A cartilha da queda do futebol pernambucano

*Houldine Nascimento

A temporada 2017 foi desastrosa para o futebol pernambucano: Náutico e Santa Cruz já estão rebaixados para a Série C e o Sport deve cair para a Segunda Divisão. O único que se salvou foi o Salgueiro, que não subiu, mas se manteve na Terceirona. Nos casos de Santa e Náutico, a tragédia se desenhava antes mesmo do início da Série B.

O Timbu tinha uma folha salarial girando em torno de R$ 1,2 mi, mas claramente não havia receita para honrar os vencimentos. A “solução” encontrada foi a dispensa dos jogadores mais caros, a saída do treinador Milton Cruz e um readequação à realidade financeira do clube.

Com isso, os custos de elenco e comissão técnica foram reduzidos para menos de 500 mil reais. Ainda assim, até o fim da competição nacional, o Náutico segue enfrentando sérias dificuldades para pagar jogadores e demais funcionários, convivendo com o atraso de salário.

O torcedor alvirrubro também viu uma constante mudança de técnicos: Dado Cavalcanti, Milton Cruz, Waldemar Lemos e Beto Campos até chegar em Roberto Fernandes. Mas, mais assustador do que isso, são as trocas de presidente. Em menos de um ano, foram quatro gestores. Uma crise interna brutal.

Há anos, o Santa Cruz agoniza com verbas bloqueadas devido às inúmeras ações trabalhistas a que responde. Diferentemente do Náutico, não houve mudanças profundas no elenco, mas os atrasos de vários meses nos salários afundaram o time, de volta à Série C após dez anos. Com rodadas de antecedência, Timbu e Cobra Coral tiveram a queda selada.

De dificuldade financeira, o Sport não pode se queixar. O Leão da Ilha do Retiro consegue fazer os pagamentos em dia. Este ano, o clube teve a maior receita de sua história, beirando os R$ 120 milhões. Mesmo com dinheiro sobrando, a diretoria rubro-negra não soube lidar com isso.

Pior: se hoje o Sport passa por apuros na Série A, muito se deve às patacoadas da cúpula leonina. A começar pela montagem do elenco, que não conta com um substituto imediato para Diego Souza. Quando ele sai, o time fica sem poder de criação. Os dirigentes também não tinham certeza de qual técnico conduziria o time nesta temporada. No início, optaram por manter Daniel Paulista, que esteve à frente da equipe no final de 2016, quando escapou do rebaixamento.

Um empate com o Santa Cruz na Ilha foi suficiente para a sua saída. A direção foi atrás de Ney Franco, que ficou parado em 2016. Em menos de dois meses, foi dispensado. O estopim foi a perda da Copa do Nordeste para o Bahia. Ainda no vestiário, Ney soube que não era mais técnico do Sport.

Assim, Vanderlei Luxemburgo foi o nome escolhido para assumir o Rubro-negro pernambucano na Série A. No primeiro turno, o time foi bem e terminou entre os seis primeiros da competição. A impressão foi de um ressurgimento de Luxa, em baixa há muitos anos. Na Ilha, só se falava em luta por vaga na Libertadores.

No meio do caminho, as coisas começaram a desandar. A permanência de Diego Souza após negociação fracassada com o Palmeiras foi assunto durante um bom tempo. O meia-atacante inclusive fez um pronunciamento criticando a diretoria e ficou por meses sem falar com a imprensa. Somada a isso, está a absurda retirada do Sport da Copa do Nordeste, claro erro do presidente Arnaldo Barros. Era um indicativo de que alguma coisa estava fora da ordem.

O segundo turno veio e o time desandou: em 15 jogos, apenas uma vitória. Quando Luxemburgo teve mais tempo para trabalhar, o futebol sumiu. Um divisor de águas foi a goleada sofrida para o Grêmio por 5 a 0. Na entrevista coletiva, Luxemburgo disparou contra o elenco, tirando a responsabilidade de si. A postura do treinador irritou boa parte do plantel.

No jogo seguinte, nova derrota, desta vez em casa e para o Avaí, time da zona do rebaixamento: 1 a 0. Estava claro que o técnico não tinha mais o controle do vestiário. Contudo, decidiram mantê-lo. Mais do que isso: renovar seu contrato até o fim de 2018.

Na Série A, o time seguia sem vencer. Os resultados não vieram e, mais uma vez, demitiram o treinador no calor do vestiário, após a derrota para o Junior Barranquilla nas quartas de final da Copa Sul-Americana. Pior que a chegada de Luxa foi sua saída, de um amadorismo impressionante.

E eis que Daniel Paulista retorna ao posto de técnico. Por que ele, que não serviu no começo da temporada, seria a solução para os problemas do time? Hoje, o clube está afundado na zona do descenso. No último domingo (12), um vexame diante do lanterna Atlético-GO. Em campo, um futebol letárgico.

Restam quatro jogos para o fim do Brasileirão e não há uma perspectiva de mudar o destino do Rubro-negro. Após a derrota, o vice-presidente do Sport, Gustavo Dubeux, disse que iria conversar com o elenco para saber o que estava faltando. Mais uma prova de que a diretoria do clube está perdida.

Se o Sport de fato cair, a torcida já sabe quem responsabilizar.

*Houldine Nascimento é jornalista

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