Carnaval: PRIVADO ou de RUA?

Fevereiro. Segundo mês do ano, época de volta às aulas, ajustar a rotina, mas também, o período mais aguardado para boa parte dos brasileiros. A folia, ao mesmo tempo, que reúne tribos e diferentes classes sociais, propicia um ambiente para todos os gostos. Desde aquele que passa os cinco dias de festas nas ladeiras de Olinda e nas ruas do Recife, como os que preferem as festas particulares, com open bar e shows vips.

Cada um desses públicos tem seus argumentos para defender a sua preferência. Samuel Costa, 40, por exemplo, conhecido como “Mãozinha”, pela fantasia que usa há 20 carnavais, é adepto da folia gratuita a céu aberto. “Frequento uma festa ou outra nas prévias, mas o meu Carnaval é na rua atrás dos blocos. Porque a graça dessas festas é esperar o ano inteiro para ouvir as mesmas músicas, ir atrás das orquestras, naquele mesmo calor e no aperto. Só vivenciamos isso uma vez no ano!”, justifica Samuel.

Para ele, camarotes e festas privadas que trazem artistas de repercussão nacional não contemplam o verdadeiro espírito carnavalesco. “Essas bandas poderiam se apresentar o ano inteiro. Já a essência dos blocos de ruas é que eles não são atemporais. Não vou organizar a Mulher na Vara para desfilar em abril, por exemplo, porque não teria sentido”, explica o folião.

A folia para ele tem endereço certo, mas sem hora para acabar. Isso porque, Samuel relata que já saiu de casa às 9h do sábado e só voltou às 7h do domingo. “Fui emendando um bloco atrás do outro. Fico nessa pisadinha até a festa acabar”, conta. O gosto pelo Carnaval surgiu ainda na adolescência quando estudava no colégio São Bento em Olinda, e foi crescendo à medida que passou a conhecer e frequentar com os amigos a festa de Momo. Tamanha paixão fez com que tatuasse o homem da meia noite no seu braço e nas costas um caboclo de lança. Como não bastasse guardar para si, ele também registrou na parede da sala versos de músicas carnavalescas, como a do conhecido hino do Elefante de Olinda. “Para se ter ideia, sou apaixonado por futebol, mas nesse período de Carnaval não tem quem me faça perder a folia na rua para assistir algum jogo”, admite Samuel Costa.

Como organizador do Mulher na Vara, ele assume que promove uma festa privada do bloco. “O intuito, na verdade, é arrecadar dinheiro para sairmos no Carnaval da forma como ele merece: organizado, com segurança e bastante alegria”, argumenta.
Outro apaixonado por Carnaval de rua, Fabiano Guerra também organiza uma festa para seu bloco predileto, o Eu Acho é Pouco, com o mesmo objetivo de arrecadar fundos para o desfile. Entretanto, apesar da grande procura do público pelo baile de Carnaval, Guerra admite que se não fosse pela necessidade de custear a saída do bloco, nem faria a festa particular. “Com mais de 40 anos de tradição do Eu Acho é Pouco, acredito que a graça é a brincadeira na rua com os amigos, todo mundo junto pulando e curtindo a folia, momento esse que só o Carnaval proporciona”, explica Fabiano.

A devoção pela folia é tão grande, que, em 2007, casou com a fonoaudióloga Adriana Fairbancks na concentração da festa em frente ao Mosteiro de São Bento. Ambos vestidos nas cores vermelhas e amarelas, em homenagem ao bloco. “Casamos dois dias antes no cartório, mas fizemos questão de comemorar no sábado, em consideração à festa, com direito a altar improvisado, oficial de justiça e bolo”, recorda Guerra.

Fabiano e Adriana casaram em pleno Carnaval

Há também um perfil de folião que aprecia o Carnaval de rua, mas sem a aglomeração da folia olindense. O bloco Fika Trankili, por exemplo, possui cordão de isolamento e oferece ao público algumas regalias, como open bar de cerveja, cachaça, água e refrigerante. Ainda na concentração uma orquestra de frevo anima o público e, logo em seguida, um sambão puxa o trio elétrico que percorre o bairro de Boa Viagem até chegar à Cachaçaria Carvalheira.

O empresário de entretenimento e um dos sócios do bloco, Jorge Peixoto, 32, explica que o Fika Trankili surgiu em 2007 como forma de reunir os amigos, entretanto, a partir do terceiro ano começou a aumentar o número de participantes. O ingresso para o bloco que custa em torno de R$ 200 é concorrido, mas Peixoto ressalta que procura não intensificar a divulgação para manter a essência de ser um bloco entre amigos.

Um outro tipo de folião prefere o conforto dos camarotes privados. A Carvalheira na Ladeira é um desses modelos. A festa, que este ano acontece de 9 a 13 de fevereiro, conta com uma mega estrutura no parque Memorial Arcoverde, no Complexo de Salgadinho, com atrações musicais nacionais, regado a open bar premium de bebidas importadas, cachaça artesanal e cerveja. A responsável pela festa é a empresa Carvalheira, que além de ser conhecida pela cachaçaria, nos últimos 13 anos passou a organizar festas, algumas dentro do espaço.

O primeiro evento da Carva, como é conhecida pelos seus frequentadores, surgiu a partir da ideia de um dos sócios, Geraldo Bandeira, de criar uma festa para os amigos na véspera do Natal. O diretor executivo, Vitor Carvalheira, 30, conta que a escolha da Cachaçaria, empresa da família, no bairro da Imbiribeira, Recife, se deu pela localização e capacidade do espaço, 2.500 pessoas.

Depois de uma conversa com o outro sócio, desenvolveram o Natal da Carva, pensando em atender os amigos. “Surpreendeu muito o resultado das vendas de ingresso. Com isso, pensamos em criar outros eventos na Cachaçaria utilizando a marca. Surgiu assim o São João da Carvalheira, Carvalheira Fantasy e o Fika Trankili, entre vários outros projetos realizados ano a ano”, conta Vitor. Em 2013, os sócios tiveram a ideia de levar a marca para dentro dos festejos de Olinda com a edição do Carvalheira na Ladeira, que geralmente atrai um público de classe média alta, entre 20 e 40 anos. Os ingressos que costumam ser vendidos dois meses antes da festa custam na faixa de R$ 350 a R$ 650.

Gabriela Arruda, 35, conta que nunca teve o perfil de subir e descer as ladeiras de Olinda durante o Carnaval. Embora já tenha ido para os shows no Marco Zero e algumas outras festas de rua, ela prefere aproveitar a folia em camarotes. “Eu me sinto mais segura, não preciso ficar com receio de alguma briga, a energia é outra. Gosto também dos serviços que oferecem, porque essas festas geralmente têm uma preocupação maior com a organização e em agradar o público. O open bar mesmo, não tem hora para acabar e as atrações são sempre muito boas”, justifica.

Há sete anos, Gabriela conheceu o Natal da Carva, logo em seguida, o Carnaval, e desde então, sempre que passa o mês de fevereiro no Recife vai para a festa da Cachaçaria. “Já teve ano que fui para os quatro dias de folia. Em 2017, fui para dois dias e este ano se eu estiver na cidade, irei de novo”.

Bruna Oliveira frequenta os camarotes pela comodidade e segurança.

Da mesma forma, a estudante Bruna de Oliveira, 21, é seduzida pela comodidade dos camarotes. “O que eu gosto é de poder descansar na hora que quero; bebida, comida disponíveis e menos risco de furtos e brigas. Além disso, a programação passeia por todos os ritmos”, argumenta Bruna.

*Por Paulo Ricardo Mendes – algomais@algomais.com

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