Poli cria soluções urbanas para o Recife

Nem sempre a população tem conhecimento das experiências produzidas pelas universidades para melhorar o seu cotidiano. Mas, não faltam propostas e projetos acadêmicos com soluções palpáveis para o desenvolvimento local. É o caso do grupo de ensino, pesquisa e extensão da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (Poli/UPE), o DESS (Desenvolvimento Seguro e Sustentável), que tem criado alternativas promissoras para as dificuldades urbanas vividas pelos moradores do Recife.

O grupo surgiu em 2013, por iniciativa da professora Emilia R. Kohlman Rabbani. “Gosto de entender quais são os problemas locais e o que nós, engenheiros, podemos fazer para resolvê-los. E eu senti que não iria conseguir solucionar nada sozinha. Era na conexão com outras pessoas que conseguiríamos sanar essas questões”, defendeu a professora. Emilia formou o DESS com um grupo de professores, pesquisadores e alunos de graduação, especialização e mestrado da Poli e de universidades nacionais e internacionais parceiras.

O objetivo é desenvolver estudos interdisciplinares nas áreas de transporte e da construção civil, considerando os aspectos da sustentabilidade em suas três principais dimensões: ambiental, social e econômica.

O projeto de iniciação científica dos alunos da graduação em engenharia civil Fabrício de Lima e Nivaldo de Arruda, orientados por Emilia e pelo professor Jaime Cabral, é um bom exemplo de como o trabalho do DESS tem conexão com a realidade local. A ideia é encontrar soluções para os alagamentos das ruas, um transtorno comum a muitos municípios em época de chuvas. Eles estudam a drenagem do solo, utilizando a Av. Domingos Ferreira, em Boa Viagem, como objeto de estudo. “Atualmente a Emlurb lista 160 pontos de alagamento no Recife e esse problema surge porque nossa cidade foi construída sobre aterros, ocupando o espaço das águas”, explicou Fabrício.
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Emilia (de blusa branca) com alguns dos alunos do DESS que criam projetos passíveis de serem financiados por empresas, as quais, em contrapartida, ganhariam com a tecnologia desenvolvida na universidade. Foto: Tom Cabral/Algomais

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Drenagem, ressalta o estudante, significa levar a água da chuva para os rios e riachos. “O modelo adotado atualmente, a partir da impermeabilização do solo, não conseguiu mais dar conta do volume de água”, pontuou. Os pesquisadores já iniciaram os testes na avenida para entender o grau de infiltração do solo e, posteriormente, apresentar uma solução.

Já Alyx Silva é mestrando e encabeça uma das pesquisas para auxiliar os engenheiros a optarem por materiais e processos construtivos mais sustentáveis. Para isso ele utiliza o software Revit e processo BIM (Building Information Modeling), que oferece um modelo digital tridimensional que pode ser utilizado de forma compartilhada com todos os envolvidos na indústria da arquitetura, engenharia e construção, desde a concepção até a fase de demolição, abrangendo todo o ciclo de vida da obra. “O objetivo é traçar um comparativo entre os materiais e tornar a sustentabilidade uma decisão prévia na construção”, resume o aluno.

A busca de alternativas sustentáveis para infraestrutura de rodovias é o foco do projeto de Rivaldo Rodrigues, também mestrando. “Vou pesquisar nos editais mais recentes do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para entender o que é que já tem sido aplicado”, informa. Rivaldo é especialista em projetos de infraestrutura e teve sua carreira transformada a partir do programa de mestrado e de sua participação no DESS. “Já projetei várias rodovias, vias urbanas, aeroportos, ferrovias e em toda a minha trajetória de profissional o foco sempre foi o econômico”, relata. “Desde que entrei na Poli e, principalmente no DESS, entendi que o econômico é só um dos pilares da sustentabilidade, você tem que pensar também no social e no meio ambiente”, alerta.

Apesar de realizar todos esses projetos, o DESS sofre com restrições decorrentes da conjuntura econômica atual. “O que podíamos fazer sem dinheiro, estamos fazendo. Imagine só o que poderíamos fazer com mais recursos!”, presume Emília, sem perder o bom humor. Ela relata que os alunos precisam ser criativos e habilidosos para poderem concluir seus projetos.
O grupo enfrenta ainda a suspensão das bolsas. “Eu tinha geralmente três ou quatro bolsistas de mestrado por ano (conseguíamos atender geralmente todas as solicitações de bolsas dos alunos que passavam na seleção) e agora, com o corte, não temos como atender bons mestrandos que apresentam projetos promissores”, lamenta.

Mas o grupo segue firme em seus propósitos e conta com uma rede de intercâmbio com cinco universidades internacionais, além de uma série de colaboradores estrangeiros. Segundo a coordenadora do DESS, além de verbas públicas, o investimento de recursos da iniciativa privada em pesquisa científica sempre apresenta bons retornos. “Meus colegas nos Estados Unidos dizem que lá conseguem financiamento das empresas, aqui também deveria ser assim. Lá fora, os empresários concedem bolsas de mestrado e doutorado, investem no professor e em seus grupos de pesquisa e, em contrapartida, a universidade contribui trazendo mais tecnologia para as empresas”, esclareceu. “Se elas descobrissem o quanto poderiam economizar investindo nas pesquisas, podendo ter um aluno de mestrado ou doutorado trabalhando num tema de seu interesse, elas estariam investindo muito mais nas universidades”, provoca Emilia.

A próxima edição da Algomais vai trazer uma reportagem sobre a pesquisa do DESS que investiga o uso de casca de sururu para substituir o cimento na Ilha de Deus, no Recife.

*Por Yuri Euzébio, da Revista Algomais (redacao@algomais.com)

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