Cepe lança documento histórico do Nordeste do século XVII

Brandônio e Alviano são dois portugueses que residem no Nordeste do Brasil, na época em que ainda era colônia de Portugal. O primeiro chegou faz tempo; o segundo acabou de chegar e não cessa de comparar o Brasil Colônia à sua metrópole d’além-mar, sempre depreciando aquele em relação a esta. Já Brandônio faz o contrário: já habituado e maravilhado com o que vive aqui, ressalta as qualidades locais e ainda levanta hipóteses sobre o futuro da terra e a possibilidade de exploração de seus recursos. Cenas descrevem o choque cultural da convivência com os índios que aqui já habitavam. É na forma de uma conversa ficcional entre esses dois personagens que se baseia o documento histórico Diálogo das grandezas do Brasil, sexto livro em prosa a aparecer no cenário brasileiro. Após 400 anos – foi publicado em 1618 -, o livro ganha nova edição pela Cepe Editora, organizado pelo professor de Antropologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Caesar Sobreira. O lançamento acontecerá no dia 23 de abril, às 19h, no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano.

A nova edição é resultado de uma pesquisa de pós-doutorado em Linguística, realizada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal, em 2011, e custou ao organizador um ano de dedicação total. Caesar conta que conheceu Diálogo… em 1977, nas prateleiras da extinta Livro 7. Desde então, já leu o livro dezenas de vezes, principalmente quando ela se tornou objeto de estudo. Caesar analisou o manuscrito baseado nos critérios científicos da crítica textual, uma subárea da Linguística, comparando cada uma das dez edições já publicadas e apontando imperfeições em cada uma delas.

Com dez edições diferentes – tendo sido a primeira delas de 1930, lançada pela Academia Brasileira de Letras e com apresentação de Capistrano de Abreu – , o livro nunca havia recebido uma versão baseada no apógrafo (cópia) guardado na Biblioteca Nacional de Lisboa. As outras edições haviam sido escritas a partir do apógrafo pertencente à Biblioteca Real de Leiden, na Holanda. “O texto original desapareceu durante o incêndio ocorrido em Olinda no período da ocupação holandesa em Pernambuco”, esclarece o professor. Todas as edições anteriores são revisitadas por Caesar na apresentação desta nova edição da Cepe, com o objetivo de mostrar ao leitor a importância histórica do documento que terá em mãos, e as imprecisões de outras edições, pois a edição lisboeta aparece como mais completa. A versão da então Faculdade do Recife (hoje UFPE), de 1962, é a primeira a trazer o texto integral, organizada por José Antônio Gonsalves de Mello, para quem o livro é “um dos documentos fundamentais da história do Nordeste brasileiro no primeiro quartel do século XVII.”

A obra, de autoria desconhecida, se chamava apenas Das Grandezas do Brasil, já que o termo diálogo era considerado na época um gênero literário. Mas acredita-se que foi escrita pelo cristão-novo português Ambrósio Fernandes Brandão. Consta que se tratava de um senhor de engenho que viveu no Brasil colonial, e se tornou escritor ao narrar os aspectos econômicos, sociais, a fauna, a flora, a mineralogia, o sistema jurídico e sociológico, o comportamento dos índios, entre outros aspectos da então colônia portuguesa. Caesar ressalta peculiaridades como a comida. O personagem Brandônio compara, por exemplo, a castanha assada de cajú daqui com a portuguesa, sendo a de cá muito mais saborosa. “O texto é anônimo, mas pela história que conta, do corte da cana-de-açúcar, e das táticas militares, tudo leva ao nome de Brandão, um empreendedor”, sugere Sobreira. Sobre as táticas militares, por exemplo, aconselha o uso bélico dos gases fétidos emitidos por um gambá nativo.

Outro ineditismo se deve também ao fato de ser esta a primeira edição fac-similar diplomático-interpretativa, com direito ao fac-símile lado a lado com a transcrição. Além de fac-similar, a obra é justalinear, pois cada linha do texto digitado corresponde ao texto manuscrito – esse trabalho é também chamado de transcrição paleográfica. “É a primeira vez que se faz uma edição diplomático-interpretativa, atualizando apenas a grafia, sem interferir no texto do autor. Por exemplo, o rio Amazonas é chamado de Almazonas, uma denominação que achei poética. Acredito que o autor era um homem de grande capital intelectual. Estamos diante de uma obra atemporal de um autor anônimo, português de nascimento e residente em Pernambuco por largos anos”, declara Sobreira.

Serviço:
Lançamento do livro Diálogo das grandezas do Brasil
Quando: 24 de abril
Onde: Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano
Endereço: Rua do Hospício, 130, Boa Vista
Horário: 19h
Preço do livro: R$ 60,00 (impresso) e R$ 18,00 (E-book)

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