Registro de 30 anos de mudança no espaço urbano do Recife

Fotografar Recife tornou-se uma atividade documental da maior importância diante de tantas interferências na paisagem urbana. Com essa transformação, a história se desmonta na demolição de uma casa, na destruição de um detalhe arquitetônico ou de um pedaço de mangue. O fotógrafo Fred Jordão percebeu a urgência de catalogar essa mudança, fruto de um processo próprio de modernização. Foram 30 anos de fotografia e pesquisa que resultaram no título Recife, a ser lançado pela Cepe Editora no dia 7 de maio, às, 18h, no Bar Central, Santo Amaro. Quem comprar o livro no dia do lançamento receberá também um pôster com uma das fotos que integra a obra.

A lente de Fred Jordão capturou o Recife de verdade, não a cidade maquiada, dos filtros de iPhones, de dias perfeitos e casario iluminado. Retratou os contrastes entre a pobreza extrema e a opulência, entre a riqueza arquitetônica do passado em decadência e o surgimento de uma nova cidade, refletida nos paredões de arranha-céus espelhados, que embotam a paisagem e sombreiam a praia de Boa Viagem.

Nas 175 fotos o leitor terá a oportunidade de reconhecer a beleza da cidade e também as cores desbotadas do casario, as paredes descascadas, a cidade fora de foco, que ao longo do tempo deixou de ser a Veneza Brasileira para incorporar a hellcife ou recífilis, denominação dada pela crítica social que se faz a essa mudança. “O livro é um inventário sentimental, o registro do surgimento de uma nova cidade, que se sobrepôs ao Recife de Lula Cardoso Aires e de Alcir Lacerda”, diz o autor.

Apenas dois textos ilustram a mensagem dessa edição fotográfica: um deles com a assinatura do arquiteto e urbanista Luiz Amorim e o outro do professor e pesquisador José Afonso Jr. – ambos professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao final da apresentação sobre Recife, Amorim questiona: “Como reconhecer-se em uma cidade que se faz esquecer?”. Já Afonso Jr. arremata em sua fala: “A ideia de um livro-cidade não é sobre algo, é para algo. É como um despacho visual que, tal qual no candomblé, não somente mostra, intervém”.

Fred passou 12 anos fora, morou em Porto Alegre e depois em Brasília. Voltou aos 21 anos quando as mudanças começavam a apagar referências da cidade de sua infância. Entre outras coisas dedicou-se à fotografia de rua e a pesquisas no Centro de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco. Conseguiu construir essa narrativa a partir das imagens capturadas do celular, de equipamentos sofisticados e também de câmeras mais simples. O importante era não perder o momento, como o da imagem do Conde da Boa Vista ao pé da ponte com o rosto vandalizado e coberto por abelhas.

“As cidades estão ficando todas muito parecidas e todas muito sem graça. A Rua da Aurora é mais bonita que a Avenida Boa Viagem. Dificilmente alguém vai construir um casarão como aquele, mas esses prédios de espelho estão em qualquer lugar, em Nova Iorque, em Bangkok ou em qualquer cidade do Terceiro Mundo. A modernização padronizou tudo”, analisa Fred Jordão.

O que mais incomoda o autor é que nesse novo perfil Recife deixou de ser uma cidade de convívio para encastelar-se e continuar a sofrer essa transformação, numa narrativa que parece não ter ponto final. “O projeto não se limita a fazer uma denúncia, nem se trata de rescaldo de jornal, mas uma reflexão sobre toda essa modernidade”, salienta.

SOBRE O AUTOR

Fred Valadares Jordão, natural de Bonito, é formado em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pernambuco, turma de 1988. Foi repórter fotográfico no Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco, redações onde trabalhou entre os anos de 1989 a 1994. O autor também foi sócio-fundador da agência Imago Fotografia e curador do Observatório Cultural Malakoff. O fotógrafo expôs em sete individuais, participou de 13 coletivas e sete livros, em parceria com outros fotógrafos: Projeto Lambe Lambe, Rio São Francisco – O homem e a natureza, 50 anos da Chesf; 5 décadas de arte em Pernambuco, Pernambuco popular – Um toque de mestre, Eu vi o mundo; É do coco, é do coqueiro, Sertão verde paisagens.

Serviço:
Lançamento do livro Recife
Quando: 7 de maio, terça-feira
Onde: Bar Central
Endereço: Rua Mamede Simões, 144, Santo Amaro.
Horário: 18h
Preço do livro: R$ 90,00 (impresso)e R$ 27,00 (e-book)

(Do Blog do Governo de Pernambuco)

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