Energia solar e “Uber dos barcos”: soluções para o congestionamento

Muitos recifenses sonham em fazer seus deslocamentos na cidade pelo Capibaribe. Seria uma maneira prazerosa de livrarem-se do trânsito e ainda contemplar o Recife a partir do ângulo de quem navega nas águas desse rio que serpenteia quase toda a capital pernambucana. Esse sonho está um pouco mais perto de se tornar realidade com dois novos projetos que prometem sair do papel no médio prazo. Um deles é um tipo de Uber dos barqueiros que já trabalham oferecendo a travessia pelo curso d’água e o outro prevê a construção de uma embarcação movida à energia solar.

Com o investimento garantido de US$ 7,5 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente, essa embarcação compõe o projeto CITinova, desenvolvido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Comunicação e Inovação (MCTIC). O barco terá como percurso o Parque do Caiara, no bairro do Cordeiro, até a Praça das Cigarras, no Poço da Panela. A iniciativa tem como parceiros executivos o Porto Digital e a Aries (Agência Recife para Inovação e Estratégia). A embarcação transportará entre 20 e 25 pessoas e sua conclusão está prevista para o ano de 2021.

Além do barco, da construção das estações e do investimento em melhorias urbanas no entorno dos locais de embarque, a iniciativa contemplará também um jardim filtrante. Essa “peça” do projeto será instalada no Canal do Cavouco, purificando cerca de 10% da vazão, que será destinada para uma piscina pública. A urbanização do entorno das estações seguirá as diretrizes do Parque Capibaribe, com ciclovia, calçadas qualificadas, áreas para bicicletas compartilhadas e de espera.

“Um dos nossos objetivos com o projeto é promover o uso de novas tecnologias para acelerar a transição para cidades sustentáveis”, afirma o diretor nacional do Citinova, Guilherme Wiedan. A preocupação com a acessibilidade é outro diferencial. “Descobrimos que a população idosa não consegue acessar os barcos que navegam pelo rio. Nosso projeto será acessível para incluir essas pessoas”, afirma a coordenadora Isadora Freire. No percurso que será feito pela embarcação já existe uma forte procura de mobilidade pelo rio. “Há uma demanda hoje reprimida que é de acesso à UFPE. Seria muito mais rápido atravessar o Capibaribe e pegar um ônibus para completar o trajeto. Queremos potencializar essa demanda”, planeja.

O outro projeto é o Navegue, desenvolvido pelos sócios Caio Scheiddger e Nathália Monteiro que participaram de um hackathon de dados abertos e mobilidade, organizado pelo Porto Digital e pelo Governo Britânico. A startup pernambucana foi incubada recentemente no Porto Digital. “Pensamos em conectar peças que já existem no quebra-cabeça: os barqueiros, que aqui já trabalham, os pescadores e a demanda das pessoas. A gente percebeu que boa parte do trânsito segue, mais ou menos, em paralelo ao rio, principalmente na Zona Norte. Resolvemos viabilizar essa possibilidade do rio ser um possível corredor viário como alternativa ao imenso problema de imobilidade existente”, explica Nathália.

O objetivo do Navegue é conectar passageiros e barqueiros. A entrega do aplicativo será uma das últimas fases do projeto. A previsão é que esteja disponível para os recifenses num prazo de seis meses. Os sócios explicam que o momento é de entendimento de quem usa e oferece o transporte. Eles já iniciaram as conversas com o Poder Público em busca da criação de estruturas (decks) de acesso aos passageiros nos principais pontos de embarque e desembarque.

“Fizemos esse estudo com os barqueiros e vimos que já existe esse nicho de mercado no Recife. Entendemos que outra oportunidade imensa é capacitar os barqueiros e conquistar as pessoas para que elas entendam o rio não só como lazer, mas também como um meio de transporte. O rio é completamente navegável”, assegura Caio. Diferente do projeto Rios da Gente, elaborado ainda para a Copa de 2014, que prevê longos percursos e embarcações de um porte maior, essa iniciativa propõe o uso de pequenos barcos e trajetos mais curtos.

Para o barqueiro e pescador, Anísio da Silva Barros, 54 anos, o projeto vai elevar o número de passageiros. “Nossa clientela com certeza vai aumentar. Seria ótimo se o governo fizesse também uma limpeza no rio. Como eu trabalho como barqueiro e pescador, esse projeto pode até me ajudar a aumentar a renda”, comemora Anísio que trabalha com passeios e possui uma embarcação com capacidade para até 10 pessoas.

Além de fazer a conexão dos passageiros com os barqueiros, o projeto visa também oferecer oportunidades de capacitação para esses profissionais e mapear o fluxo de pessoas que se deslocam pelos rios. O último estudo que apresentou números sobre a navegabilidade, de 1997, apontava uma média de 1,1 mil travessias por dia.

*Por Rafael Dantas, com colaboração de Marcelo Bandeira

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