Medicina 4.0: avanços da ciência e tecnologia na saúde trazem novas perspectivas para o setor

Imagine um paciente asmático que tem uma crise enquanto está dormindo. Um sistema inteligente identifica o problema, aciona o alarme do celular e liga diretamente para um médico de referência. Já com todos os dados do paciente em mãos, enviados online, e com as informações dos seus sinais vitais, o profissional faz uma consulta por telefone e prescreve o medicamento. Uma impressora 3D imprime os remédios na cabeceira da cama, já com chips para monitorar se o asmático realmente os engoliu. Acompanhando a melhora do quadro de saúde do paciente, o sistema libera a pessoa. Ou, no caso de piora, aciona uma ambulância para um socorro. Parece coisa de outro mundo? Bem-vindo ao futuro, que promete terapias cada vez mais automatizadas e personalizadas.

Essa história, que parece vinda de um desenho dos Jetsons, foi contada pelo médico da IBM Watson Health, Miguel Aguiar Netto. Ele foi um dos palestrantes do CAM FPS, evento que tratou sobre o futuro da medicina, que foi realizado pela Algomais, CBN Recife e Mova, com patrocínio da FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde) e apoio do Shopping RioMar e Rede Globo Nordeste. “É para esse modelo que estamos caminhando. Uma realidade que mudará para melhor a vida de nós médicos e das pessoas que procuram nossos serviços”, afirma o especialista em implementação de soluções de inteligência artificial em saúde, que também é emergencista.

As inovações no setor têm trilhado caminhos distintos. Um deles é ofertar um número maior de informações aos médicos. A partir do avanço da inteligência artificial, tanto uma infinidade de dados dos pacientes estará à disposição dos especialistas, como todo o conhecimento científico relevante produzido no mundo. “Cuidar da saúde de alguém é uma arte. A gente precisa ter informação para tomar decisões sobre a terapia. Não podemos fazer isso no escuro, sem evidências científicas. Os sistemas criados a partir das novas tecnologias estão avançando na capacidade de ler os dados médicos que estão na nuvem e com potencial de identificar o que é relevante para o apoio médico”, conta Miguel Aguiar Netto.

Com isso, a publicação de novas pesquisas científicas e dados sobre os padrões de pessoas doentes, por exemplo, podem ser cruzados com o diagnóstico que o médico levantou do paciente. E, assim, contribuir na decisão do tratamento para chegar nos resultados mais eficazes. Esse é um dos serviços em desenvolvimento pela plataforma do IBM Watson Health, sistema criado pela gigante do setor de tecnologia da informação.

O uso de equipamentos tecnológicos com inteligência artificial no apoio dos tratamentos é outra tendência. Segundo Aguiar Netto, já existem bombas de insulina conectadas em wi-fi com o Watson que entendem o comportamento do nível de glicose do paciente. Com esses dados, o sistema consegue prever tendências do quadro de insulina e interagir com o celular, indicando o tipo de alimentação adequada para reverter o quadro ou alertando serviços de emergência. “Isso faz com que as internações por complicações por hiperglicemia ou hipoglicemia sejam reduzidas. As pessoas passam a ter mais segurança e qualidade de vida melhor”.

O avanço no conhecimento da genética humana é outro caminho que tem contribuído de forma significativa para os tratamentos de saúde das mais diversas áreas. O levantamento genético do paciente pode auxiliar principalmente a prevenção e a chamada medicina personalizada (conceito que propõe tratar a saúde do paciente de forma exclusiva). “Cada vez mais temos utilizado técnicas de medicina genômica para o diagnóstico precoce de tumores de câncer, por exemplo. Com elas é possível monitorar o comportamento do tumor e a sua evolução. Podemos refinar muito o conhecimento sobre o paciente e sobre a doença com que estamos lidando. O aconselhamento genético é importante principalmente em doenças hereditárias. Não só no diagnóstico, mas na orientação dos tratamentos”, afirma o geneticista do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, Diogo Soares, que também foi palestrante do CAM FPS.

O recurso tornou-se mundialmente conhecido com o rastreamento genético da atriz Angelina Jolie. Ao identificar a mutação de um gene, que apontava 87% de chances de desenvolver câncer de mama e 50% de sofrer câncer de ovário, ela foi submetida a cirurgias preventivas para retirar os ovários, as trompas de Falópio e fazer dupla mastectomia.

Diogo Soares considera que a técnica de sequenciamento genético já está estabelecida e é uma realidade, mas há ainda fronteiras a serem superadas. “A interpretação desses dados genéticos é um grande desafio, bem como a disseminação para os pacientes do SUS, que é a grande maioria da população”.

STARTUPS IMPULSIONAM INOVAÇÃO

Durante o CAM FPS, Júlio Dantas, Gilliat Falbo, Ubirakitan Maciel e Paulo Melo debateram sobre a contribuição dessas jovens empresas.

