“Há muito investimento represado”

Durante a campanha e no discurso da posse ao Governo de Pernambuco, Paulo Câmara prometeu estimular a geração de emprego e renda no Estado. Enfrentar esse desafio é a prioridade para o economista e empresário Bruno Schwambach ao assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Nesta entrevista concedida a Rafael Dantas, ele disse focar na atração de investimentos e no incentivo ao empreendedorismo.

Qual a sua trajetória antes de atuar no poder público?
Sou economista de formação e empreendedor por vocação. Comecei fazendo eventos em sociedade com amigos. Depois empreendi dentro dos negócios da família. Morei em Salvador durante cinco anos e montei as operações da nossa empresa por lá. Quando o mercado em que a gente atua (segmento de automóveis), começou a estagnar com a crise, começamos a olhar o que poderíamos fazer para gerar eficiência e diminuir a estrutura. Concentramos as operações e a gestão a partir do Recife. Fechando esse ciclo lá, optei por empreender em outros setores. Estava saindo em 2016 dessa operação, quando o prefeito Geraldo Julio me fez o convite para contribuir na gestão pública. Se fosse um pouco antes ou um pouco depois não daria, pois estaria mergulhado em outro projeto.

Como foi essa experiência?
A proposta era interessante, pois visava a pensar no desenvolvimento econômico de forma sustentável, passando pela formação de pessoas. Abrangia desde a mão de obra da cidade, envolvia as agências de emprego, escolas de formação profissional, empreendedorismo, economia solidária e artesanato. Conseguimos integrar um pouco essas áreas, trabalhando muito a questão da desburocratização. Isso criou um ambiente favorável para quem quisesse empreender na cidade. Tivemos alguns avanços, como reduzir o tempo para abertura de empresa de 100 dias para 72 horas.

Agora na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, quais são seus planos?
De novo fui pego de surpresa. Estava fazendo o trabalho na prefeitura, quando recebi o convite do governador para contribuir, desta vez no Estado. A principal missão ficou muito clara na forma como ele montou o secretariado e nas mensagens da campanha. A preocupação dele é a geração de emprego e renda. Vamos trabalhar todo secretariado e com o governador para melhorarmos o ambiente de negócios, aproveitarmos as oportunidades que possam acontecer, continuar os projetos que estavam em andamento e tentar retomar os que eventualmente pararam. Além de criar um clima favorável pensando sempre na geração de emprego e renda.

Qual o foco dessas ações?
Estamos muito otimistas com esse momento do Brasil. Em 2014, quando o governador assumiu, o País estava entrando numa crise econômica forte, que depois se desdobrou numa crise política e numa perseguição ao Estado desde o Governo Dilma. Depois vem o impeachment, Temer assumiu e também teve uma questão política muito forte contra Pernambuco. Depois, quando o ambiente nacional estava ficando mais favorável, a denúncia do Joesley Batista deixou o Brasil parado até a eleição. Ninguém tinha coragem para fazer investimentos. Estamos num novo contexto, com um novo presidente. Apesar de estarmos num outro campo político, na parte econômica vemos com bons olhos as medidas que eles apontam que pretendem fazer. Concordamos com um novo pacto federativo, com menos Brasília e mais Brasil, um maior liberalismo econômico. Espero que eles possam traduzir esse discurso em medidas concretas que tragam a confiança para o investimento privado voltar a acontecer. Há muito investimento represado. Precisamos de um cenário de estabilidade e de confiança. Tanto o investimento privado como recursos de fora devem chegar mais forte para o Brasil agora, se o Governo Federal conseguir implantar as medidas que anuncia.

E Pernambuco?
Cabe a gente estar preparado para esse momento. É uma função nossa estar com os projetos bons e prontos na mão, com essa articulação que Pernambuco sempre teve, por meio da AD Diper. Pretendemos manter isso e agilizar, pegando a analogia com o que aconteceu com a prefeitura. Queremos manter a tradição que Pernambuco tem, mas fazer da forma mais ágil possível.

Não há uma preocupação de que a perseguição se repita, já que Pernambuco segue desalinhado politicamente com o Governo Federal?
Estamos vivendo um novo momento. O Governo Federal ainda transmite sinais contraditórios, dependendo do ministério. Mas o que percebemos é que na parte da economia o discurso está muito firme, menos ideológico e mais consistente com as necessidades do País. O próprio governador pediu uma audiência com o presidente Bolsonaro para tratar das questões importantes para Pernambuco. Ele já deu sinais que desarmou o palanque e quer diálogo. Estamos esperançosos de que isso possa acontecer, com um diálogo mais coerente e correto possível, pensando na necessidade do povo. Acreditamos que não acontecerá nenhum tipo de perseguição ideológica.

