Polo Têxtil do Agreste aposta em design

“Aproveitar o bom momento do mercado para ampliar a capacidade de competir, modernizando a gestão, diversificando a oferta e elevando a competitividade”. Esse desafio-síntese para o setor de moda e confecções no Agreste pernambucano foi escrito há 10 anos no livro Pernambuco Competitivo, elaborado pela Pesquisa Empresas & Empresários, que é uma iniciativa da TGI e do INTG com patrocínio do Governo de Pernambuco. O contexto de crise atual é um contraste ao vivido pelo País naquela época caracterizada pela economia aquecida, baixo desemprego e alto volume de investimentos. Mas, passada uma década, algumas alternativas propostas na pesquisa começam a ser implantas.

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Wamberto afirma que boa parte da produção do polo destina-se às classes C e D, mas mesmo nesse segmento a concorrência é grande e só se diferenciam as empresas que inovam.

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Uma das transformações do Polo de Confecções foi a entrada no mercado local de profissionais formados em design e em outras áreas relacionadas ao setor. Eles são oriundos dos cursos superiores e técnicos criados no Agreste. A qualificação da mão de obra já mostra impactos no produto final das empresas. “Os empresários estão investindo mais em design. Isso é consequência dos investimentos em educação em Caruaru e em Santa Cruz do Capibaribe nos últimos anos. Essa estrutura educacional criou uma massa crítica que começa a render frutos. Muitos varejistas afirmam que o produto pernambucano tem amadurecido muito”, ressalta Wamberto Barbosa, vice-presidente da Acic (Associação Comercial e Empresarial de Caruaru) para Assuntos de Câmara Setoriais e Núcleos Especiais.

A produção, em boa parte, ainda se destina ao mercado popular, das classes C e D, segundo Barbosa. Ele salienta, porém, que mesmo nesse segmento de consumo a concorrência nacional é grande e é preciso oferecer peças de qualidade. “Só se diferencia quem está inovando em design”, alerta Wamberto.

Para o presidente da CDL-SCC (Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Cruz do Capibaribe), Bruno Bezerra, o Polo de Confecções de Pernambuco vem evoluindo a cada ano com uma nova geração de empreendedores. “Eles estão em busca do conhecimento necessário para enfrentar os desafios da transformação digital que vem redesenhando mercados aqui e mundo afora”, comenta o empresário.

O amadurecimento e a qualificação da produção do polo coincidem com um momento atual mais otimista por parte dos empresários. O diretor do Grupo Avil, Verysson Ferreira, afirma que o setor tem uma expectativa de crescer 8% em 2019. As projeções de sua empresa são de avançar 15% em faturamento no ano. A Avil, que já possui 10 lojas em operação, abrirá uma nova unidade neste ano, onde contratará em torno de 60 novos profissionais, alcançando o total de 800 funcionários no seu quadro.

“O Polo de Confecções sempre foi conhecido por comercializar produtos baratos, antes marcados também pela baixa qualidade. Hoje, com mais acesso à informação por parte dos consumidores, mesmo das classes mais populares, o setor se vê obrigado a entregar um produto com inovação e melhor acabamento de peças, tingimento e modelagem”, observa Ferreira. “Passamos a notar que as empresas de confecção migraram as compras de tecidos já estampados para os brancos, para que eles produzam as suas estampas exclusivas. Isso é sinal de que mesmo o pequeno confeccionista se mexeu para seguir no mercado”, salienta.

Essa necessidade de investir em novos produtos criou mercado para que as designers Aurijanne Arruda e Jessica Souza, formadas em Caruaru, criassem a Line Ateliê Criativo. A empresa presta serviços na área de design de moda, com expertise para desenvolver coleções de vestuário, modelagem, pilotagem e editorial. Apesar de sentirem ainda resistência por parte das empresas em enfrentar processos de modernização, as diretoras da Line Ateliê Criativo afirmam que uma grande fatia desse mercado tem investido em inovação. “Muitos empresários entenderam que os velhos hábitos de produção estão se tornando obsoletos e que os consumidores se mostram mais exigentes. Essa perspectiva se reflete em ótimas oportunidades para designers e outros profissionais da área. Apontamos a adesão ao design como estratégia mercadológica para conferir diferencial aos produtos e processos das indústrias”, indica Aurijane.

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Jessica Souza e Aurijane Arruda são sócias da Line Ateliê Criativo. A empresa está crescendo com o investimento do setor em design. Foto: Tom Cabral

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A empresa conta com clientes fixos e alguns que demandam trabalhos mais pontuais. As jovens empresárias afirmaram que têm recebido indicações de clientes até de fora do Estado e planejam acelerar sua atuação em 2019 com projetos de cunho industrial, social e sustentável. “Ressaltamos esses investimentos em design como uma grande tendência que abre espaço para o crescimento do setor têxtil da região, fazendo a moda do Agreste pernambucano alcançar novos níveis”, acredita Jessica Souza.

Chegar a outros mercados é o desafio apontado pela Acic para o setor. De acordo com Wamberto, mais de 60% da produção pernambucana destina-se ao Nordeste, região responsável por 30% da capacidade de consumo do País. “Nosso produto tem todo um mercado ainda para conquistar. Isso demonstra que as nossas empresas precisam investir em novas estratégias de comercialização que alcancem dimensões nacionais”.

O dirigente avalia que o modelo concentrado na venda por meio de visita de compradores ao Estado, principalmente aos centros comerciais de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, foi responsável pelo avanço do setor, mas tem uma limitação de crescimento. “Precisamos de uma maior profissionalização de forma a dar a Pernambuco um braço comercial mais longo”, propõe Wamberto. Ele cita que as empresas do Estado ainda participam de forma incipiente do fornecimento de produtos para as grandes redes varejistas de moda e dos supermercados, os quais respondem por um volume relevante das compras de roupas no País.

O dinamismo do Polo do Agreste e a capacidade dos empresários locais de se reinventarem diante dos desafios do mercado são fatores que deixam Wamberto otimista. A fraqueza do setor seria a limitação de investimentos. “Como a maioria são pequenas e médias empresas, há uma dificuldade de se autofinanciar ou de captar recursos. Isso é uma barreira para alcançar novos mercados, o que custa caro e não dá retorno imediato”, analisa. O caminho proposto por ele para solucionar esse entrave seria desenvolver estratégias conjuntas ou associadas, que possam fortalecer a presença nacional da indústria pernambucana.

Bruno Bezerra afirma que nos dois últimos anos houve um expressivo ganho de competitividade no polo com a construção de uma nova plataforma tributária por intermédio de um diálogo bem-sucedido entre Secretaria da Fazenda de Pernambuco com o setor têxtil e de confecções. Na gestão passada, o Governo do Estado simplificou o regime tributário das empresas, reduzindo a informalidade na região. No entanto, o presidente da CDL-SCC considera que o ambiente de negócios ainda segue dispendioso e hostil. Além disso, o cenário de desemprego é um dos responsáveis por atrofiar a retomada do crescimento.

“Precisamos de ousadia nas gestões públicas em todas as esferas para promover e priorizar a geração de vagas. Mas isso só é possível com medidas concretas que facilitem a vida de quem de fato tem a capacidade de gerar os empregos de que o País tanto precisa: as empresas privadas, sobretudo as pequenas e médias”, defende o presidente do CDL-SCC.

*Por Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com) e assina a coluna Gente & Negócios

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