Pernambuco tem sido um grande nascedouro de startups. São mais de 300 desenvolvendo soluções e gerando negócios. Entre tantos segmentos sendo beneficiados pela criatividade que brota desse movimento, as healthtechs estão revolucionando os serviços ligados à saúde. As inovações têm contribuído nos tratamentos, na gestão e no relacionamento do setor médico com os pacientes. De olho nesse movimento, a FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde) anunciou recentemente a criação de um Centro de Inovação para estimular e acelerar essas iniciativas.

E uma das mais novas criações dessas jovens empresas traz uma boa notícia para os que sofrem de dor de cabeça crônica. A pernambucana NeuroUP desenvolveu um equipamento que promete melhorar a vida dos 13% da população brasileira acometida por esse mal. O aparelho usa a tecnologia do biofeedback, uma técnica não-invasiva que auxilia no diagnóstico dos motivos que estão gerando a sensação dolorosa. E a partir dessas informações propõe uma solução para dissipar o incômodo.

“Para resolver esse problema montamos uma plataforma sem fio que, a partir de uma faixa na cabeça do paciente, nos permite captar informações musculares. Comparamos essas informações com a nossa base de dados de centenas de pacientes saudáveis. A partir daí a plataforma orienta os pacientes sobre como controlar seus próprios músculos, o que ajudará no alívio da dor”, afirma Ubirakitan Maciel, co-fundador e diretor executivo da startup.

A NeuroUP possui atualmente 35 clientes no Brasil e estima que a tecnologia já tenha sido utilizada no tratamento de mais de 800 pacientes. “Nossa expectativa, em três anos, é difundir a técnica no meio científico e levar essa tecnologia para a casa dos pacientes”, afirma Maciel, que tem o objetivo de tornar a inovação da neurotecnologia acessível para a população em geral.
Outra healthtech pernambucana promissora é a Neurobots, que desenvolveu uma solução para auxiliar no tratamento de pacientes vítimas de AVC (acidente vascular cerebral). Utilizando inteligência artificial e a tecnologia da interface homem-máquina, foi criado um exoesqueleto mecânico que apoia a recuperação dos movimentos. De acordo com pesquisas científicas internacionais, o uso dessa técnica tem-se mostrado 30% mais eficiente que as terapias convencionais.

“Na nossa proposta de tratamento, o paciente usa um exoesqueleto acoplado à mão do lado afetado. Quando a pessoa imagina sua mão se movendo, captamos os dados cerebrais e processamos com inteligência artificial. Ao detectarmos a intenção, esse exoesqueleto é ativado, promovendo o movimento. Assim atingimos a fonte do problema que é o cérebro e não o membro”, explica Júlio Dantas, sócio da Neurobots.

A popularização dos smartphones oferece uma vasta gama de facilidades para os pacientes e médicos, como o aplicativo Naora, que permite agendamento das consultas online.

Para atender um alvo que tem menos investimentos em tecnologia e pesquisa, que são as doenças tropicais negligenciadas, a startup Pickcells desenvolveu um sistema de automatização de exames parasitológicos. “Usamos uma técnica específica de visão computacional, que realiza o exame com uso de um equipamento de captura de imagem. As fotos das lâminas com material coletado dos pacientes são enviadas para a nuvem e nosso algoritmo compara com o padrão de uma pessoa saudável. A técnica é usada para vários tipos de exames além da parasitologia”, explica Paulo Melo, CEO da Pickcells. O teste vai ao encontro do objetivo da ONU de eliminar, até 2030, doenças como a esquistossomose, que afeta mais de 218 milhões de pessoas no mundo.

A empresa focou, num primeiro momento, em exames que tinham diagnósticos demorados e pouco acessíveis. A inovação está em fase final de testes em laboratório. “Isso permitirá que possamos disponibilizá-los”, adianta. Uma das vantagens do equipamento é o fato dele poder ser usado para diversos testes, o que não é oferecido pela maioria dos dispositivos desenvolvidos por laboratórios privados. Ele é aplicado também para telemedicina, que possibilita a realização de procedimentos médicos a distância. A empresa fechou recentemente uma parceria de investimento e de cooperação técnica com o Laboratório Sabin para desenvolver outros tipos de exames.

Já a Ávila Soluções desenvolveu o aplicativo Naora para facilitar a vida dos médicos e dos pacientes no agendamento das consultas online. A possibilidade de solicitar a agenda em qualquer horário, incluindo nos finais de semana, é a grande vantagem do app. Hoje cerca de 40% das marcações realizadas são fora do horário comercial.

“A proposta do Naora é também ser um parceiro na saúde do paciente, como, por exemplo, lembrá-lo de fazer o check up. Para os médicos, ele traz funcionalidades como a confirmação de presença e a possibilidade de dar mais visibilidade ao seu perfil”, afirma o idealizador do aplicativo e sócio da Ávila, Romulo Martins. Recentemente a tecnologia do Naora foi utilizada no aplicativo da Unimed Recife, que também passou a fazer o agendamento online. Hoje 600 profissionais médicos já estão cadastrados na tecnologia.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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