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Rafael Dantas

Paulo Dalla Nora Macêdo: “Como uma empresa socialmente responsável apoia um candidato que nega o aquecimento global?”

O impacto da pandemia sobre o avanço da ética e responsabilidade social das empresas foi o tema da matéria de Capa da edição 178.4 da Revista Algomais. Para tratar dos incentivos controversos que algumas corporações oferecem à políticos que tem propostas que vão de encontro aos seus seus princípios, conversamos com o empreendedor em inovação Paulo Dalla Nora Macêdo. Ele é Co-Fundador da Associação Poder do Voto, Conselheiro do Projeto 72horas e membro do Política Viva.

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A ética nas empresas e o compromisso das corporações com a responsabilidade social é mais uma retórica ou podemos esperar de fato uma mudança nos próximos anos?

Essa é uma questão fruto de muito debate nos últimos anos. Eu acredito que é um processo em evolução: há cinco anos era muito mais retórica e menos ação que hoje. Assim como nos próximos cinco anos será mais ação e menos retórica que hoje. Claro que isso também depende muito do mercado que a empresa atua: atuar na Suécia é diferente de atuar no Brasil, assim como atuar no mercado de refrigerantes é diferente de atuar no mercado financeiro, por exemplo. Mas de forma geral a evolução é para mais ação e menos retórica. A grande questão é quando vai chegar um ponto que o negócio em si vai ser colocado em cheque, por mais que tenha medidas de mitigação da responsalidade social. Exemplo: um fabricante de refrigerantes, por mais que coloque ações de responsabilidade social e medidas de mitigação, vai ser sempre um contribuidor muito negativo para a sociedade, sempre. Enquanto um negócio de sucos naturais de bom padrão será sempre positivo, mesmo com poucas medidas de responsabilidade social em curso. O que quero dizer: minha dúvida é quanto tempo vamos evoluir para avaliarmos o impacto do negócio em si, e não das suas medidas de responsabilidade social, e decidir que alguns negócios não valem a pena independente das medidas de responsabilidade social.

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Nos Estados Unidos muitas empresas que financiaram Trump têm sinalizado arrependimento. Aqui no Brasil cases de grande repercussão, como a morte no Carrefour, parecem ter criado um sinal de alerta também na rede de supermercado. A repercussão negativa dos consumidores é o único caminho de pressão por novos comportamentos?

A reação dos consumidores é uma grande instrumento de pressão, mas não é e nem deve ser o único. A pressão dos grandes fundos de investimento também são importante, como estamos vendo no caso da Amazônia. Mas em última instância o mais efetivo mesmo, e que é imprescindível, é a regulação bem feita e bem aplicada pelo governo. Por isso fiz uma crítica em uma artigo na Exame às empresas que têm uma boa política de responsabilidade social, mas  apoiaram Trump, direta ou indiretamente. É contraditório e na verdade cancela toda a política de responsabilidade social, pois com esse apoio elas viabilizaram o fim de vários instrumentos de controle e regulação que custaram alguns trilhões de dólares em “política de responsabilidade social” ruim para a sociedade, enquanto os seus esforços internos, no máximo, atingem alguns bilhões. É um troca péssima para a sociedade.

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Que tipo de cuidados um empresário tem que tomar ao fazer doações para campanhas políticas? Em geral, o intuito é apoiar um candidato que contribua para a economia do Pais e aos negócios, mas o doador pode não levar em conta aspectos éticos. Hoje, no País, por exemplo, existem políticos que defendem a tortura e a ditadura.

O caminho vai ser o mesmo do debate do modelo de negócio, só está atrasado porque pouca gente está prestando atenção e as empresas não querem jogar muita luz sobre isso. Mas será a mesma lógica: uma empresa hoje não consegue defender que vai instalar energia gerada a carvão na sua fábrica porque é melhor para os negócios. Em algum tempo os empresários vão ter que responder a esse tipo de pergunta: como sua empresa se diz socialmente responsável se você apoia um candidato que nega o aquecimento global e é contra qualquer ação para combater as suas causas. Vai haver essa convergência e vamos descobrir muita coisa interessante, muita gente vai passar vexame perante os consumidores e não terá explicação.

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