Novo estilo de vida poderá modificar a mobilidade das cidades

Ainda não é possível mensurar as mudanças que a pandemia trará para a mobilidade urbana, mas há motivos de termos expectativas de boas transformações. Ricardo Corrêa Silva, mestre em arquitetura e urbanismo pela USP e sócio-diretor da TcUrbes, acredita que as alterações no estilo de vida da população poderão mudar o transporte coletivo e os deslocamentos nas grandes cidades.

“Após períodos de mudanças de paradigmas, que são de destruição seguidos por uma criativa renovação, muitas inovações acontecem e outras são aceleradas, como nos períodos que procederam as guerras mundias. Nesse contexto, por exemplo, ocorreu uma grande mudança que veio com o desenvolvimento nada mais nada menos que o do automóvel”. O urbanista explica que isso levou os deslocamentos a aumentaram e as cidades puderam se espraiar.

Fazendo uma comparação histórica, ele lembra que o subúrbio americano, que foi concebido pelo prefeito de Los Angeles em 1908, anterior a Primeira Guerra Mundial, foi rapidamente impulsionado por uma lei federal no período entre guerras que fortaleceu a indústria da construção civil americana. “Na época, todo o ex-combatente americano tinha o direito a uma casa própria”. Essa lei provocou o florescimento nos EUA de um grande contingente de combatentes, em busca da casa própria, que espraiaram as cidades americanas com seu modelo de subúrbio e casa unifamiliares. Essa mudança proporcionou maiores distancias de ocupações urbanas e induziu a necessidade do carros, segundo o urbanista.

Além dos veículos automotivos, uma série de outros paradigmas foram modificados com outras inovações, como o advento do anticoncepcional feminino, do microondas e da geladeira. Novas tecnologias que nos países desenvolvidos permitiram que a indústria se apropriasse da mão de obra feminina, que se emancipava e se libertava dos afazeres domésticos. “Não estou aqui questionando a causa e consequência dos fatos, mas apontando que existe um grande processo que era impossível enxergar por quem estava vivendo aquele momento de transição”.

O impacto da atual pandemia na mobilidade urbana, por exemplo, poderá ser medido pela “imobilidade” que a sociedade viveu neste momento de maior isolamento social. “A classe média, que é o principal vetor de transformação, descobriu que é possível trabalhar de casa. Na verdade já se sabia, mas esses momentos possibilitam as modificações de paradigmas. Portanto, acredito que os shoppings center, baseados no carro, vão ter mudanças aceleradas, concomitante com o florescimento do comércio local e, consequentemente, do transporte ativo:  pedestre, ciclistas e de novos veículos que permitam contato e sinestesia entre pessoas. Assim a infraestrutura urbana para esses modos vai ser melhorada e acredito que esse é o grande legado da pandemia que estamos passando, o de perceber o valor de estar próximo”.
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Mobilidade ativa é uma tendência no mundo pós-pandemia, na análise do urbanista.

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Esse cenário poderá contribuir para a reversão de algumas tendências do mundo pré-pandemia, como o espraiamento da população do espaço urbano. “Essa antiga tendência, pré-pandemia, pode se tornar obsoleta”.

O arquiteto destaca ainda que diante das dificuldades que o mundo inteiro passa pela pandemia, há um florescimento de uma grande criatividade que pode trazer benefícios para a sociedade. Ele sugere, inclusive, que seja interessante para o Brasil observar as experiências não apenas dos países desenvolvidos, mas principalmente as soluções criadas por nossos vizinhos latinoamericanos ou outras nações com muita desigualdade social.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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