Ricardo Cavalcanti: “Meu pai tinha uma visão de negócio fenomenal”

Diretor-executivo do Portal de Gravatá conta que seu pai, Waldyr Cavalcanti, foi inovador ao implantar um hotel que também oferecia flats. Fala como esse projeto foi essencial na pandemia e como a gestão atual mantém o arrojo do patriarca ao expandir o empreendimento e investir na preservação ambiental.

O otorrinolaringologista Waldyr Cavalcanti tinha um talento especial tanto para atuar na medicina, quanto para realizar negócios inovadores. Esteve à frente de empreendimentos arrojados na área de saúde, mas também nutria interesse pelo setor hoteleiro. Com um grupo de amigos, ergueu o Hotel São Domingos, na Praça Maciel Pinheiro, nos tempos áureos do Centro do Recife, e chegou a ter celebridades como hóspedes, como Pelé.

Inovou num outro audacioso projeto ao concluir as obras inacabadas de um hotel, em Fazenda Nova, região onde as pessoas faziam tratamento nas suas águas termais. Foi visionário também ao perceber que, no meio do caminho para essa região do Agreste, havia Gravatá, um local mais perto do Recife e com clima tão agradável quanto Garanhuns que, nos anos 1960, recebia muitos turistas da capital. Mais uma vez, associou-se a amigos para construir o Portal de Gravatá que trazia a inovação de não ser apenas um hotel mas de oferecer, também, o que conhecemos hoje como flats.

Cláudia Santos conversou com o diretor-executivo do Portal de Gravatá, Ricardo Cavalcanti, filho do médico empreendedor, falecido em 1998. Ele fala do pioneirismo de seu pai, da evolução do empreendimento construído numa área de 24 hectares que, entre hotel e flats, conta com 700 suítes. Cavalcanti relata ainda como tem sido a gestão familiar do empreendimento e como o espírito inovador do patriarca se mantém: o projeto inicial foi expandido e foram incorporadas ações voltadas à preservação ambiental que proporcionaram a conquista de um prêmio nacional.

Como sua família passou a empreender no setor hoteleiro?

Essa história começou meio por acaso. Meu pai, Waldyr Cavalcanti, era otorrinolaringologista, muito dedicado, tinha sucesso na profissão, era reconhecido pela sociedade e pela classe médica, mas sempre foi apaixonado por hotelaria. Por volta de 1956/57, ele atendeu uma paciente que tinha ficado viúva de um português que estava construindo um hotel na Praça Maciel Pinheiro que, na época, era local nobre do Recife. Ela não sabia o que fazer com a construção. Meu pai resolveu assumir o hotel. Como era muito bem relacionado, convidou alguns amigos, se associaram, compraram o empreendimento e terminaram a obra.

Era o Hotel São Domingos que foi um sucesso. O restaurante era considerado, na época, a sala de visitas do Recife. Para você ter uma ideia, nós conhecemos Pelé que estava hospedado lá, acho que para participar do jogo do Santos contra o Náutico. Papai nos levou lá para conhecer o Pelé. Imagine!

Depois disso, por um outro acaso, ainda na década de 1950, ele teve outro hotel. Meu irmão tinha um problema de pele e um médico amigo dele, dermatologista, recomendou que ele passasse um ou dois meses de férias em Fazenda Nova, que era estação de águas termais. No caminho, papai viu uma obra abandonada por lá, descobriu que era um hotel do Dr. José Pessoa de Queiroz, que ele havia começado mas parou. Quando voltou ao Recife, ele terminou comprando o local com o mesmo grupo que tinha comprado o São Domingos.

Ele ficou com dois hotéis então?

Sim, e continuava atuando como médico. Ele era empreendedor, investidor, mas não tocava o dia a dia dos hotéis. Mas acompanhava tudo. Nessas idas e vindas durante anos para Fazenda Nova, ele passava por Gravatá, e dizia: “rapaz, vou botar um hotel aqui. A distância é um terço do caminho entre Recife e Garanhuns”. Essa época era o auge dos hotéis em Garanhuns. Começou a procurar terrenos, até que um dia achou, juntou 10 amigos e, em 1960, começou a obra de construção do hotel. Levantou as paredes, levantou dois blocos, já ia no acabamento, mas aí o dinheiro acabou e ninguém topou botar mais. Papai passou 17 anos comprando as ações dos outros, devagarinho, sem pressa. Quando ele comprou tudo, isso já era quase 1983, se não me engano, resolvemos tirar o financiamento junto ao Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) para concluir a obra e, em 1985, inauguramos o Portal de Gravatá.

Você e seus irmãos já tinham entrado nos negócios também?

Inicialmente eu e Roberto trabalhávamos na Telpe (empresa de telefonia) e íamos dividindo o tempo entre as duas ocupações. Consegui conciliar os dois trabalhos por 15 anos mas, depois, saí de vez e fiquei só com o hotel. E, desde o início, quando começou a obra Roberto se juntou e, com o tempo, os outros foram se chegando. Um deles, Waldyr Filho, que é médico, é sócio, mas nunca participou ativamente.

Ele se desfez dos outros hotéis?

