Para evitar desperdício e ajudar a quem precisa, surgem novas formas de fazer doações

O químico francês Antoine Laurent de Lavoisier afirmou uma vez que “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase dita há 224 anos até hoje permanece contundente e reverbera em ações que transformam gestos simples em atitudes positivas para evitar o desperdício. O que seria entulho ou lixo para alguns, vira um produto de primeira necessidade para quem precisa.

Com o advento das novas tecnologias, tornou-se ainda mais fácil aderir a esse comportamento. Exemplo disso é o aplicativo Construção Livre, idealizado pelo proprietário do Armazém Etapa Final, localizado no bairro de Casa Amarela, que permite aos usuários doar ou receber restos de peças de material de construção. Quem já enfrentou uma reforma sabe a quantidade de resíduo acumulado após o término da obra – desde tintas, porcelanato, argamassa, cimento, tubos de PVC, britas, tijolos, areia, tomadas, etc – que certamente nunca mais serão reutilizados por quem reformou o imóvel.

Por meio do app, o doador e recebedor combinam o melhor local e horário para a entrega do material. “O aplicativo serve para provocar também no usuário que precise do material a vontade de divulgar o que não estiver mais precisando”, conta Sérgio Nascimento, idealizador do projeto.

A ideia surgiu em 2017 quando Nascimento estava procurando uma solução para os impactos que o setor de construção civil causa no ecossistema. “Os clientes perguntavam para mim qual destino dar para a sobra do material que comprou no armazém”, recorda-se. Depois de ouvir vários relatos, ele começou a pensar em algo que pudesse ser usado coletivamente, diminuir o desperdício de material de obra e criar uma perspectiva de colaboração entre as pessoas: o resultado foi o aplicativo Construção Livre.

Uma ideia que já transformou vidas. Nascimento lembra de uma doação que recebeu de 11 caixas de porcelanato de um casal que estava mudando de residência. Esse material serviu posteriormente para ajudar no piso da casa de uma família que morava em uma situação precária.

O usuário pode acessar o aplicativo no celular por meio do sistema Android em qualquer lugar do Brasil instalando pelo serviço do Google Play gratuitamente. Ainda está em elaboração a versão IOS. Em mais de seis meses de funcionamento já foram doados mil itens diferentes e atendidas 500 pessoas. Nascimento pretende agora ampliar ainda mais o projeto para que possa chegar às grandes empresas do ramo de construção e ganhar mais visibilidade.

Além de manter esse projeto, o empreendedor dispõe de uma central de reciclagem 24 horas no mesmo lugar onde funciona o Armazém Etapa Final. Lá os catadores de lixo podem recolher o que for mais proveitoso para eles.

Comida na mesa
Uma das iniciativas mais longevas é o Banco de Alimentos do Sesc de Pernambuco. Criado em 2002, faz parte dos modelos de atuação do Mesa Brasil Sesc – Rede Nacional de Solidariedade e Cidadania, um programa de responsabilidade social que atua para diminuir os efeitos da fome e da desnutrição. O projeto atua como um elo entre quem deseja doar e quem precisa receber a doação de alimentos perecíveis e não perecíveis, como carnes, frios, lácteos, além de produtos de limpeza e higiene, utensílios e até brinquedos. “Só não recebemos bebidas alcoólicas e produtos que estão fora da validade ou com alguma característica que apresente risco à saúde do consumidor”, explica Isolda Braga, gerente do Banco de Alimentos do Sesc Pernambuco.

A proposta de criar o projeto no Estado surgiu depois que a Fecomércio Pernambuco apresentou em reunião com a Confederação Nacional do Comércio (CNC) a experiência bem-sucedida do Banco de Alimentos em Madri, na Espanha. Após aprovada a ideia, o banco já recebeu doações de produtos de 644 empresas e atendeu mais de 124 mil pessoas ligadas a 379 instituições beneficentes em 51 municípios de Pernambuco e dois da Bahia.

