Tenda Literária da Cepe em Triunfo discute espaços das mulheres no audiovisual

Em seu quarto dia de programação, a Tenda Literária da Cepe Editora, que marca presença no 12º Festival de Cinema de Triunfo, discutiu a representatividade feminina no mercado do audiovisual. O bate-papo contou com a participação da cineasta Juliana Lima, realizadora dos curtas Lá no Alto, Mayra está bem e Psiu!, e Nara Aragão, sócia da Carnaval Filmes, produtora executiva de longas como Viajo porque preciso, volto porque te amo (Marcelo Gomes e Karim Aïnou), Era uma vez eu, Verônica (Marcelo Gomes) e Tatuagem (Hilton Lacerda).

A falta de equidade de gênero no audiovisual mobiliza intensos debates devido às discrepâncias que ainda acolhe. Pesquisa da Agência Nacional do Cinema (Ancine), divulgada no ano passado, reforça o que está na base dessa discussão: a indústria cinematrográfica é um espaço masculino e branco.

Tendo como base números de 2016, o estudo indicou que 75,4% dos longas lançados no país foram dirigidos por homens enquanto o percentual de mulheres diretoras foi de 19,7% – sem qualquer registro de mulheres negras. O desequilíbrio se observa por toda a cadeia, como na roteirização (67% contra 21%) e fotografia (88% contra 8%).

Atuando na produção executiva (nicho onde as desigualdades são menos profundas – 46% contra 41% segundo o estudo), Nara Aragão observa mudanças no funcionamento dos sets em consequência dessa ocupação feminina nos espaços de tomadas de decisões. “Vejo menos tolerância ao assédio, por exemplo. No momento atual, e falo isso enquanto produtora, assumimos uma atitude fundamental de refletir junto à direção, principalmente quando masculina, sobre como está sendo o uso dos corpos femininos diante das câmeras. Ao mesmo tempo, temos grande preocupação na escolha das equipes que atuam por trás das câmeras. Há uma grande carência de profissionais femininas em determinadas funções. Ao atentarmos para isso, reforçando o cuidado nas escolhas, contribuímos para a formação das mulheres e para sua representatividade no setor”.

Juliana Lima, que busca um recorte social e racial em sua obra autoral, avaliou a questão na perspectiva de cineasta e negra. “Quando lancei meu primeiro filme(Psiu!), em 2014, não imaginava que encontraria tanta dificuldade pelo fato de ser negra. Não existiam diretoras negras nos sets, não havia a bandeira do cinema negro. Nós temos uma longa luta porque não temos essa representatividade em longas-metragens. Precisamos que as mulheres negras estejam escrevendo e dirigindo cinema não só para contarmos nossas histórias, mas também porque são elas, em funções de lideranças, que escolhem quem atuarão nos filmes”.

Juliana iniciou sua militância política a partir de 2012 na tentativa de contribuir para a formulação de políticas públicas afirmativas. “Realizamos uma pesquisa para saber quem acessava os editais do Funcultura Audiovisual (R$ 22 milhões) e identificamos que esse dinheiro estava concentrado nas mãos de diretores brancos. Depois de muita luta conseguimos reverter um pouco isso. Entre 2016\2017 tivemos 30% dos projetos destinados para diretores (as) e roteiristas negros (as) e, no ano seguinte, essa fatia subiu para 42%. Acho que conseguimos mudar um pouco essa cultura em Pernambuco”.

A programação da Tenda Literária da Cepe Editora segue até o próximo sábado, quando se encerrará o Festival de Cinema de Triunfo.

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