“Todo mundo sente uma empatia quando olha as fotos de Wilson Carneiro da Cunha”

Bia Lima, arte-educadora e neta do célebre fotógrafo, autor de imagens icônicas do Recife, realiza pesquisa sobre o trabalho do avô para estudar sua estética, além de digitalizar e abrir o seu acervo ao público. Ela procura pessoas que tenham fotografias dele guardadas em casa.

A queles que costumam se interessar por fotos antigas do Recife, certamente já se depararam com uma fotografia de Wilson Carneiro da Cunha. Algumas são icônicas como a que mostra a demolição da Igreja dos Martírios. Os que têm acima de 60 anos devem guardar na memória o Kiosque do Wilson, na Rua Nova, uma maneira criativa que ele – por sugestão da mulher Conceição – resolveu implantar para vender seus registros. A rua fervilhava no Recife dos anos dourados, quando o Centro da cidade vivia um glamour, com novas avenidas, luzes e letreiros. Era “Hollywood pura”, como o fotógrafo costumava dizer. Suas fotos são como crônicas imagéticas da capital pernambucana e mostraram ao longo dos anos as transformações urbanas, inclusive as que apagaram o brilho glamouroso do Centro.

Agora, sua neta, Bia Lima, pesquisa o trabalho do avô fotógrafo e mostra um outro lado dos seus registros, a partir do acervo de fotos da família. Nesta conversa com Cláudia Santos, ela fala de hábitos inusitados de Wilson como estar sempre com a câmera fotográfica, até quando ia para a padaria. Sua paixão por preservar a memória do Centro nãos se resumia aos cliques: ele colecionava objetos das demolições do Centro, como placas de rua, altares de igreja e até postes. Formada em artes visuais e licenciatura em artes, Bia herdou do avô o gosto pela fotografia, é professora em escolas e está pedindo às pessoas que tenham fotos de Wilson para entrarem em contato com ela de modo a contribuir com a pesquisa.

Quem foi Wilson Carneiro da Cunha e como ele virou fotógrafo?

Ele foi fotógrafo a partir da década de 1940, mas só ficou conhecido e começou a ganhar dinheiro com o ofício na década de 1950, quando abriu o Kiosque do Wilson. Como ele viroufotógrafo? Essa pergunta também fiz para minha tia Olegária. Ela disse que ele conhecia um amigo que tinha uma câmera e foi quem apresentou a fotografia para ele. Meu avô começou a fotografar, mas de uma forma muito intuitiva. Ao longo do tempo, com a prática, foi pegando experiência. Logo ficou bem conhecido porque o Kiosque ficava na Rua Nova, um lugar muito frequentado. Ele era uma pessoa muito extrovertida, com um temperamento bem comunicador. Ele se casou com minha avó Conceição, logo tiveram minha tia Olegária e mais quatro filhos, muitos seguiram a carreira na área das artes, acho que por incentivo do pai.

Ele também trabalhou para jornais. Ele era freelancer ou contratado?

Eu sei que ele trabalhou para muitos jornais. Mas na época não se creditava as fotos, por isso muitas fotografias dele publicadas não tiveram crédito. Ele também era fotógrafo da polícia e tinha vários crachás que lhe davam acesso a eventos, como quando o presidente Juscelino Kubitschek esteve aqui.

Como surgiu a ideia do Kiosque?

Minha avó era fascinada pela cultura europeia e meu avô pela norte-americana. Eles eram colecionadores de muitos objetos e minha avó colecionava muitas revistas e, numa delas, viu uns quiosques de revistas que existiam na França. Então, sugeriu a meu avô instalar um quiosque desses no Recife, mas para exibir as fotos dele. Colocaram o nome com K porque é a forma como se escreve em francês.
Ele também tinha um estúdio num prédio na rua Dias Cardoso, mas montou o Kiosque para que o público tivesse acesso ao seu trabalho de forma mais espontânea e também para tornar a fotografia mais acessível a um número mais ampliado de pessoas. Na época, nem todos tinham condições de tirar uma foto. Ele comentou que, antigamente, não era permitido às mulheres entrarem sozinhas em qualquer prédio. Mas, ao passar na rua, elas poderiam parar e olhar as fotos no Kiosque.

Como você classificaria as fotos de Wilson?

Ele fotografava temas muitos díspares: das ruas do Recife, passando por famosos, casamentos, a população miserável… Escrevi esse projeto porque tomei conhecimento do acervo dele que está na Fundação Joaquim Nabuco e que tem um recorte bem específico de fotos mais históricas, que falam muito sobre o urbanismo do Recife, as transformações da cidade, as pessoas em situação de rua. Como eu tinha também um acervo privado, observei que havia um outro recorte mais familiar de Wilson, que é o do pai, do marido, mas que também se caracterizava por um registro inusitado, dos flagrantes, do instantâneo como ele chamava.

Ele fotogravava cenas cotidianas, o filho chegando da escola, por exemplo. Tinha um olhar muito curioso para essas coisas inusitadas do dia a dia, mas também tinha uma maneira de fotografar de forma ensaiada, ao colocar uma narrativa por trás da foto ou criar um cenário. Ou seja, ele tinha essa visão ensaística e também gostava do inusitado e do flagrante. Mas era realmente uma pessoa que gostava de registrar. Até quando ia para padaria, estava sempre com a câmera no pescoço, não a tirava por nada, era como se fosse o terceiro braço dele.

Leia a entrevista completa na edição 198.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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