos seus 56 anos de funcionamento. Seus proprietários resistiram também à chegada dos chineses na cidade e à concorrência com o e-commerce.

Pai dos atuais dirigentes da loja, David Haluli, de origem libanesa e hoje com 87 anos, montou o comércio a poucos metros da antiga rodoviária do Recife com foco nas vendas para o atacado. O sócio-diretor, Paulus Haluli, afirma que na época muitos comerciantes do interior do Estado vinham até o Recife fazer as compras para seus negócios. Porém, com a transferência do Terminal Integrado de Passageiros (TIP) para o Curado e a instalação de centros de distribuição no interior, houve um esvaziamento desse público inicial.

A loja mudou e passou a focar no varejo. Paulus afirma ter sido uma mudança difícil, mas que deu certo. Enquanto muitas lojas atacadistas do bairro fecharam as portas, os Irmãos Haluli cresceram. Dos 12 funcionários dos anos 80, hoje 65 pessoas trabalham atendendo os mais de mil consumidores diários. “Passar do atacado para o varejo não é fácil. Por isso várias empresas não existem mais. O tíquete médio hoje é de três a quatro vezes menor que na década de 80. Isso nos levou à necessidade de ter um maior volume de atendimento de pessoas, que nos exige ter muita mão de obra em atividade”.

Com o tempo, para atender a diversa clientela da região, a empresa acabou se especializando em oferecer produtos diferentes e difíceis de serem encontrados no mercado. Enquanto para boa parte dos lojistas do comércio popular do Centro do Recife – conhecido como “Vuco-vuco” – a recente crise econômica foi desastrosa, para a Irmãos Haluli constituiu-se numa oportunidade. Muitos dos consumidores da loja buscam itens que os ajudem a gerar um complemento de renda, como artesanato e produtos para confeitaria ou essências e frascos para fazer perfumes. Na falta de emprego, o que era um extra pode até se tornar a fonte principal de remuneração.

Para estimular ainda mais esse perfil de público, a loja passou a oferecer, há 10 anos, cursos gratuitos – alguns a preços populares – para as pessoas interessadas nessa linha de geração de renda. O calendário das capacitações é praticamente ininterrupto e com casa cheia. A média de alunos por ano da Haluli Cursos é de 3,8 mil pessoas. A sala precisou inclusive ser reformada recentemente. Seus clientes também podem se capacitar pelas oficinas online produzidas e transmitidas na web pelos Irmãos Haluli.

A chegada em massa dos comerciantes chineses também não abalou as vendas da empresa familiar. O que é uma rara exceção. Donos de uma parcela significativa do comércio de rua, a atuação dos orientais, com preços muito abaixo dos praticados então na cidade, provocou o fechamento de muitas lojas do Centro. Além de não atrapalhar, a vinda dos novos lojistas ajudou a empresa da família de origem libanesa. Sem a variedade de produtos dos Irmãos Haluli, os chineses nunca foram de fato concorrentes.

Mas a presença asiática acabou atraindo um movimento maior de pessoas ao comércio local, fenômeno que Paulus considerou positivo. “Apesar da região não ter uma condição boa de limpeza, calçamento, segurança e estacionamento, temos um fluxo de pessoas comprando nos bairros de São José e Santo Antônio, que seguiu forte nos últimos anos mesmo com a crise. O varejo dos chineses reforçou a imagem que aqui se encontram produtos de baixo custo. Temos uma Rua 25 de Março aqui no Recife. Recebemos muita gente inclusive de outros Estados”.

As vendas digitais são outro fenômeno recente com impacto na atividade. A empresa, porém, embarcou no universo online ainda de forma tímida. Hoje, mil itens estão cadastrados para comercialização na internet. O e-commerce representa no momento apenas 1% do faturamento da loja, mas está crescendo. “Tem sido uma experiência muito boa para entendermos como funciona. É muito complexo para quem está vendendo. É preciso uma retaguarda de apoio muito grande para a loja virtual funcionar bem”. Atualmente, quatro pessoas trabalham exclusivamente para as vendas não presenciais.

Muitos consumidores, inclusive, fazem seus pedidos e tiram suas dúvidas diretamente pelas mídias sociais. Uma mudança na experiência de compra que já fez a tradicional loja dedicar um funcionário para essa atividade. “Isso era inimaginável há 10 anos. É uma nova dinâmica. Hoje os clientes praticamente não ligam mais pelo telefone. A comunicação é, em sua maioria, pelas redes sociais”, conta.

Crescer no virtual é um dos desafios da loja para os próximos anos. Para o futuro, a empresa projeta também fazer uma reforma para modernizar toda a loja física. “Além disso, integrar o site com a loja física é o nosso grande desafio”, planeja Paulus.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

Deixe seu comentário
anúncio 5 passos para im ... ltura Data Driven na sua empresa

+ Recentes

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon