“Não se pode, em hipótese alguma, excluir o trecho até Suape da Transnordestina”

Adriano Lucena, presidente do Crea-PE, fala das articulações para mobilizar setores de Pernambuco em defesa da manutenção do ramal que conecta Suape à Transnordestina. Ele explica os motivos que embasam a manutenção do trecho que liga o porto à ferrovia e afirma estar esperançoso de que o problema será solucionado.

D esde que assumiu a gestão do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco), a nova direção da entidade decidiu voltar-se para os problemas que afligem a sociedade, destacando o papel social dos engenheiros. Questões como moradia, mobilidade, prejuízos provocados pelas enchentes têm sido alvo de ações da entidade. E foi dentro dessa linha de atuação que o Crea-PE se engajou na defesa da manutenção do ramal do Porto de Suape da Transnordestina. O trecho de Salgueiro até o porto pernambucano foi excluído num aditivo de contrato assinado entre a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e a empresa TLSA (para compreender detalhes desse tema confira a matéria de capa da edição anterior da Algomais).

Nesta entrevista de Cláudia Santos com o presidente do conselho Adriano Lucena, ele fala sobre as conversas que tem mantido com outras entidades como o Sistema S, sindicatos, políticos e universidades, para construir uma mobilização em prol do porto pernambucano. Também tem mantido conversas com as secretarias estaduais, mas ressalva que precisam “avançar mais com a participação efetiva do gabinete da governadora”. O presidente do Crea-PE ressalta as razões técnicas que conferem a Suape ter a conexão com a ferrovia e se diz esperançoso com o surgimento de uma solução por parte da gestão do presidente Lula. “Nós estamos falando do aditivo assinado no governo passado. Nós mudamos essa página. Hoje, quem está no governo é quem idealizou a ferrovia em 2006”, analisa Lucena. Confira a seguir a entrevista:

Qual é a posição do Crea-PE sobre o aditivo que foi assinado entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres e a empresa TLSA que exclui o ramal da Transnordestina para Suape?

Foi um equívoco a assinatura desse aditivo. Não se pode, em hipótese alguma, excluir o trecho de Salgueiro a Suape. Esse trecho, como bem colocado na reportagem da Algomais, tem uma extensão menor em comparação à Pecém, e abrange o maior porto do Nordeste que é o Porto de Suape. Então, não tem o menor sentido esse aditivo. Precisamos da mobilização da sociedade organizada em Pernambuco. Não só do Crea, mas do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), dos diversos conselhos, do Sistema S, dos políticos, para que possamos mostrar à sociedade brasileira uma forma eficiente de utilizar esses recursos que são dos brasileiros. E uma forma eficiente de realizar essa entrega é fazer o percurso até Suape.

Que tipo de mobilização o Crea-PE tem feito nesse sentido?

O Crea tem buscado debater esse assunto com o Sistema S, com Bernardo [Peixoto, presidente] da Fecomércio, com o Sinduscon-PE (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco), com o Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva). Temos buscado conversar com o mundo empresarial e também com universidades. Inclusive, sexta-feira passada (dia 10), estivemos em Petrolina conversando com o reitor da Univasf para que pudéssemos ter uma ação de forma organizada e programada, com uma cronologia para que possamos ter ações imediatas. Estava conosco em Petrolina o deputado Lucas Ramos. Essa ação tem que envolver todos os pernambucanos, em todas as frentes para que Pernambuco não seja prejudicado e não é só Pernambuco não, para que o Nordeste não seja prejudicado, porque a construção do ramal para Suape será muito boa não só para Pernambuco, mas para toda a região.

Como vão as articulações do Crea com o governo estadual para uma mobilização em favor da construção do ramal da ferrovia para Suape?

Conversamos com as secretarias afins ao tema, como Desenvolvimento Econômico, Mobilidade e Infraestrutura. Entendemos que precisamos avançar mais com a participação efetiva do gabinete da governadora.

E quais são os próximos passos?

Vamos fazer seminários, promover debates, para mostrar que do ponto de vista técnico e econômico temos o melhor traçado, e o melhor porto para que a ferrovia possa chegar. Também não pode ser um debate ou ações de palavras jogadas ao vento, precisamos ter ações concretas para mostrar a importância de concluir o traçado até Suape, mostrarmos por que temos o melhor traçado, porque ele é mais eficiente do ponto de vista econômico, ambiental e social. Essas ações têm que estar juntas, ligadas, como uma corrente, com cada peça conectada para que a gente possa tornar isso cada vez mais forte.

O senhor conhece o embasamento técnico que levou a esse aditivo?

Do ponto de vista técnico, o que a gente tem conhecimento, até o momento, é que o traçado até Suape, é mais vantajoso por oferecer um percurso mais curto em 100 km. Numa viagem de ida e volta, a redução é de 200 km. Além disso, Suape hoje é o melhor porto do Nordeste. Então nós não conseguimos identificar o porquê de não utilizar o traçado de Suape do ponto de vista técnico, econômico e social.

A TLSA e a ANTT anunciaram que embasaram o aditivo num estudo da consultoria Mckinsey…

Até o momento eu não conheço alguém que tenha conhecimento desse estudo e em todas as abordagens levamos em consideração os elementos postos no mundo técnico que mostram que o traçado até Suape é muito mais eficiente do que qualquer outro porto.

A TLSA construiu a ferrovia de Eliseu Martins, no Piauí, até Salgueiro e pretende construir o restante do trajeto até Pecém. A Bemisa mostrou interesse em completar o percurso de até Suape. Qual a melhor solução para realizar o transporte de carga das duas empresas?

