Maurício Romão: “Fake news não decidem eleições”

Numa campanha eleitoral influenciada pela pandemia e com a perspectiva de uso intenso das redes sociais, as fake news, segundo o analista político Maurício Romão, continuarão sendo um recurso usado pelos candidatos. Mas, ressalta que elas não são tão decisivas no resultado das eleições. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Romão, que é Ph.D em economia pela Universidade de Illinois (EUA), comenta a disputa no Recife, a influência do presidente Jair Bolsonaro no pleito e assegura que o brasileiro é religioso, tradicional nos costumes, pacato, conciliador, de apego familiar. “Uma candidatura que não respeite esse status quo está fadada à derrota”, sentencia.

Como a pandemia pode impactar a próxima eleição?
As campanhas dos candidatos vão acontecer com pouca presença física junto ao eleitorado. A campanha, digamos, analógica, passa a ser virtual e isso traz consequências: a rua física se torna rua virtual, o comitê físico agora é remoto, os contatos pessoais de rua passam a ser de redes, e o bom cabo eleitoral agora é o que tem influência digital. A propaganda com panfletos, santinhos, etc., agora será divulgada com mensagens de vídeo e por aí vai. É uma mudança muito profunda em termos de eleição.

Então as mídias sociais terão um peso grande nesta eleição?
Terão influência cada vez maior à medida em que seu uso se vai alastrando. O Brasil é o quarto país mais conectado à internet do mundo, tem cerca de 134 milhões de usuários, o que dá uma ideia de como essa ferramenta pode impactar nas eleições. Mas, apenas um pouco mais de 60% da população brasileira têm acesso à internet. As classes D e E, por exemplo, quando se tornam usuárias de internet, o fazem com pacotes de dados limitados.  As mídias sociais são segmentadas por essência. O óbvio precisa ser dito: o alcance das mídias sociais depende do seu uso profissional pelo candidato. Não adianta apenas divulgar os eventos da campanha, o dia a dia do candidato ou disparar mensagens de apelo, genéricas, retóricas, pelo Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp, etc., na tentativa de apreender a atenção do internauta eleitor e eventualmente conquistar seu voto. As mídias sociais
exigem consonância cognitiva entre o emissor e o receptor das mensagens. Além da criatividade, candidatos têm que ter postura ativa, interagindo com os eleitores, mostrando suas propostas e soluções para os problemas da comunidade.

Mas, a TV aberta continua importante, principalmente com o afastamento social causado pela pandemia. É um veículo de massa. Alcança milhares de eleitores, incluindo os que estão nos mais distantes rincões. As inserções, todavia, são muito mais valorizadas pelas campanhas do que o horário fixo da propaganda eleitoral, naquele formato antiquado, repetitivo. Nas inserções, a comunicação se faz de surpresa, imiscuindo-se momentaneamente pela programação que o eleitor está vendo ou ouvindo. Enfim, as redes sociais serão mais relevantes do que
foram no passado e, se forem usadas profissionalmente e com competência, junto com o rádio e a TV, poderão ser decisivas.

Há um combate às fake news por parte do STF e de iniciativas como a do Sleeping Giants. O senhor acredita que as fake news serão usadas com a mesma intensidade da campanha anterior?
O problema das fake news é mundial. Em todos os lugares estão tentando achar uma fórmula de coibi-las. O intento é necessário e urgente, mas sempre esbarra na questão de controle da mídia, individualidade, liberdade de expressão, etc. Na eleição deste ano acho que ainda vão dar muito o que falar, mas não creio que influenciarão resultados, até porque se trata de um jogo de soma zero: os concorrentes praticam o mesmo expediente. Com todos os lados usando massivamente as tecnologias digitais, fake news não decidem eleições para um deles.

Qual foi o impacto das fake news na eleição passada para presidente, já que você mencionou?
Há uma narrativa forte do PT de que o partido perdeu a eleição de 2018 por causa das fake news bolsonaristas. Yoval Harari, no seu livro 21 Lições Para o Século 21, diz que “os humanos pensam em forma de narrativas e , não, de fatos, números ou equações e quanto mais simples a narrativa, melhor”. O PT sempre cria narrativas simples e eficazes. Na derrota de 2018, para se justificar perante sua militância, dissemina uma fake news travestida de narrativa, bem simples. Mas exagerou na dose, foi de simples à simplória: como uma eleição com uma diferença de 18 milhões de votos a favor de Bolsonaro contra Haddad no primeiro turno e mais de 10 milhões no segundo, teria sido decidida por causa das fake news?

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 173.4 DA REVISTA ALGOMAIS

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