Um centro mais caminhável para o pedestre

Pedestrianização radical para o Bairro do Recife ou seja, tornar as ruas e demais espaços da região acessíveis aos pedestres. Essa foi a proposta que surgiu dentro do CAM – Cidades Algomais na última edição do Rec’n’Play. Moradores da cidade, sejam especialistas ou não, participaram de um debate conduzido pelo consultor Francisco Cunha sobre a caminhabilidade na região. A discussão resultou no apontamento dos principais problemas da mobilidade ativa e propôs soluções. Intervenções públicas para garantir maior segurança e conforto, campanhas de educação e novas legislações que regulem as calçadas estão entre as principais proposições para esse bairro central da capital pernambucana.

Além de defender a caminhabilidade para a reativação e revitalização dos espaços públicos, Francisco Cunha promoveu uma caminhada passando pelas principais vias do Bairro que era o motivo do debate. Com uma intensa participação dos inscritos no evento do Rec’n’Play, foram assinalados vários problemas que dificultam a mobilidade a pé na região. O pavimento, a má qualidade das calçadas, a falta de padronização e a própria ineficiência da legislação são algumas questões-chave. Para exemplificar isso, foi tratado no debate a inclinação irregular das calçadas.

“A legislação e fiscalização não são eficientes para regular os proprietários dos imóveis. Eles fazem as calçadas do jeito que querem, colocam a inclinação da forma que acharem melhor. A norma brasileira que rege a construção e manutenção de calçadas estabelece que no passeio abrangendo uma faixa a partir de 1,20m x 2,10m, a inclinação é no máximo de 3%, segundo as normas da ABNT. No Recife existe inclinação de até 20%”, alerta.

O arquiteto e urbanista Roberto Montezuma, professor da UFPE, criticou o fato de que cada morador ou proprietário do imóvel, quando constrói a calçada defronte de sua residência, escolher qualquer tipo de pavimento que achar conveniente. “Um fator que dificulta a circulação da população, em especial de pessoas com mobilidade reduzida e idosos”, ressaltou o especialista.

Diante da dificuldade histórica de construção e padronização das calçadas na cidade do Recife, Francisco Cunha defendeu uma mudança na distribuição do orçamento que permita ao poder público realizar essas obras em benefício dos pedestres. “A conclusão a que cheguei, depois de muito tempo defendendo uma parceria público-privada das calçadas, é que devemos: destinar pelo menos 20% do orçamento da pavimentação para a construção, manutenção e atualização de calçadas.”

No livro Calçada: o primeiro degrau da cidadania urbana, publicado em 2013, Francisco Cunha considera o passeio como medidor da qualidade de urbanização da cidade. Dentro desse contexto, ressalta ser possível inferir que os problemas nesses espaços não afetam apenas os pedestres, mas a saúde urbana do Recife.

Um dos aspectos mais discutidos pelos participantes foi a falta de educação no trânsito, associada diretamente à cultura “carrocrata”. Vários relatos apontaram que a prioridade do pedestre nas calçadas é completamente desrespeitada pelos veículos. A pouca iluminação dos passeios, a ausência de arborização e de sinalização, insegurança, má localização dos postes e demais equipamentos públicos e os problemas de coleta de lixo foram outros aspectos destacados como dificultadores para a caminhabilidade no bairro que, em verdade, são comuns a grande parte da cidade.

Muitos desses problemas discutidos no evento estão relacionados à legislação, fiscalização e ao comportamento dos moradores ou motoristas. Por essa razão, a maioria das soluções propostas no CAM – Cidades Algomais abrangeu medidas educativas e de regulamentação. Especificamente para o Bairro do Recife, foi sugerido que seja realizada uma melhoria da sinalização do transporte público, que é quase inexistente.

A realização de uma parceria público-privada para os estacionamentos, o fechamento de ruas exclusivas para pedestres (a exemplo do que aconteceu com a Av. Rio Branco) e a disseminação de wi-fi no bairro são outras sugestões registradas no debate. Uma maior integração à comunidade do Pilar localizada na região e o estímulo ao aumento do número de moradores na ilha foram outros direcionamentos propostos. De acordo com o Censo 2010, o Bairro do Recife possui uma população moradora de apenas 602 pessoas.

Por Rafael Dantas

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