Se a Bemisa ficar responsável para concluir o traçado até Suape, o ideal seria que ela utilize o percurso da TLSA até Salgueiro. Eu vejo como uma coisa muito ignorante do ponto de vista da modernidade fazer uma ferrovia duplicada, paralela a uma já existente. Então, a Bemisa utilizando esse percurso, pagaria à TLSA pelo uso e faria o percurso de Salgueiro até Suape. Parece que o trajeto até Custódia também estaria pronto, então teria que fazer esse complemento. Assim seria mais eficiente. Mas se for necessário, faz-se uma ferrovia paralela, embora não seja recomendável.

Foi noticiado que o aditivo impede que nos próximos seis anos, um novo investidor, como a Bemisa, complete a ferrovia. O senhor tem conhecimento dos motivos desse impedimento?

Não, não tenho conhecimento e acho uma ignorância muito grande. Mas, também é importante que analisemos essa situação do ponto de vista histórico e temporal. Nós estamos falando do aditivo assinado no governo passado. Nós mudamos essa página. Hoje, quem está no governo é quem idealizou a ferrovia em 2006, que era um projeto antigo, um desejo do nordestino.

Portanto, quem tem o poder agora de fazer as devidas correções desse aditivo é quem idealizou a ferrovia em 2006. Então, do ponto de vista político, eu não vejo uma situação muito complicada de ser resolvida, acho até que é muito mais fácil com essa mudança de governo. Basta canalizarmos todas as forças não só em prol de Pernambuco, mas em prol do Nordeste, em prol do Brasil.

Existe a interpretação de que essa demora seria em decorrência de levantar os custos da construção que a TLSA fez de Salgueiro até Custódia.

Isso é fácil de resolver porque nas obras de engenharia você já tem os valores estabelecidos. Aquilo que tiver para ser pago, deve-se pagar. É importante também que fazer um registro de que o ex-presidente do Porto de Suape, Roberto Gusmão, ocupa hoje um cargo no Ministério dos Portos. Ele pode ser também um elemento, uma ponte de ligação para que possamos resolver essa questão de forma até mais célere. Qualquer solução, eu acho que tem que passar pelo ministro dos Portos e Aeroportos [Márcio França] e Roberto Gusmão pode nos ajudar para que possamos esclarecer esses pontos do aditivo de forma mais detalhada com todas as cláusulas do que foi pactuado.

Também acho que o debate não tem que ser em prol Pernambuco contra o Ceará. Não! O debate tem que ser em prol do Nordeste, em prol do Brasil e que a solução encontrada seja muito boa para o Ceará, para o Rio Grande do Norte, para a Paraíba, para o Maranhão, para o Piauí, para Pernambuco. Esse tem que ser o debate e que deve ser focado na técnica, nos elementos financeiros, nos elementos sociais também, na promoção do emprego e renda para o povo nordestino.

Por sinal, especialistas ressaltam que a ideia inicial da ferrovia, ainda no tempo de Dom Pedro II, era de contemplar o Nordeste, com ramais para vários Estados.

Um país continental como o nosso tem que começar a mudar o modal de rodoviário para ferroviário. Essa mudança vai reduzir acidentes, melhorar a eficiência, reduzir o preço do frete, reduzir o preço que chega ao consumidor e gerar desenvolvimento para a nossa região que tanto precisa.

Eu estou muito confiante que a gente encontre a solução desse problema que está sendo tratado como um problema grande, mas que eu acho que, com o envolvimento da boa política, das universidades, da sociedade organizada, a gente vai encontrar a melhor solução. Lembra daquele ditado que diz: do limão a gente vai fazer uma limonada? Eu acho que é nessa perspectiva que a gente deve acreditar e que desse limão a gente vai fazer uma grande limonada e vai saborear com a construção dessa ferrovia.

Qual é a responsabilidade do Ministério dos Transportes para destravar a Transnordestina?

O papel do Ministério é importante, principalmente neste novo governo, para que a gente possa destravar a ferrovia. Não é deixar a questão só na mão da empresa. Existe a concessão, existe a TLSA, mas existe também o Ministério dos Transportes, existe uma agência, existe o Ministério dos Portos. Portanto, podemos construir a solução para o problema e devemos buscar essa solução pactuada com o Governo Federal, como o Governo Estadual e com a sociedade organizada. O Ministério dos Transportes é fundamental para destravar esse problema.

O que falta para acontecer essa articulação?

Eu acho que agora falta essa mobilização. Mas há também um detalhe que é um fato político: foi criado um documento, que é o aditivo, pelo governo passado. Cabe a gente, agora, fazer umas articulações para modificar esse aditivo que, do ponto de vista econômico e social, é uma ameaça.

Mas o senhor não acha que essa mobilização está muito morosa?

É que são tantos problemas. Nestes 60 dias de governo, houve o 8 de Janeiro, a invasão em Brasília. Depois, nesse mesmo dia, aconteceram as chuvas em Araraquara, o presidente foi pra São Paulo. Depois, houve o problema no litoral de São Paulo, das enchentes, teve nesse período também a questão dos índios ianomâmis, a crise da seca no Rio Grande do Sul. São tantos problemas para resolver que, às vezes, o tempo não é tão amigo do que nós desejamos.

Mas eu acredito na mobilização em Pernambuco, a Algomais está fazendo um papel fundamental, a imprensa tem que fazer esse papel, os conselhos precisam se manifestar também e acho que vai dar certo. Em nenhum momento eu perdi a esperança de que a Transnordestina vai ser concluída. Eu sou confiante, esperançoso de que a gente vai conseguir destravar, até porque Pernambuco com o Porto de Suape leva vantagem sobre os demais portos do Nordeste.


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