Ninho de Palavras

Ninho de Palavras

Bruno Moury Fernandes

O bom humor

Voando entre Natal e o Recife, lendo a revista de bordo, deparei-me com uma reportagem sobre “os barbixas”, grupo de humoristas. Durante o texto o repórter explica que é difícil arrancar alguma resposta séria dos integrantes do grupo. Levam tudo na brincadeira e no bom humor.
Nunca escrevi sobre isso, mas agora o faço: acredito no bom humor como estilo de vida. O pacto que fiz com o bom humor é irrevogável e irretratável. Pode acontecer o que for. E olhe que já aconteceu um lote de merda: AVC na minha madrinha (querida Fatinha), choque (e morte) do meu pai, autismo no meu filho, ligamento do joelho rompido, separação de casais queridos, liturgias cansativas dos ritos processuais no dia a dia da vida forense, seca no Sertão, trânsito caótico, contas pra pagar, etc. Nada disso é capaz de me tirar o bom humor, a alegria de viver. Claro que muitas coisas me entristecem, mas logo vejo o lado positivo em tudo e cuido de extrair da situação alguma coisinha engraçada. É o famoso “rir da própria desgraça”.
Não, meu senhor, não é um texto de autoelogio. Não, minha senhora, não estou me “amostrando”, nem me exibindo. Muito menos ficando doido. Estou somente a relatar – porque acredito piamente nisso – que o bom humor cura, ameniza, ensina, empurra pra frente, alivia, engrandece. O sorriso é o alimento da alma. É o que nos faz seguir adiante. Nada forçado. Assim, natural mesmo. Tudo bem que em certas ocasiões posso beirar a tabacudice. Mas ser tabacudo tem lá seus encantos.
Quando minha mãe iniciou um relacionamento após ficar viúva, bateu uma ciumeira danada. Coisa boba, de filho. Mas logo cuidei de brincar com as pessoas que, tentando tratar o assunto com seriedade, me diziam “você tem que entender, ela ficou viúva muito cedo”. Minha resposta era sempre ”você diz isso porque não estão comendo sua mãe, tão comendo é a minha”. Pronto! Logo todo mundo caía na risada e o papo sério se transformava em alto astral. Nem por isso deixei de sofrer os problemas que a vida me proporcionou. Mas o bom humor sempre me salvou de tudo e de todos.
Lembro que um dia após a morte de painho, estávamos trancados no silêncio profundo do quarto de mãe. Eu, ela e Edmar, meu irmão. Em meio àquelas horas de silêncio fúnebre e no seio daquela tristeza imensa, arrisquei dizer que “dessa vez Deus botou sem cuspe e lambuzado na areia” (perdoem a heresia). E meu irmão emendou com um “tomamos no oiticica”. Assim, caímos na gargalhada, e depois choramos. Choramos muito. Até hoje a gente chora. Mas nunca deixamos de intercalar esses choros com muitas risadas. Doido, eu!? Sou nada! Eu sou é bem humorado. Só isso. Mas peço a Deus que pegue leve porque não sei até onde aguento. Tenho medo de ficar sisudo e amargurado. Se isso um dia ocorrer, peço que me enterrem vivo porque não suportarei ficar por aqui. Aliás, se eu perder a capacidade de rir de tudo é porque, na verdade, já estarei morto.

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