“Vamos impedir que ocorra um prejuízo histórico ao Nordeste”

O presidente da Fundaj, Antônio Campos, se movimentou nos últimos meses para dialogar com parlamentares e evitar a aprovação do PL 1427/21, que propõe uma mudança legislativa que traria um grande risco ao acervo da instituição. A proposição do deputado Christino Áureo defendia que qualquer município, por meio de autoridade competente, poderia requerer algum ítem do acervo da Fundaj que tivesse alguma relação com a sua origem.

As ações em defesa do acervo da fundação foram o tema da última capa da Revista Algomais. Publicamos hoje a íntegra da entrevista com Antônio Campos.

Quais os prejuízos que a Fundaj terá caso a PL1427/21 seja aprovada?

É preciso fazer um registro histórico. Em 1977, o Museu do Açúcar foi transferido para o então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS), atual Fundação Joaquim Nabuco. Então todo o seu patrimônio passou a fazer parte do IJNPS. Em 1979, a Fundaj foi instituída a partir da transformação do IJNPS e, na ocasião, houve a fusão do Museu de Antropologia, do Museu de Arte Popular e do Museu do Açúcar, que juntos formaram o Museu do Homem do Nordeste. Então é necessário deixar claro que caminhamos para os 44 anos cuidando muito bem de todo esse acervo e legado histórico.

Há décadas, por meio do Museu do Homem do Nordeste, a Fundação é responsável por salvaguardar uma parte relevante da história do Nordeste e do Brasil. É uma instituição reconhecida por seu trabalho de preservação histórica e artística e por, a partir dessa preservação, dar segmento à nossa história. Temos a confiança de que o projeto não será aprovado, por inconsistência técnica do Projeto que pretende alterar uma Lei já revogada pela que transformou o Instituto em Fundação, ou pelo mérito do Projeto que é equivocado.

Qual foi a motivação do deputado Christino Áureo ao lançar esse projeto de lei? 

Estive com o deputado Christino Áureo em seu gabinete, em Brasília. Mostrou-se aberto ao diálogo. Prometeu enviar um representante para conhecer a Fundação e todo o seu acervo. O Deputado foi secretário de agricultura e essa demanda surgiu de uma base eleitoral sua ligada ao setor sucoalcoléiro que também existe no Rio de Janeiro. Importante que venha e veja como o acervo é bem preservado.

Essa é uma agenda do Governo Federal ou é algo mais segmentado do deputado?

Definitivamente, o objetivo do projeto de lei não é uma agenda do Governo Federal. Muito pelo contrário. A Fundaj faz parte do Governo Federal. Recebemos aqui ministros da Cidadania, do Turismo. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pasta da qual a Fundaj faz parte, é um grande aliado nosso no desenvolvimento de novos projetos. Esteve aqui recentemente, em agosto passado, reabrindo o Museu do Homem do Nordeste. Temos no Governo Federal como incentivador na continuidade do trabalho de qualidade que fazemos na defesa do legado histórico do Nordeste e do Brasil.

Quais as ações que o Sr tem feito para proteger o acervo da Fundaj desse projeto de lei? Quais as possíveis soluções que a Fundaj tem planejado para evitar esse problema?

Como já citado, estive em Brasília no dia 21 de setembro e me reuni com o autor do projeto, o deputado Christino Áureo, e com o relator, o deputado pernambucano Tadeu Alencar. Foi uma conversa importante, bastante produtiva, onde pude fazer uma defesa elaborada do trabalho da Fundaj. Tadeu Alencar já vem se pronunciando sobre o assunto e afirmando que, enquanto relator, vai se posicionar pela rejeição do projeto. Ele compreende que se trata de um retrocesso e um verdadeiro ataque à memória do Nordeste e do Brasil. Assim que retornei de Brasília, realizamos na Fundação uma reunião do nosso Conselho Diretor, reafirmando a nossa posição por meio da aprovação de uma nota técnica contra o Projeto de Lei 1427/21. Enviamos nota técnica sobre o Projeto de Lei a todos os deputados da Comissão de Cultura do Congresso.

O risco do projeto de lei ser aprovado é alto ou o Sr. acredita que a articulação em curso conseguirá evitar?

Diante de toda a mobilização que está havendo, estou extremamente confiante que vamos impedir que ocorra esse prejuízo histórico ao Nordeste. É preciso ressaltar que esse projeto não geraria apenas um prejuízo à Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu do Homem do Nordeste, mas sim aos registros históricos de uma região e, claro, do Brasil. A história nordestina alicerça a história brasileira, desmontar o acervo da Fundaj, mesmo que seja com a retirada de uma única peça, mas fere um princípio e significa um ato no sentido de desmontar a história de um País. Portanto, tenho convicção de que esse retrocesso não terá continuidade.

Como a Fundaj trabalhou nesse período de pandemia? E quais os planos ou ações de retomada neste semestre?

A Fundaj respeitou todos os protocolos sanitários estabelecidos e, sempre dentro das regras vigentes em cada momento, atuou com muito foco para seguir sua missão de disseminação de conhecimentos. Desde o início da pandemia, por meio de atividades realizadas remotamente, demos continuidade aos nossos projetos, com adaptações, claro, mas sem qualquer prejuízo à sociedade. A partir de agosto, seguindo o cronograma do Poder Público, começamos a reabertura dos nossos equipamentos, entre eles a Pinacoteca, o Museu do Homem do Nordeste e a Cinemateca Pernambucana, devolvendo à população a possibilidade de voltar a usufruir da Fundaj presencialmente. Com o avanço da vacinação e, consequentemente, dos protocolos sanitários, creio que estaremos cada vez mais perto da realidade pós-pandemia, mas, claro, com a manutenção de todos os cuidados aos nossos servidores, prestadores de serviço, estagiários e ao nosso público.

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