Airles Fragoso: “A Covid-19 trouxe um medo não controlável para as pessoas”

Logo no início da pandemia, a Prefeitura do Recife lançou o aplicativo web Atende em Casa com orientações virtuais sobre a Covid-19. O objetivo era evitar que a população procurasse as unidades de saúde desnecessariamente durante a quarentena. Com o tempo, os atendentes do serviço perceberam que muitos recorriam ao app com dor no
peito e calafrios, que não eram sintomas da infecção pelo novo coronavírus. Era a consequência emocional
provocada pela pandemia. A solução foi criar um teleatendimento psicossocial. Hoje, 87 profissionais da rede de saúde municipal atuam nesse acolhimento. Airles Ribeiro Fragoso, um dos coordenadores do serviço, informa, nesta conversa com Cláudia Santos, as estratégias utilizadas para auxiliar os usuários e revela as principais aflições daqueles que recorrem à ajuda. Não deixa de ser um retrato de como a Covid-19 afeta o emocional das pessoas.

Como funciona esse o serviço de acolhimento emocional?
É feito por meio do aplicativo Atende em Casa. Surgiu quando constatamos que a pandemia impacta as pessoas, não só na questão corpórea, clínica, mas também na sua dinâmica psicossocial. Muita gente entrou em contato conosco com falta de ar, calafrio, mas não eram sintomas da Covid-19 e, sim, o impacto psicossocial da doença. A ideia é acolher essas pessoas, fazendo a escuta ativa, com o recorte da saúde mental. Oferecemos algumas estratégias para minimizar esse impacto dentro da possibilidade de se estar em casa. Fizemos uma junta de profissionais de psicologia, assistência social, médicos, psiquiatras e das práticas integrativas.

Qual o perfil das pessoas que buscam o serviço?
Pessoas idosas, pessoas em isolamento domiciliar (aquelas que estão com sintomas relacionados à Covid-19 e precisam se isolar dentro da própria casa para não infectar os familiares que moram com elas), pessoas que moram sozinhas e aquelas em luto, além de pessoas que estavam antes da pandemia em atendimento psicológico ou psiquiátrico. A maioria são mulheres dos 30 aos 60 anos em isolamento domiciliar, que, por estarem isoladas e não poderem cuidar da família, se sentem culpadas e com isso aumenta a ansiedade. As mulheres têm, socialmente, infelizmente, esse lugar de cuidadora. Como estratégia, pactuamos com elas uma rotina com qualidade. Explicamos que isolamento não significa cárcere e que elas podem ter contato com familiares respeitando o distanciamento de 2m, com uso de máscara e fazendo higienização das mãos. Também há muitos homens adultos, que estão em isolamento domiciliar e estão com medo de infectar pessoas queridas. Há ainda jovens que tiveram a rotina fragmentada.

O que atormenta esses homens?
Trata-se de um homem fragilizado por estar demonstrando, de alguma forma, aos seus familiares e amigos que tem medo. A Covid-19 trouxe um medo não controlável. Uma coisa é ter medo de assalto, em que se pode ter controle e evitar, mas de algo invisível, como um vírus, não se tem controle. A questão do desemprego também afetou muito esse homem e sua posição social de chefe de família. E não foi por uma escolha sua, foi uma questão social que colocou esse homem em casa, deixando-o mais frágil. Fiz um teleacolhimento no qual um deles dizia: “estou muito mal, e não quero que ninguém me veja chorando”. Trabalhamos no atendimento dessa masculinidade que naquele momento não estava sendo positiva para ele. Para muitos homens foi uma oportunidade para ressignificar esse lugar do masculino.

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