Gente & Negócios

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Rafael Dantas

“Bom desempenho do comércio e dos serviços dependerá da renda do trabalho”

Após a avalanche da pandemia sobre o setor de comércio e serviços em 2020, o ano de 2021 indica sinais de retomada, porém há condicionantes para isso. Na análise de Ademilson Saraiva, responsável pela Assessoria Econômica da Fecomércio-PE, o aumento da renda da população e o cenário de queda do desemprego são fatores que poderiam acelerar o aquecimento do setor. Para todas as condicionantes, o avanço da vacinação é o ponto fundamental.

Quais as perspectivas para o comércio e os serviços em Pernambuco neste segundo semestre?
No primeiro semestre de 2020, principalmente nos meses de abril a junho, os serviços e o comércio sofreram um forte impacto com as paralizações e as medidas de isolamento social. Vimos a confiança dos consumidores e as vendas despencarem.
No mesmo período de 2021, vemos taxas de crescimento expressivas, em abril especialmente, quando o volume de vendas no varejo e nos serviços prestados às famílias cresceram 37,3% e 135,3%, respectivamente, em relação a abril de 2020. Mas, esse é um efeito da baixíssima base de comparação. Na comparação com os meses recentes, o crescimento é menos robusto.
Em 2020, o aporte do auxílio emergencial foi muito importante para garantir um desempenho favorável do comércio varejista no segundo semestre. O mesmo não foi possível com os serviços prestados às famílias, que são essencialmente presenciais.
Agora, em 2021, o aporte do auxílio emergencial é menor, o desemprego se elevou substancialmente no estado e o orçamento familiar aperta ainda mais, devido à pressão de preços como alimentos, combustíveis, gás de cozinha e energia elétrica. Esses fatores elevaram o endividamento e têm mantido a intenção de consumo das famílias pernambucanas em baixa nos últimos três meses, de acordo com levantamentos da CNC.
Com tudo isso, o consumidor possivelmente estará menos propenso a gastar no início do segundo semestre, mas há expectativa de que as vendas melhorem e observemos resultado positivo à medida em que taxa de imunização avance e o mercado de trabalho se recupere no estado.

Há alguns relatórios do cenário nacional que apontam um crescimento mais acelerado da economia neste segundo semestre. Quais as razões deste otimismo? Isso colabora para o incremento do comércio?
As perspectivas de crescimento mais acelerado no segundo semestre estão sendo atreladas ao avanço da vacinação, o que permitirá liberar, gradualmente, mais atividades para um funcionamento mais próximo do normal. A medida que esse avanço ocorra e o mercado de trabalho melhore, é que haverá mais confiança em um crescimento sustentável do consumo.
Em nível nacional, há também a perspectiva de crescimento do agronegócio, impulsionado pela alta demanda no mercado externo – vindo das economias mais avançadas na vacinação –, ajudando no crescimento do PIB. Mas, a agropecuária emprega menos que outros setores, como serviços, principalmente. E no estado de Pernambuco essa empregabilidade é ainda mais desproporcional entre os dois setores. Portanto, o avanço da vacinação é ainda mais importante para o mercado de trabalho no estado.

Que fatores você avalia como maiores desafios para fortalecer a retomada do comércio e dos serviços neste segundo semestre no Estado?
O maior desafio, especialmente para alguns serviços presenciais, será se adequar aos protocolos sanitários, que devem ser mantidos por um bom tempo, mesmo com o avanço da imunização. Para isso, as atividades e estabelecimentos também precisam contar com a colaboração dos clientes.
Os serviços ocupam uma parcela significativa da população em Pernambuco, com peso relevante dos conta-própria e informais. A restrição da atividade desses trabalhadores trouxe um forte impacto na massa de rendimentos do trabalho, que em 2020 foi amparada pelo volume do auxílio emergencial, a qual, por sua vez, ajudou o comércio a crescer em meio à pandemia.
Agora, em 2021, um bom desempenho do comércio e dos serviços no segundo semestre, vai depender cada vez mais da renda do trabalho e, portanto, da confiança empresarial e queda do desemprego. Então, o avanço da imunização é o primeiro grande passo para a retomada.

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