O calcanhar de Aquiles da economia em 2021

*Por Edgard Leonardo

Com a necessária prescrição de isolamento social, fruto da pandemia iniciada em 2020 e que infelizmente ainda se encontra em franca aceleração no país, ocorreu um natural processo de retração da atividade econômica com repercussões sobre a arrecadação tributária.

Os desafios sanitários impostos pela pandemia, levaram os governos estaduais e o governo federal a uma série de gastos não programados, todavia repasses do governo federal apoiaram a receita estadual e, na média, os estados obtiveram ganhos reais da receita corrente líquida e da receita primária, possibilitando superavit primário em diversas unidades da federação.

O governo federal por sua vez, incorreu em um déficit primário recorde em 2020, R$ 743,1 bilhões, contra um déficit de R$ 95 bilhões em 2019, a quase totalidade do aumento é explicada pelo impacto direto da pandemia no orçamento federal. Sem contar os efeitos indiretos, uma vez que a queda da arrecadação e o desemprego gerados pelo evento serão sentidos no médio prazo.

A dívida bruta do governo cresceu para atingir cerca de 90% do PIB em dezembro de 2020, o problema desse panorama é que não saímos de uma economia saneada, com alto nível de emprego para uma crise global. Pegamos pela proa uma crise, e optamos por enfrenta-la com o maior aumento da dívida pública da América Latina. E o fato é que quanto mais altos os níveis de endividamento, maior o risco de inadimplência e com isso menor a confiança dos credores.

O aumento dos gastos, aqui no Brasil, certamente reduziu a queda projetada para o PIB e atenuou a crise econômica que se apresentava no horizonte, todavia é preciso lembrar que a conta chegará. O gasto público brasileiro em resposta a epidemia foi de cerca de 12% do PIB, enquanto a média da América Latina foi de 4%, no Brasil gastamos quase o dobro da média mundial (6,3% do PIB). Isso tudo, em um governo criticado exatamente por ser liberal em demasia.

Em 2021, é imprescindível reduzir o endividamento brasileiro, e isso, só ocorrerá com a geração de superávits. Porém, vale lembrar que 2022 é um ano eleitoral e é pouco provável que o congresso e o governo federal estejam dispostos a apoiar medidas impopulares.

Aquiles, o herói grego celebrado por Homero e que segundo o mito era: belo, forte e corajoso. Considerado um dos maiores guerreiros mitológicos da Grécia Antiga, e que se tornou invulnerável quando sua mãe o mergulhou ainda criança no rio Estige, para que se tornasse imortal. Esquecendo-se, contudo, que durante a imersão o segurava pelos calcanhares, deixando-o vulnerável exatamente nesse local. Lembrem, exatamente essa fraqueza, aparentemente pequena diante da fortaleza do grande guerreiro, levou Aquiles a tombar ante Páris, na guerra de Troia.
Temos apenas 2021 para proteger nosso calcanhar de Aquiles.

*Edgard Leonardo é economista, mestre em administração e professor da Unit-PE

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