Ninho de Palavras

Ninho de Palavras

Bruno Moury Fernandes

Pathfinders (por Bruno Moury Fernandes)

Passamos uma semana navegando em um veleiro-catamarã pelo Mar Egeu. Nós e mais três casais. Não meu senhor, não estou “me amostrando”. Não minha senhora, não estou me exibindo. Também pensava ser passeio para ricos. Mas posso garantir que é totalmente acessível. O simples acesso à informação pode ser o elemento que falta para você realizar uma viagem de rico, sendo pobre. Pesquise! Pois deu-se exatamente comigo, lá pras bandas das ilhas gregas. E gostei. Foi bom ser rico por apenas uma semana, apesar da pobreza não ter me abandonado em momento algum. Estava à bordo de um iate movido a vinhos, risadas, peixes e vômitos.

Pense num lugar bonito da gota serena! A água azul, mas de um azul que de tão azul nos abestalhava. As ilhas, de nomes bem complicados, uma mais linda que a outra. Paros, Folegandros, Milos, Mykonos, Kimolos. E pensei que para um galeguinho de água doce oriundo de Uruçu-Mirim aquele mar salgado, cristalino, tava de bom tamanho. Então levantei as mãos aos céus e agradeci: “Senhooooôr”.

Acho que não rezei direito. Não me pergunte por qual motivo, mas imaginava que praquelas bandas o mar era calmo. Mas como todo mar, o de lá também é bipolar. E em dois dias a embarcação balançou bastante. Eu estava doido por uma aventura. Algo que me desse elementos para uma narrativa próxima a Hemingway, em O velho e o Mar. O mais próximo que aconteceu de perrengue, porém, foi uma das cordas que sustentava o bote ter arrebentado. Nada que um marinheiro experiente não pudesse ajeitar em cinco minutos. Fiquei imaginando ele caindo ao mar e nós, que nunca havíamos pilotado um bicho daqueles, à deriva diante da morte trágica do tripulante mais importante. Então ficaríamos perdidos por uma semana e suprimentos começariam a findar. E seríamos resgatados por um navio italiano que nos avistaria por acaso. Mas voltei à realidade daquela cena entediante de um marinheiro grego arrumando o bote na mais absoluta tranquilidade, enquanto assobiava melodias indefinidas. E fiquei com aquela decepcionante sensação de que tudo correria na mais absoluta tranquilidade até o final da nossa jornada. Infelizmente, decepção para minha mente criativa.

As companhias foram ótimas. Tinha uma blogueira chic que ao final da odisseia estava toda descabelada, com o seu marido poliglota. Tinha um doutor que medicava remédio para enjoo e sua esposa que insistia em querer experimentar a comida de todos os outros. O nosso líder comandante e sua esposa fotógrafa. Além da minha esposa que não parava de falar. E bem alto. O engenheiro naval que nos guiava e sua mulher que cozinhava divinamente, ambos gregos. Uma semana convivendo com essas pessoas, dentro de um barco, navegando e trocando experiências humanas. Histórias e causos. Muitos causos.

Em meio à imensidão da noite, olhar aquele céu imenso e estrelado e ser aquele pontinho no meio da imensidão, fez-me lembrar que não somos nada. Mas navegar com amigos é sensacional. Então logo voltei à realidade e me senti foda novamente. Justamente por tê-los em minhas vidas. Thank’s pathfinders! Oremos todos novamente: “Senhor, multiplicai os euros, ó Pai, tal qual fizeste com os pães, para que lá possamos retornar um dia”.

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