Quais as questões estratégicas que dependem do Governo Federal?
Temos uma série de projetos de infraestrutura em andamento, como a Transnordestina e vários ramais da transposição do Rio São Francisco, que pretendemos implantar e que exigem convênios. Temos a parte das estradas, além de projetos de dragagem e recuperação do Porto do Recife. Sobre Suape, há uma série de projetos de infraestrutura que dependem do Governo Federal e que são importantes. Também partiremos em busca da iniciativa privada.

Quais os setores em que é possível atrair investimentos privados?
Quando falamos de Pernambuco sempre falamos do mercado do Nordeste. Pernambuco tem uma posição geográfica estratégica importante para a região. Na medida em que a gente consiga ter confiança na economia, tenho segurança de que esses investimentos irão acontecer. Cabe a Pernambuco estar preparado para isso e buscar esses investimentos. Temos uma estrutura montada para isso, inclusive com inteligência de mercado para identificar os segmentos potenciais. Um exemplo é a privatização do Aeroporto do Recife, que está iminente de acontecer. É outra interlocução que pretendemos fazer com o Governo Federal.

Quais os alvos do Estado?
Temos a previsão de uma ampliação de toda a estrutura da FCA (Fiat Chrysler Automobiles), que é um investimento muito importante, dos sistemistas e de novos produtos. Eles têm batido recordes de produção e estamos brigando com outros países e estados por esse investimento de produtos novos. Em Suape temos os estaleiros que estão brigando por licitações e novas demandas. Queremos ajudá-los para que ganhem essas licitações e que esses empregos e investimentos também venham para cá. A própria Transnordestina pode ter um investidor privado, dependendo do entendimento do Governo Federal. Sobre o aeroporto, pretendemos ir atrás da iniciativa privada para que possa participar do certame e trazer investimentos.

Existe a pretensão de transformar Suape em um terminal de uso privado? Seria uma privatização da gestão?
A autonomia de Suape é um passo importante para a melhoria da gestão. Quando o porto foi transferido para o Governo Federal perdemos agilidade. A partir de um decreto publicado em dezembro, foi criado um critério para receber a autonomia de volta, o que é ótimo. Temos um papel, que vamos cumprir neste primeiro semestre, que é solicitar essa autonomia e poder fazer os processos por aqui. É suficiente? Não. Talvez trazer um parceiro privado para o porto seja importante. Não falo em privatização, e isso ainda é algo preliminar, mas existem algumas modelagens em que podemos trazer um parceiro privado que possa fazer novos investimentos e gerar oportunidades de negócios. Buscaremos um parceiro privado? Pode ser. Transformaremos Suape em um terminal de uso privado? Pode ser. Vamos estudar também. Não podemos nos opor a nenhum modelo de negócios. Vamos estudar todos.

Você destacou recentemente o papel do Porto Digital na geração de empregos. Como o Estado pode participar neste sentido?
Isso é um grande ativo que temos no Estado, fruto de uma política pública que começou há 18 anos. Saiu do zero e hoje emprega 9 mil pessoas, faturando cerca de R$ 1,5 bilhão. Temos uma cidade com poucos recursos naturais, mas com pessoas de grande talento. O Porto Digital retém esses talentos aqui. Criando um ambiente de negócios favorável, eles puderam desenvolver soluções a partir daqui para vender para o Brasil e para o mundo. Queremos conectar mais esse setor de inovação com as cadeias produtivas existentes no Estado, com os negócios que acontecem em Suape ou mesmo com os arranjos produtivos locais. Há soluções inovadoras que podem ser implantadas com custo baixo. O Porto Digital sozinho tem a meta de dobrar de tamanho nos próximos cinco anos. E vamos dar o apoio para que isso aconteça.

A grande presença consular no Recife é vista como uma oportunidade?
Sim. Por isso que venho insistindo na Prefeitura e no Governo do Estado de que estamos falando de um mercado de 57 milhões de pessoas que é o Nordeste, pois 94% do PIB da região está a 800 km do Recife. Estamos vendendo esse pequeno país que é o Nordeste, que tem um PIB do tamanho da Colômbia. É isso que as empresas têm vislumbrado. Por isso toda essa estrutura consular está aqui. Ano passado houve encontros de investidores chineses com o poder público e empresários locais. Sentimos um interesse do capital chinês de investir em infraestrutura. Dependendo de algumas decisões do Governo Federal, temos a oportunidade de trazer muito dinheiro para cá, que está disponível no mundo inteiro. Faltam projetos estáveis, em países sérios, organizados, com segurança jurídica, política e econômica. É nisso que vamos trabalhar. Os chineses ficaram muito interessados em Suape e impressionados com o potencial que pode ter como complexo portuário e a possível conexão com uma ferrovia.

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