A gerente conta que as pessoas beneficiadas, em sua maioria, encontram-se em vulnerabilidade social e insegurança alimentar. “São instituições que atendem os cidadãos carentes de alimentos, itens de higiene pessoal, limpeza e roupas”, diz Isolda. Uma das beneficiadas com a ação é o Lar Fabiano de Cristo, localizado no bairro da Várzea, no Recife, que recebe crianças e famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social.

Para as empresas que querem participar do projeto, os profissionais do Sesc ficam disponíveis para recolher os produtos no dia, horário e local estabelecidos pelo doador. Podem ajudar indústrias de alimentos, centrais de distribuição, supermercados, armazéns, redes varejistas, associações de produtores rurais, postos de combustíveis, gráficas e empresas de embalagens. A coleta é realizada por 11 veículos, levando os itens para uma das cinco unidades da ação existentes no Estado (Recife, Caruaru, Arcoverde, Garanhuns e Petrolina). Em seguida, esses itens são entregues às entidades filantrópicas que fazem a distribuição entre os cidadãos.

Uma das ações que mais tem causado curiosidade no consumidor é a Loja Vazia, espaço situado no piso L1 do Shopping Patteo Olinda, que estimula a doação de roupas, sapatos e acessórios. Os doadores podem colocar as peças doadas nas prateleiras e cabides. “A reação das pessoas é muito engraçada. Elas olham curiosas e ficam se questionando o que é uma Loja Vazia. No segundo momento elas já voltam com a sacola e doam”, conta Cristina Veiga, superintendente do shopping.

Iniciativa do Shopping Patteo Olinda, a Loja Vazia estimula a doação de roupas, sapatos e acessórios, e vem despertando a curiosidade dos consumidores. Foto: Tom Cabral

 

A ideia partiu da agência de publicidade paulista Loducca, quando em 2015, após a crise econômica, muitas lojas começaram a fechar e as vendas nos shoppings centers diminuíram. Pela grande quantidade de butiques vagas, eles prophttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam ocupar esse espaço com a ação. Esse projeto, inclusive, já foi reconhecido internacionalmente como um dos cases mais inovadores do mundo, de acordo com o prêmio Tomorrow Awards. Aos poucos essa iniciativa se espalhou por alguns centros de consumo do Brasil.

O Shopping Patteo Olinda aderiu à proposta no momento da inauguração do centro de compras. “Logo nos primeiros dias, o estabelecimento estava totalmente vazio. Fizemos, então, uma mobilização no administrativo do empreendimento e pedimos às pessoas que doassem roupas e sapatos que não servissem mais”, recorda Cristina. Era o gatilho que precisavam para dar força ao projeto, pois não demorou muito para que o público se contagiasse com a ideia. Em menos de dois meses de funcionamento do mall, o espaço já bateu a marca de uma tonelada de itens arrecadados.

Embora não exista funcionário presente na Loja Vazia, ela diariamente é organizada pela administração do shopping para que, ao chegar no espaço, as doações não fiquem amontoadas. Na sexta-feira, o excesso de roupas e sapatos é recolhido pela supervisão para dar lugar às novas entregas, pois no fim de semana é o período em que mais recebem donativos. Após reunir todo material doado em um determinado tempo, o shopping o entrega aos centros de assistência seguindo orientação da Prefeitura de Olinda.

“Com esse gesto estamos oportunizando um olhar para o próximo de forma perene. Não é só em datas especiais, como o Natal, por exemplo”, afirma Cristina. As duas primeiras instituições a receber a ação foi a Casa de Passagem e a Casa de Acolhimento. A entrega mais recente foi na República, espaço que acolhe crianças e adultos em situação de rua.

A Loja Vazia do Shopping Patteo Olinda funcionará por tempo indeterminado, de acordo com o horário de funcionamento do centro de compras, que é de segunda a sábado, das 9h às 22h, e nos domingos e feriados das 12h às 21h.

*Pelo repórter Paulo Ricardo Mendes

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