Tratamentos avançados sinalizam perspectivas positivas no combate ao câncer

Estimativas divulgadas pelo INCA para o triênio 2023-2025 indicam que tumores de pele, mama, próstata e pulmão figuram entre os mais incidentes no país; Terapias avançadas, baseadas no conceito de oncologia de precisão, são as grandes aliadas da medicina para assegurar qualidade de vida e redução das taxas de letalidade

O próximo 4 de fevereiro marca o Dia Mundial do Câncer, uma iniciativa global organizada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem por objetivo aumentar a conscientização e a educação mundial sobre a doença. Dados globais mostram que em 2040 o número de novos casos de pessoas diagnosticadas com tumores malignos chegará a 28,4 milhões, tornando o câncer líder do ranking das doenças que mais afetam a população mundial.

Considerando a realidade brasileira, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 704 mil novos diagnósticos de cânceres a cada ano do triênio de 2023 a 2025 – um aumento de pouco mais de 10% em relação às taxas de incidência estimadas para 2022 pela mesma entidade, indicando 625 mil novos casos até o final deste ano. A estimativa aponta ainda para cerca de 2 milhões de casos de tumores malignos para o período.

Para Carlos Gil, diretor médico do Grupo Oncoclínicas e Presidente do Instituto Oncoclínicas, apesar dessa progressão nos índices globais de câncer, o tratamento de diferentes tipos de tumores, com a chegada de drogas inovadoras e condutas direcionadas para as especificidades de cada caso, não só têm mostrado melhora nas chances de sobrevivência, mas também impactado de forma positiva os pacientes em todas as etapas da jornada de cuidado. “A ciência tem evoluído a passos largos, sinalizando um presente e futuro com boas perspectivas. Alternativas de terapias cada vez mais personalizadas e individualizadas trazem benefícios efetivos à qualidade de vida do paciente, com aumento nos índices de cura”, aponta.

Entre os “divisores de águas” na luta contra o câncer, há exemplos diversos já em aplicação. “Temos novidades que têm se mostrado bem sucedidas nos meio médico e científico, como a imunoterapia e o tratamento com anticorpos monoclonais. O chamado CAR-T também vem conquistando grande espaço em casos de tumores hematológicos, um avanço que se mostra animador quando nos referimos a em especial a leucemias e linfomas”, completa.

Carlos Gil enfatiza ainda que a produção de conhecimento na área da oncologia no Brasil e no mundo passa por uma fase de crescimento incomparável. Mas, mesmo sinalizando os próximos anos como positivos e de chegada de avanços, lembra que há desafios no tocante às aprovações necessárias para adoção dos testes moleculares e chegada de novas medicações, como também na garantia do acesso igualitário à toda sociedade. Apesar da ressalva, o médico garante que há motivos para comemorar e indica que a informação é ferramenta essencial para assegurar o protagonismo a todos, pacientes ou não, em um momento de mudanças nos paradigmas da doença.

Análise genômica é palavra de ordem

O avanço dos estudos envolvendo o genoma humano, código genético presente nas células e de forma única em cada indivíduo, fez com que nos últimos anos a análise dos genes se tornasse parte indispensável das áreas da medicina. Dentro delas, a oncologia vem se beneficiando tanto na precisão diagnóstica, quanto na eficácia do tratamento – ambas proporcionadas por essas avaliações.

Segundo Carlos Gil, exames que ajudam a detectar o perfil molecular de tumores como de pulmão, intestino e próstata têm se mostrado importantes aliados no controle da condição. “Esse tipo de teste proporciona maior precisão e melhor qualidade no diagnóstico, o que é fundamental para uma definição precisa do tratamento. Isso porque, apenas conhecendo com precisão as células malignas o profissional de saúde conseguirá especificar o melhor tratamento para aquele caso”, comenta.

Neste cenário de amplos avanços científicos, ele menciona, ainda, a patologia digital, por unir inteligência artificial, big data e conhecimento médico altamente especializado para gerar análises ainda mais precisas para um diagnóstico assertivo. “A transformação digital e implementação de ferramentas de inteligência computacional vêm se mostrando altamente efetivas na redução do tempo de detecção de casos e indicação de melhores linhas de cuidado a serem adotadas para cada paciente”, destaca.

Individualização e imunoterapia

O conhecimento cada vez maior de como as células cancerígenas funcionam em cada tipo de organismo foi o avanço necessário para implementar outros tratamentos que têm revolucionado a oncologia. O principal deles é a imunoterapia, citada no Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2018.

