Il Maledetto marcou o retorno da ópera ao Recife

Escrita pelo pernambucano Euclides Fonsêca há 120 anos, a ópera Il Maledetto, que é inspirada na história bíblica dos irmãos Caim e Abel, foi apresentada no último final de semana no Recife pela Sinfonieta da UFPE e pela Academia de Ópera e Repertório. O espetáculo inédito ganhou o palco do Teatro Santa Isabel, unindo a ópera ao balé, música de câmara e um monólogo.

O espetáculo emocionante, montado em sua maioria por instrumentistas, cantores, bailarinos e atores pernambucanos, marcou a retomada de um trabalho dos profissionais da música para colocar a ópera na cena cultural pernambucana. Mais de quarenta artistas deram vida a uma leitura muito peculiar de Euclides Fonsêca principalmente de Caim, interpretado na ópera pelo tenor pernambucano Lucas Melo. Ele contracena com Franz Ribeiro, contratenor que veio de Natal para atuar no espetáculo como Abel; com a soprano Jéssica Soares, que faz o personagem Adah, e com Rodrigo Cruz, baixo-barítono que representa o pai Adão. Os quatro cantores que interpretam a história são acompanhados ao longo do espetáculo pelo Coro da Academia de Ópera e Repertório.

Antes da apresentação desse drama da primeira família bíblica, o espetáculo guardou momentos bem especiais, como a obra para orquestra “A Descoberta do Brasil”, do compositor Euclides Fonseca e também restaurada para essa ocasião, seguido de um prólogo que foi um monólogo escrito por Eron Vilar e interpretado cenicamente pelo ator Arilson Lope, que faz um discurso de um Caim incomodado por sua condenação e cheio de perguntas e indagações acerca da sua história, e da exibição dos bailarinos Victor Marinho & Jonas Alves. Diferentes olhares e formas de contar a mesma narrativa desse drama familiar que é um dos mais conhecidos do mundo, mas sob a lente criativa do músico pernambucano de Euclides Fonseca e com uma aguardada apresentação da Sinfonieta da UFPE.

A Sinfonieta da UFPE, dirigida pelo maestro Wendell Kettle reúne professores e alguns alunos das principais escolas de música de Pernambuco, que tinham grande expectativa de voltar aos palcos.  Foram quase dois anos longe dos palcos devido à pandemia, que atropelou esse movimento artístico que vinha num crescente, com uma série de apresentações e até a promoção do Festival de Ópera (que aconteceu em 2019). Em 2022 outra obra de Euclides Fonseca chegará ao palco do Teatro Santa Isabel, mas ainda sem data.

Os manuscritos de Euclides Fonseca foram cedidos pela biblioteca do Instituto Ricardo Brennand. “É com muita alegria e empenho e que estamos nos dedicando ao resgate histórico do repertório operístico pernambucano, tanto

no que diz respeito à restauração das partituras das obras quanto ao fato de trazer suas montagens para o público atual”, diz o maestro Wendell Kettle. “Il Madeletto foi a segunda ópera do Euclides da Fonseca. Estamos num projeto de valorizar o nosso repertório, de recuperar toda a ópera dele. A terceira é a Princesa do Catete, com livreto do Carneiro Vilela, que será apresentada em algum momento no próximo ano. E a última chama-se as As Donzelas d’Honor, de uma certa visionaridade, já que era só para mulheres”. A primeira, “Leonor, foi a primeira apresentada pela Sinfonieta da UFPE, em março de 2019, nesse trabalho de valorizar a produção de ópera brasileira e pernambucana.

O espetáculo Il Maledetto, que contou com financiamento do Funcultura, encerrou neste domingo a sua temporada em 2021 deixando grande expectativa sobre a formação dessa nova cena da música pernambucana em torno da ópera e das demais manifestações artísticas que com ela dialogam. Um trabalho que merece ser conferido por todos os pernambucanos e também ultrapassar as fronteiras do Estado.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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