Retomada econômica e descolamento da política em 2018

Retomada do crescimento e descolamento entre política e economia. Essa é a perspectiva para o Brasil em 2018, de acordo com a maioria dos analistas entrevistados pela Algomais nesta edição especial. A conjuntura atípica da trajetória recente do País – dirigido por uma classe política que toca uma agenda de reformas de interesse do mercado ao mesmo tempo que tem uma taxa histórica de rejeição popular – é acompanhada por várias mudanças nos rumos do mundo. A China se fortalece como liderança internacional e os Estados Unidos atravessam uma a gestão contraditória do presidente Donald Trump. Um cenário que somado à acelerada revolução digital – ou da economia 4.0 – indica os passos das grandes transformações que estão em curso e que impactam os rumos de Pernambuco e do Recife.

Após anos em recessão e uma tímida recuperação econômica em 2017, a expectativa do Banco Central para 2018 é de um crescimento do PIB de 2,2% para o País. Para o Ipea a projeção é de 2,6%. A inflação reduzida e a volta dos investimentos, mesmo num ritmo lento, compõem uma conjuntura econômica favorável ao Governo Federal. “O Brasil está vivendo uma retomada do ciclo econômico, saindo do fundo do poço. A curva da economia está se afastando da política”, avalia o consultor Francisco Cunha. Ele foi um dos palestrantes da Agenda 2018, evento organizado pela Algomais e pela TGI, que abordou as perspectivas para o próximo ano e que reuniu lideranças empresariais de Pernambuco.

Apesar dos bons ventos que sopram na economia, Michel Temer continua em meio a um vendaval de problemas. Os projetos de reformas impopulares, o desemprego em alta e a marca da corrupção o transformaram no presidente mais rejeitado da história (73% de avaliação ruim ou péssima, segundo o Datafolha). “A tendência política para 2018 será a sarneyzação do Governo Temer”, afirma o consultor, em referência ao final do mandato do ex-presidente José Sarney. Esse é um cenário de continuação enfraquecida do governo até o final do mandato.

Porém, mesmo diante da baixa taxa de aprovação, a recuperação econômica é um fator que fará esse governo jogar um papel relevante nas eleições presidenciais, segundo Francisco Cunha. “A economia é sempre uma protagonista importante nas decisões eleitorais. O País caiu de elevador e está subindo de escadas. Mas a mudança na realidade econômica fará esse governo, mesmo impopular, ter um papel importante no pleito eleitoral”.

Já o economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da PUC-RJ, avalia de forma positiva o trabalho da equipe econômica, mas acredita que ela não teve ajuda do presidente. “A luta que Temer trava para se manter no poder levou o governo a ser muito mais generoso em termos de liberação de recursos para os parlamentares. Para se defender das denúncias, o governo atendeu demandas políticas em detrimento da política econômica”, criticou Rochlin.

Mauro Rochlin espera uma recuperação mais forte da indústria em 2018

A recuperação industrial mais forte em 2018 é uma das apostas de Rochlin, que sugere uma taxa superior a dois dígitos em alguns segmentos, como na produção de bens de consumo. “A indústria é um setor estratégico, pois cria empregos qualificados e demanda muito da área de serviços. É um crescimento que reverbera pelo resto da economia”. Apesar de elogiar a recuperação que o setor já alcançou em 2017, ele ressalva que o desempenho ainda está distante dos níveis de 2014.

De um modo geral, Rochlin estima que a recuperação econômica para 2018 se dará numa velocidade baixa. “A recessão ficou para trás. Mas a retomada está sendo lenta por algumas questões que permanecem em aberto, especialmente a fiscal, que foi o epicentro da crise. Acredito que esse fator serviria como um farol para o setor privado voltar a investir. Diante de um quadro fiscal problemático, investimentos se postergam”.

Avaliação semelhante é feita por Carlos da Costa, diretor de crédito, tecnologia da informação, planejamento e pesquisa do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo ele, o volume dos investimentos esperados para o País nos próximos anos ainda é muito reduzido. “A indústria, que já chegou a investir uma média de R$ 200 bilhões ao ano, chegando até a R$ 230 bilhões, não deverá ultrapassar seus investimentos em R$ 120 bilhões para 2018. O País está se recuperando, num processo ainda lento, mas não crescendo. Só há crescimento quando se amplia a capacidade de produção. Mas, ainda estamos numa situação reprimida”.

Carlos da Costa estima um investimento de R$ 120 bilhões na indústria em 2018, ainda abaixo da média de R$ 200 bilhões

Ele revela que as estimativas para os investimentos em infraestrutura também são reduzidos. Nos cálculos do banco, nos próximos anos (entre 2018 e 2020) o investimento nessa área será de R$ 100 bilhões por ano no País, enquanto que a média estava sendo de R$ 160 bilhões antes da crise.

Sem a reversão desse cenário, Costa indica que o País esteja caindo na chamada “armadilha da renda média”. Ele explica que vários países, em seu primeiro processo de crescimento, alcançam a industrialização e sua população deixa de ser analfabeta, atingindo uma renda média. No entanto, para dar um passo seguinte de desenvolvimento são necessárias outras estratégias. “É preciso se tornar protagonista do mundo em alguns cenários para se transformar num País de renda alta. O Brasil perdeu a capacidade hoje de liderar algumas agendas de desenvolvimento no mundo e, portanto, de atrair empresas modernas, desenvolver gente no que há de mais avançado no cenário internacional”, analisa Costa.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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