Os desafios da ilha de Antônio Vaz em debate

Pelas ruas, praças, prédios e pontes dos bairros de São José, Santo Antônio, Cabanga e Joana Bezerra está grafada a história e a dinâmica da Ilha de Antônio Vaz. Deteriorada por fatores políticos, urbanísticos e econômicos que a afetaram ao longo das últimas décadas, essa região central do Recife ganhou o olhar dos acadêmicos, urbanistas e empresários pernambucanos em torno de uma proposta de revitalização. As discussões do seminário RXH 2019 (Recife x Holanda) e da palestra/caminhada Ilha de Antônio Vaz – Visão de Futuro, que aconteceu durante o REC’n’Play, apontaram para um conjunto de diretrizes para devolver a condição de centralidade desse espaço estratégico na Região Metropolitana do Recife.

A análise de pesquisadores e universitários do Recife, da Holanda e da França que participaram do RXH é de que a Ilha de Antônio Vaz se tornou um território fragmentado, que precisa ser reconectado e encontrar uma nova vocação econômica. O consultor Francisco Cunha faz uma analogia da região como um grande quebra-cabeça histórico desmontado.

Quem transita pelos bairros, por exemplo, sequer consegue perceber que se trata de uma ilha. A improvável ligação da dinâmica social entre o bairro de Santo Antônio, por exemplo, que abriga o Palácio do Campo das Princesas e o Palácio da Justiça com o comércio popular no entorno do Mercado de São José ou com os moradores de baixa renda da Joana Bezerra são um exemplo do desmembramento dessa região que ocupa apenas 3% do território do Recife. Todos esses usos (da administração público, do comércio varejista e de moradia) somam-se ainda a uma concentração elevada de templos barrocos que dão o tom histórico e religioso da ilha.

Entre as conclusões dos debates realizados com arquitetos, urbanistas e universitários, foi elaborada uma visão que projeta uma integração da ilha nos seus aspectos ambiental, econômico, histórico e social. “O futuro dessa ilha depende da integração entre pessoas e o seu patrimônio material e imaterial. Ela resume a alma do Recife”, relatou Roberto Montezuma, professor da UFPE e um dos coordenadores do RXH.

Francisco Cunha, que foi um dos participantes do RXA e responsável por conduzir a palestra/caminhada Antônio Vaz – Visão de Futuro, lembra que anteriormente já havia uma proposta de transformar a Avenida Dantas Barreto em um Boulevard, que com uma conexão de parques seria capaz de fazer uma “sutura” no território desmontado e serviria como um caminho para recosturar toda essa região. Mas o seminário RXA ampliou as discussões até então realizadas, incluindo um olhar especial também para Joana Bezerra e para a Ilha do Zeca, uma unidade de conservação encravada nessa região que possui uma rica diversidade de vegetação.

“O desafio demanda um projeto de desenvolvimento integrado que passa pela reinvenção da vocação econômica do local. Sua vocação inicial se perdeu e precisa ser reinventada considerando a complexidade da unidade territorial de ilha com expressiva demanda social da sua parte esquecida”, propõe Francisco Cunha.

O aspecto ambiental foi bastante destacado pelos pesquisadores estrangeiros que vieram ao Recife para desenhar junto aos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE as diretrizes do futuro dessa região. Estiveram presentes no RXH o conselheiro de paisagem do Ministério de Educação, Cultura e Ciência da Holanda (MECCH), Jeroen Bootsma; o consultor oficial de política de planejamento espacial do MECCH, Frank Altenburg; e o professor Juan Carlos Rojas Arias, da École Nationale Supérieure d’Architecture de Toulouse. “O Recife é uma cidade muito rica. Fizemos esse intercâmbio entre a Holanda e o Recife a fim de cooperar na construção de uma visão para a cidade, que contemple a relação com a água e com a sua cultura. No seminário trabalhamos num plano para o futuro, que acreditamos que beneficiará muito a sua população”, afirmou Bootsma.

A relação entre os moradores da região com as dimensões culturais e ambientais da ilha são alguns assuntos estratégicos a serem tratados na análise de Juan Carlos Rojas. “As pistas com as quais estamos trabalhando têm a ver com a geração de sistemas de mobilidade e infraestrutura cultural para que essa a ilha de todos os tempos também possa ser a ilha de todas as pessoas, de todas as cidades e de todos os elementos. E, especificamente, há uma reflexão focada em dar uma nova dimensão às condições ecológicas da ilha, dar força à cultura e às pessoas que a ocupam para reconhecer esse valor. E também poder valorizar a dimensão patrimonial. Existe uma riqueza natural e construída que precisa ser valorizada”.

De acordo com o consultor Francisco Cunha, a Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL) tem se debruçado há duas décadas sobre o tema da recuperação do Centro do Recife. Mesmo com o esforço em articular atores em defesa dessa região estratégica para a reorganização da cidade, poucos resultados foram alcançados. “Não houve nenhuma mudança significativa. Pelo contrário, a degradação vem progredindo. O problema é tão grande que só um esforço articulado e de amplo espectro é capaz de mudar o ciclo vicioso de decadência em curso”, diagnosticou no evento do REC’n’Play.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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