Sim, ele vendeu a parte dele nos dois hotéis com o objetivo de comprar títulos dos outros sócios do Portal de Gravatá. Ele sempre foi um empreendedor, chegou a ter um hospital no Recife, na Praça Chora Menino. O resumo é que em 1985 inauguramos o Portal de Gravatá com o projeto amplo que é hoje, porque ele já estava na cabeça de papai, que havia estudado, viajado para pesquisar como fazer um hotel, com inovações do tipo que hoje se chama de flats mas, antigamente, chamava-se apart-hotel. Mas antes de começar, a gente simulou um pouco porque o pernambucano já tinha passado por alguns traumas (inclusive meu pai como pessoa física) de ter comprado empreendimentos que foram abandonados, que foram golpe. Aguardamos cinco anos para consolidar a marca Portal de Gravatá, como hotel. Quando tivéssemos com aceitação muito boa no mercado, lançaríamos os flats.

Em 1990 lançamos o primeiro bloco, eram 22 apartamentos com uma suíte, cozinha e uma sala, com 40 m². Na manhã do lançamento, vendemos 12 unidades. A gente convidou pessoas que já eram todos clientes do hotel, selecionados, inclusive grandes empresários. Em menos de um mês todos os flats foram vendidos. Muitas dessas famílias empresárias, ainda hoje, continuam conosco, como a família Tavares de Melo, que tem pelo menos 10 apartamentos. Em junho, o Portal de Gravatá completa 38 anos de operação, com duas a três gerações de famílias que são clientes. Hoje tem netos dos empreendedores frequentando o hotel com seus filhos.

Seus filhos e dos seus irmãos já entraram no negócio?

Meu filho e a filha de um irmão chegaram a trabalhar no hotel, mas saíram. O único que atua na área é o meu filho Augusto mas não do Portal de Gravatá. Construí há 15 anos, o restaurante Dom Ferreira Forneria, no Recife, e meu filho saiu do hotel e foi assumir o restaurante. Há cinco anos, construí um hotel também no Recife, o Fity Hotel, em Boa Viagem, e ele ficou dando suporte no operacional. Um ano depois, o Portal de Gravatá fez uma parceria com o sogro dele que ia construir um hotel do mesmo modo do Portal, com flats, em Muro Alto, que é o Samoa Resort e os Flats Polinésia.

Que tipo de parceria?

Por orientação da TGI, que nos fornece consultoria em gestão, fizemos um contrato de transferência de tecnologia hoteleira. Acompanhamos a terraplanagem do terreno dos flats e a implantação do hotel. E deu certo. Mas quando estava para inaugurar o Samoa, o sogro dele me procurou e me pediu autorização para convidar meu filho para fazer a gestão do empreendimento. Eu disse: “rapaz, ele já é bastante crescidinho (tinha uns 38 anos) para decidir o que fazer”. Então ele assumiu o hotel por lá e continuou me dando suporte no Fity. Nesse meio tempo, vendemos o restaurante. E, no Portal de Gravatá, começamos a sentir a demanda por um flat maior e na segunda etapa, foram lançados dois tipos de apartamentos com duas suítes no térreo e três, no pavimento superior. Quando esses 36 apartamentos foram vendidos, lançamos a terceira etapa com 84 unidades nesse mesmo padrão. Vendemos todos, partimos para a quarta e a quinta etapas com apartamentos maiores de quatro suítes, alguns com cinco. Os anteriores tinham 110 m², esses são de 160 m². Também vendemos tudo. Na última etapa, foram maiores ainda, porque partimos para fazer casas, com o mesmo serviço de flat, que inclui roupa de cama e banho, sabonete, papel higiênico, camareira, jardineiro, segurança.

O serviço está incluído no condomínio?

Isso, e esse é o pulo do gato! Tivemos uma experiência triste na pandemia, passamos dois ou três meses quase sem hóspedes. Mas temos 214 condôminos nos flats. Foi o que sustentou o negócio. Desses, tivemos mais de 50 famílias morando aqui nesse período. Ao invés de estarem trancados em quatro paredes de um apartamento no Recife, eles vinham com a família para cá, com internet e toda mordomia. As crianças tinham espaço à vontade para brincar, com muito verde. Essa ideia de papai de implantar flats, com essa questão do condomínio, que representa um bom percentual da receita, em torno de 30% do faturamento, viabiliza um conforto no hotel que tem muita sazonalidade.

Vocês já conseguiram o retorno da redução do movimento da pandemia?

Já, inclusive até superando o faturamento do pré-pandemia. A partir do final de 2021, sentíamos o retorno da demanda, apesar de haver ainda algumas limitações da legislação, mas já percebemos uma retomada muito forte. As pessoas estavam loucas para saírem de casa, não aguentavam mais o isolamento. Mas a retomada mesmo foi ano passado. Nós tivemos um crescimento porque houve até uma recuperação da diária média.

Já com relação ao turismo de negócio, houve uma queda muito grande e, mesmo depois da pandemia, não voltou na mesma situação que era antes. Mas está voltando, principalmente do final de 2022 para o início de 2023 a gente tem sentido que as reuniões que demandam o inter-relacionamento — como das equipes de vendas por exemplo — estão voltando com muita força. Tivemos um evento grande para 600 pessoas da Mitsubishi de São Paulo. Eles fizeram ano passado e repetiram nesse final de semana.

Leia a entrevista completa na edição 216 da Algomais: assine.algomais.com

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