“Segurança, acessibilidade e diversão são as palavras-chave de uma cidade amiga das crianças”

No mês das crianças, a Algomais está discutindo o que é uma cidade amigável para as crianças. Aída Pontes, consultora do projeto Urban95 do Instituto de Arquitetos do Brasil, uma das entrevistadas da reportagem Uma cidade amiga da garotada, publicada na semana passada, do repórter Rafael Dantas, explica os elementos que tornam o espaço público mais convidativo para o público infantil. Dominada por carros, sem cuidado urbano e estético, além de desagradáveis para os adultos, as metrópoles se transformaram em lugares bem repulsivos para os pequenos cidadãos.

Quais as características de uma cidade amigável para as crianças?
Três palavras chave são importantes quando se pensa em uma cidade amigável para as crianças: segurança, acessibilidade e diversão. Para um ambiente urbano ser pensado para as crianças, ele também é pensado nas pessoas que as acompanham ou são responsáveis pelo seu cuidado. Logo, uma cidade amigável para as crianças necessariamente é uma cidade amigável para todas as pessoas.
Para se projetar uma cidade para crianças, é preciso enxergar o espaço urbano a partir dos 95 centímetros de altura, que é a altura média de uma criança de três anos. É projetar espaços que sejam seguros, saudáveis, confortáveis, adequados, inspiradores e criativos. Mais especificamente, garantir a segurança através de um desenho urbano que atrai pessoas a usarem o espaço público e coloca os veículos motorizados no seu lugar, desincentivando o uso de veículos motorizados e priorizando as calçadas e espaços cicláveis. Inserir arborização e paisagismo de forma a garantir a permanência confortável nos espaços públicos, tanto nas ruas quanto em parques e praças. Assegurar a plena acessibilidade na circulação, com um ambiente livre de barreiras arquitetônicas, rampas e travessias adequadas. Tudo isso em um ambiente divertido, com espaços para brincadeiras e aprendizagem.

“Desenhar ou redesenhar as ruas urbanas através da perspectiva das crianças nos mostra por que é necessário elevar o padrão de segurança, acessibilidade e diversão. O ambiente pode ter efeitos de longo prazo sobre a saúde das crianças, em seu desenvolvimento físico e cognitivo e no bem-estar social. Quando as lideranças da cidade investem em um projeto de ruas que seja bom para as crianças, criam ruas que atendem melhor a todas as pessoas.”

Quais os principais pontos críticos das metrópoles brasileiras atualmente em relação às crianças?
O planejamento voltado à primeira infância deve pertencer a todos os setores da sociedade, especialmente quando se pensa em instituições governamentais. Apesar da importância do tema, as políticas públicas no Brasil ainda estão engatinhando no entendimento que focar na primeira infância é central na construção de uma sociedade com um futuro mais promissor, e que traz benefícios para toda a sociedade.
Dados da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, no site Primeira Infância Primeiro, mostram que falta acesso a creches a ⅓ das crianças entre 2 e 3 anos e que apenas 26% das crianças que estão no quartil mais pobre da população estão em creches.
É preciso reorientar as políticas públicas para que haja investimento na orientação das cidades pensadas na primeira infância, invertendo a lógica que vem sendo dada nas cidades: no lugar de priorização dos transportes motorizados, priorizar uma cidade na escala humana, onde você tem a oportunidade de ter a maioria das suas necessidades cotidianas de uma cidade a uma distância caminhável – a exemplo da cidade de 15 minutos.
Existem diversos guias e orientações para que os tomadores de decisão, gestores e demais profissionais estejam habilitados a lidar com a linguagem do desenvolvimento infantil. É preciso que a informação chegue nesse grupo e que eles sejam sensibilizados a garantir espaços urbanos mais completos, onde as famílias possam prosperar de modo saudável.

Como uma cidade pensada para as crianças contribui para o desenvolvimento delas?
Fácil. Uma cidade acolhedora é aquela que forma bons cidadãos. Garantir um bom alicerce no desenvolvimento de uma criança é imprescindível e esse crescimento saudável passa por cuidados pessoais, como acesso a médicos e nutrição adequada, mas também cidades com espaços seguros e saudáveis, contando com planejamento e design urbanos que incorporam as necessidades de bebês, crianças na primeira infância e seus cuidadores.
Crianças nos primeiros anos de vida e, principalmente, bebês e mulheres grávidas fazem parte de um grupo que são mais suscetíveis a impactos negativos causados pelo sistema urbano, impactos esses que podem ter efeito para o restante de suas vidas. Segundo o guia Urban 95:
“O cérebro de uma criança cria mais de um milhão de novas conexões neurais por segundo. As primeiras experiências de vida, particularmente entre o nascimento e os três anos de idade, influenciam quais conexões serão reforçadas, estabelecendo uma base sólida para futuras funções cerebrais de nível superior, e quais conexões serão limitadas, deixando uma criança sujeita a ficar para trás.”
Para criar uma base sólida como um futuro adulto, é importante estimular o desenvolvimento cerebral saudável ainda nos primeiros anos de vida, proporcionando ferramentas necessárias para conquistas educacionais, produtividade econômica, cidadania responsável, saúde ao longo da vida, comunidades fortes e parentalidade bem-sucedida para as futuras gerações. A provisão de um ambiente urbano adequado, é o cenário que as crianças necessitam para se desenvolver de forma saudável e se tornarem adultos saudáveis.

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