Esse tipo de tratamento biológico tem o objetivo de potencializar o sistema imunológico do indivíduo para combater o câncer. “A prática terapêutica vem apresentando resultados muito significativos para diversos tumores, especialmente mama, pulmão, colo de útero, endométrio, melanoma e cânceres de cabeça e pescoço”, diz o oncologista.

As terapias-alvo também se mostram cada vez mais eficazes e são boa notícia para os próximos anos. “Os testes com esses medicamentos têm mostrado resultados excelentes, principalmente para tumores de mama e de ovário”, frisa.

O tratamento é feito com substâncias que foram desenvolvidas para identificar e atacar características específicas das células cancerígenas, bloqueando o crescimento do tumor e permitindo que o organismo do paciente recupere as condições para derrotá-lo.

Anticorpos monoclonais: menos toxicidade e maior efetividade

As terapias conjugadas de quimioterapia com anticorpos, também vem ganhando considerável espaço na oncologia. Nesses casos, a combinação leva a quimioterapia diretamente para a célula cancerígena, focando o tratamento apenas nela, o que diminui a toxicidade para o organismo, ao mesmo tempo que aumenta a efetividade do tratamento.

É importante, contudo, frisar que para alcançar bons resultados com essas terapias, um fator é primordial: conhecer profundamente o tipo de câncer e as características de cada paciente e cada célula, para atingir a doença com mais precisão.

“É preciso estar equipado com tecnologia que identifique as alterações genéticas com detalhes. Não são muitos locais que oferecem esse tipo de tratamento”, afirma Carlos Gil.

Alternativa de sucesso para tumores sanguíneos

Uma nova opção de tratamento para os tipos de câncer que afetam o sangue, como linfoma e leucemia, vem sendo estudada: o CAR-T, uma terapia genética que usa células do próprio paciente modificadas em laboratório para combater o câncer. A estratégia consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.

O CAR-T é uma combinação de várias tecnologias, envolvendo a terapia gênica, imunoterapia e terapia celular. Nos Estados Unidos e na Europa já existem produtos comercialmente disponíveis, enquanto no Brasil já há também medicamentos com autorização de registro e aplicação aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O alto custo para a produção preocupa, mas o avanço é inegável: o tratamento conquistou popularidade no Brasil na segunda metade de 2019, quando um paciente com linfoma não Hodgkins avançado do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo, foi considerado o primeiro paciente da América Latina a alcançar a remissão da doença com uso das células CAR-T.

Para o diretor médico do Grupo Oncoclínicas, a estratégia usada para o tratamento abre frentes para uso não só em tumores hematológicos, como linfomas e leucemia, podendo possivelmente ser usada para qualquer tipo de câncer. “A metodologia já conta com pesquisas voltadas a protocolos para diversos tipos de cânceres que afetam as células sanguíneas e há expectativas de que, em um futuro próximo, seja possível o uso do CAR-T em tumores sólidos, como em casos de câncer no pâncreas que já está em discussão”.

Panorama do Câncer

Entre os tipos de tumor mais comuns no Brasil, o câncer de pele do tipo não melanoma continua na liderança. No recorte por gênero, a neoplasia de mama entre as mulheres e a de próstata nos homens permanecem como pontos de atenção, figurando no topo da lista quando observada essa divisão da população. Além disso, outros tipos de câncer com alta incidência, como o de pulmão e intestino, ambos podem estar ligados a hábitos de vida pouco saudáveis, como dieta rica em gordura e tabagismo, apresentam elevadas taxas. Nas pesquisas deste ano, o estudo levou em conta mais de 21 tipos de cânceres, considerando, pela primeira vez, também os tumores de pâncreas e fígado.

Apesar do cenário exigir atenção da população e dos órgãos de saúde, o especialista reforça que o acompanhamento médico periódico e realização de exames de rotina para detecção precoce do câncer, aliados às novas frentes avançadas de tratamento da doença, são a chave para que os índices de incidência não levem ao também aumento das taxas de letalidade. “Precisamos estimular a conscientização da população em geral sobre a detecção precoce de tumores. Quanto mais cedo descoberta a doença, melhor o prognóstico, com resultados positivos às terapias e maiores chances de cura”, finaliza Carlos Gil Ferreira.

“A conscientização sobre o histórico familiar e a busca de um estilo de vida mais saudável são importantes para evitar essa doença. Você precisa saber quais doenças acometeram seus bisavós e avós para estar atento a um diagnóstico mais precoce”, explica o oncologista Felipe Marinho, da Multihemo Oncoclínicas.

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