Projeto propõe a preservação e difusão do acervo de Capiba

Dono de uma produção musical das mais profícuas e variadas, Lourenço da Fonseca Barbosa (Surubim, 1904 – Recife, 1997) o Capiba, se consagrou principalmente por suas composições no gênero que se tornaria o mais representativo da música urbana do Recife: o frevo. Mas, Capiba, não se restringiu apenas a esse estilo musical e em suas composições incursionou por valsas, maracatus, sambas, guarânias, modas, canções, foxtrotes, baiões, batuques, cirandas, dobrados, toadas, choros, além de integrar o movimento Armorial ao lado de maestros como, Guerra-Peixe, Jarbas Maciel, Clóvis Pereira e Cussy de Almeida, onde se destacam, dentre outras composições armoriais, sua Missa Armorial e a suíte Sem Lei nem Rei.

A versatilidade e a qualidade de suas composições podem ser percebidas a partir de declarações de músicos importantes como as do maestro José Xavier de Menezes ao afirmar que Capiba é o mais versátil de todos os compositores brasileiros pela imensa variedade de gêneros que sua obra abarca. No mesmo livro de Carlos Eduardo Carvalho dos Santos, Capiba, Sua Vida e Suas Canções, o próprio autor reconhece a importância do legado de Capiba não só para a música pernambucana, mas brasileira com um todo, sustentando ainda que sua obra não pode estar limitada a coleções particulares pois nela encontra-se o que “há de mais legítimo em termos de pernambucanidade” (SANTOS, 1984, p. 56). Santos, ainda atenta para a importância de que todo o vasto acervo de Capiba torne-se conhecido e público, enfatizando a criação de um museu ou memorial em sua cidade natal.

Capiba é, de fato, considerado um dos mais importantes e influentes compositores da música urbana em Pernambuco do século XX. Ele não só acompanhou como viveu, em boa parte, a história da formação e consolidação da música brasileira durante o século passado. Literalmente atravessou o século e, por uma questão de poucos anos – faleceu aos noventa e quatro – não o abarcou por completo. Suas cerca de 326 composições foram gravadas por músicos consagrados da história da música denominada “popular” brasileira como Agnaldo Rayol, Agostinho dos Santos, Alceu Valença, Almirante, Araci de Almeida, Caetano Veloso, Chico Buarque, Ciro Monteiro, Claudionor Germano, Dilermando Reis, Dircinha e Linda Batista, Elza Soares, Francisco Alves, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Guerra-Peixe, Heraldo do Monte, Jair Rodrigues, Jessé, João Bosco, Lia de Itamaracá, Luiz Gonzaga, Lula Cortes, Maria Bethânia, Maysa, Nélson Gonçalves, Ney Matogrosso, Originais do Samba, Paulinho da Viola, Raphael Rabello, Sílvio Caldas, Sivuca, Vanessa da Mata, Lenine, Zélia Duncan, Antônio Carlos Nóbrega, só pra citar alguns dos mais de 176 intérpretes de sua obra.

Suas primeiras lições musicais, desde muito criança, foram com seu pai, Severino Athanásio de Souza Barbosa, que era regente de banda. Possivelmente o fato de ocupar por trinta anos o cargo de escriturário no Banco do Brasil pode ter contribuído para construção e organização do seu acervo demonstrando que ele atribuía grande importância à atividade arquivista e que tinha plena consciência de que, a partir dessa construção, estaria elaborando, de algum modo, a forma como ele seria visto e compreendido pela posteridade.

Observa-se que o compositor constituiu ao longo do tempo uma significativa trajetória, documentada num numeroso e diversificado acervo onde se encontram os registros de sua produção sobre vários tipos de suporte, desde os primórdios de sua carreira até o fim de sua vida, compondo uma fonte documental imprescindível para o desenvolvimento de pesquisas acerca da sua obra, sua vida, seu tempo. (assim como para o entendimento da música urbana em Pernambuco).

Considerando a importância da sua trajetória artística e o seu aporte para a música pernambucana, bem como sua popularidade junto à classe artística e à população, Capiba representa uma referência inegável da nossa cultura. O acervo documental encontrado na casa de sua viúva, Zezita Barbosa, nos permite identificar seu valor histórico. Trata-se muito mais de conservar um documento, o mais autêntico possível, para uma futura atividade de restituição histórico-artística. Destaca-se, portanto a importância deste acervo enquanto bem cultural.

Técnicos da Fundarpe realizaram uma visita técnica ao local que resultou num arrolamento (listagem do acervo com numeração provisória). Este documento oferece um panorama geral das peças, quantificando e indicando ainda o estado de conservação de cada uma.

Imbuídos de tamanha responsabilidade cultural, a Página 21, produtora sediada em Recife-PE, fora convidada pelo então técnico do Minc na época (2017), Roberto Azoubel, para participar de uma reunião com os membros da Associação Cultural Capiba na cidade de Surubim, que tem como presidente de honra, Zezita Barbosa, única herdeira do acervo Capiba, para debater sobre a construção do Memorial Capiba na cidade de Surubim, porém, os produtores culturais, Amaro Filho e Claudia Lisboa, ficaram impactados com o estado de conservação do acervo, indicando que seria urgente uma intervenção no sentido da preservação daquele acervo antes mesmo da construção do Memorial, já que esta era uma obra de grande magnitude. De comum acordo, a Associação propôs a parceria por meio de seu diretor, proponente e curador musical do projeto, Lucas Guerra, com vasta expertise na música do compositor, Capiba.

O Capiba – Preservação e Difusão, priorizou inicialmente trabalhar o acervo de suas partituras originais mais desgastadas, a partir do inventário, conservação, acondicionamento, digitalização e criação de site visando a difusão pública desse precioso material, objetivando salvaguardar parte da obra do compositor, sensibilizar instituições públicas, privadas e público em geral quanto a necessidade da preservação e restauro do acervo musical, fotográfico, fonográfico e audiovisual do compositor, possibilitar o acesso a partituras (inclusive inéditas) de Capiba, difundir a obra musical do compositor, colaborar com a identidade cultural do povo brasileiro.

O site dará acesso gratuito às partituras através de um sistema de busca e possibilidade de download integral de cada obra musical – sendo esta a primeira compilação de suas obras.

Se somam as iniciativas de conservação e difusão do acervo de Capiba, além da parceria entre a Página 21 e a Associação Cultural Capiba, o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambucano – IAHGPE, que cedeu uma sala/laboratório onde serão realizados os trabalhos de conservação das partituras e a consultoria da Arte sobre arte – Conservação e Restauro. O projeto tem incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco.

Equipe:
Coordenação: Lucas Guerra/Página 21.
Produção e registro fotográfico: Amaro Filho.
Produção executiva: Claudia Lisboa.
Curadoria: Lucas Guerra.
Técnica em conservação e restauro: Luanda Andrade.
Consultoria em arte, conservação e restauração: Debora Mendes.

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